O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, consegue o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel.
Ariano Suassuna (born João Pessoa, 1927) is a Brazilian playwright and author. He is in the "Movemento Amorial". He founded the Student Theater at Federal University of Pernambuco. Four of his plays have been filmed and he is considered one of Brazil's greatest living playwrights. He is also an important regional writer doing various novels set in the Northeast of Brazil. He received an honorary doctorate at a ceremony performed at a circus. He is the author of, among other works, the "Auto da Compadecida" and "A Pedra do Reino". He is a staunch defender of the culture of the Northeast, and his works deal with the popular culture of the Northeast.
Acompanhei a leitura com o audiobook, que agregou muito à experiência de leitura. A narração e os efeitos sonoros fizeram toda a diferença. Muito bom!!!
"Jesus para Nossa Senhora: -Se a Senhora continuar a interceder desse jeito por todos, o Inferno vai terminar feito repartição pública; que existe mas não funciona."
Uma sarcástica peça de teatro, com personagens donas de ideais e vernáculo de acordo com o mais apurado sentido de humor. Valeu-me umas boas gargalhadas. 😄
A experiência que se tem lendo o livro é sensacional e muito diferente da que se tem assistindo ao filme - que, embora eu tenha conhecido antes, não atrapalhou em nada a minha leitura. Talvez porque este último não carrega tão fortemente o nome de Ariano Suassuna, mas a peça escrita dá uma compreensão muito maior do que é este universo literário tão rico e bonito, do qual se percebe muito claramente o resgate (muito necessário, por sinal) das tradições culturais de um nordeste que, hoje, anda meio esquecido. Juntando genialmente os aspectos crítico e divertido, deve-se tomar Ariano como um exemplo, que soube unir engajamento e popularidade numa obra leve, mas cujo peso se nota muitas vezes e dá uns bons cutucões na nossa comodidade.
O delicioso livro-peça de Ariano Suassuna se passa no sertão da Paraíba.
Escrito em 1955 , Suassuna explora as tradicionais histórias contadas no sertão nordestino, histórias da literatura de cordel , histórias contadas de boca a boca, bem como também as histórias contadas pela cultura ocidental , e modificando a seu gosto os vários personagens , diferenciando os dos personagens originais a seu bel prazer, faz um livro muito engraçado e divertido.
Basicamente conta a história de dois grandes amigos, João Grilo e Chicó, sendo o primeiro muito esperto e o segundo medroso e ingênuo. Por causa das constantes mentiras, eles
se metem nas maiores confusões, envolvendo padre, sacristão, cangaceiros, céu, inferno, diabo, um Jesus negro, um padeiro, Deus, e a Imaculada.
As coisas mais inimagináveis acontecem como, bexigas de sangue sendo usadas para simular uma morte, gato que defeca dinheiro, e cachorro sendo enterrado com direito a oração em latim.
Ah esse cachorro é a raíz de todo mal…os interesses pessoais também.
Ah esqueci de contar que o narrador é um palhaço...
Gostei demais !! Um livro que faz uma crítica a religiosidade brasileira e resgata as raízes da cultura Brasileira.
Já assisti o filme inúmeras vezes, mas ainda me faltava ler a peça. E olha, não é a toa que é um dos melhores filmes nacionais já feitos e um dos meus favoritos da vida.
One of Brazilian most classical plays, Auto da Compadecida can offer to anyone a delightful reading, in which is possible to know a little bit more about Northeast Brazilian culture.
Through its 200 pages, Ariano Suassuna tells us the story of two conmen, João Grilo and Chicó. Both do that without any evil in their actions; it's just a way of life found by them in this dry region flooded with poverty. Despite its simple language, Suassuna criticises several social categories, like the clergy, the bourgeoisie and the local militia.
A pleasant which presents in a joyful way human misery as it is, plain and simple.
Depois de ver o filme pelo menos umas cinco vezes, finalmente decidi conhecer o texto original de Ariano Suassuna. Desnecessário dizer que foi uma experiência tão (ou mais) mágica do que a primeira vez que vi o filme. Gostei de finalmente saber o que há de adaptações em relação a peça e ao filme, quais personagens foram suprimidos/modificados, ainda que sutilmente, quais diálogos foram alterados e tive ainda a surpresa do elemento metalinguístico, que não está no filme. O auto da compadecida é o trabalho mais aclamado de Suassuna, mas é também um das maiores obras escritas em língua portuguesa, merece ser lembrado e celebrado como todos os clássicos, com carinho, respeito e sorriso no rosto.
Obra sensacional, com uma sensibilidade incrível. Apropriar-se da tradição de um povo e criar algo universal, que fala com a natureza humana. E que humor bom!! Ri muitas vezes durante a leitura, um riso gostoso d mais. Um riso que brota de uma tragédia como um flor que sai do asfalto.
João Grilo e Chicó são dois grandes amigos que vivem se metendo em confusões e usam a malandragem para sairem delas. Como trabalham para o padeiro de sua pequena cidade no Nordeste, suas vidas serão modificadas para sempre quando a cachorra da mulher do padeiro morre. E João Grilo, figura folclórica, utiliza toda sua malemolência para convencer Chicó a participar de um grande plano que envolverá toda a paróquia - tudo para, no final do dia, lucrar o máximo possível com o ocorrido. Mas como nada é fácil, os dois se envolverão em uma bola de neve de conflitos e tentarão escapar de incontáveis trapalhadas através do clássico jeitinho brasileiro... E foi assim que Ariano Suassuna criou uma peça completamente icônica ao misturar a tradição da linguagem oral com a literatura de cordel. A comédia escrachada e quase caricata que permeia todo este drama, próprio para o picadeiro (apresentado, inclusive, por um palhaço), tem sua origem na cultura popular e seus regionalismos ao narrar uma história de fundo religioso sobre a vida do brasileiro (principalmente nordestino) e sobre a amizade que perdura nos momentos bons e, é claro, nos momentos ruins. Talvez seja por este livro ter aparecido na minha vida quando eu mais precisava, gerando milhares de gargalhadas e sendo um alívio na minha alma, mas que delícia de leitura! Os personagens são extremamente carismáticos, a trama é instigante e eu não consegui largar o livro até finalizar essa jornada e descobrir o que aconteceria com os queridos João Grilo e Chicó. No final das contas, essa foi uma leitura incrível e empolgante, com diálogos inteligentes e reviravoltas revigorantes durante toda a narrativa, fazendo com que eu me apaixonasse por "Auto da Compadecida" e transformando este livro em uma das minhas obras nacionais favoritas... Como? "Não sei... Só sei que foi assim!"
Mais resenhas no instagram literário @livre_em_livros e no canal do Youtube "Livre em Livros"!
“Auto da compadecida� de Ariano Suassuna, publicado no Brasil pela Nova Fronteira, que me enviou um exemplar de cortesia.
Em 1.999 me encantei com João Grilo e Chicó por causa da adaptação da peça para uma mini série exibida na rede Globo, mas só fui conhecer o texto original há poucos dias.
O que mais me encanta na escrita de Suassuna é seu humor inserido no ar de ingenuidade dos seus personagens, a crítica social inteligente apresentada de forma leve e realista. Não é algo escrachado, mas é facilmente perceptível para o público/leitor.
Segundo o próprio autor, Auto da Compadecida foi escrito com base em romances e histórias populares do nordeste.
O estilo da literatura de cordel é perceptível ao atentar-se para o encadeamento ritmado e compassado das palavras. A oralidade está presente e é um importante fator para a caracterização dos personagens.
Logo no começo da peça, temos uma situação que mostra como o distanciamento entre as classes sociais interfere não apenas ao longo da vida, mas também na morte.
A forma como o dinheiro corrompe a todos, inclusive àqueles que não deveriam se apegar aos bens materiais, me pareceu estar no centro da peça e é a partir dela que percebemos a mesquinharia, egoísmo, hipocrisia religiosa, a miséria do sertão, coronelismo, racismo. E é sensacional a forma como os mais humildes não precisam de dinheiro, e sim da inteligência, para se safarem de enrascadas.
Apesar de ter temas pesados como centrais, a peça é hilária, ri alto em diversos momentos.
Mais uma peça de Suassuna que me arrebatou, quero continuar na “descoberta� de sua obra completa.
Um livro curto e cativante, com uma escrita que torna impossível parar de ler. Resumindo: é um livro pra ser lido de uma só vez, preferencialmente, em local afastado da sociedade, para que você possa rir, se divertir e se emocionar com toda a intensidade que tem direito - e que Ariano Suassuna tanto se esforça para transmitir. Apesar de muitos pontos em comum com a mini-série, o livro traz algo de único e especial: explora mais profundamente os personagens, especialmente Chicó e João Grilo - a causa das minhas maiores gargalhadas, durante a leitura. E, ainda sim, por trás de todo esse humor, nota-se uma crítica social bem abrangente (especialmente com o Cangaceiro) e a religiosidade sob uma nova e diferente perspectiva. Como leitora, poucas experiências são melhores do que fechar um livro nacional e ser invadida por aquela sensação de orgulho, de felicidade pela valorização da nossa cultura, de apego aos costumes novos e antigos que vivemos enquanto sociedade. E foi isso que Auto da Compadecida me proporcionou. Só me resta agradecer ao autor e recomendar a leitura!
Engraçado e inteligente. Nos faz mergulhar na cultura nordestina e curtir esta peça teatral que remete à literatura de cordel. Impossível não se render aos argumentos do astuto João Grilo e se divertir com os causos do Chicó.
O terceiro ato me deu uma brochada, com seu excesso de respeito a Maria e Cristo - mesmo um Cristo, digo, Manoel negro -, além do final um tanto bobo. Mas o primeiro e o segundo são fodas - engraçados, inteligentes, irreverentes.
Eu gostaria de ter lido a obra antes de ter assistido (inúmeras vezes) ao filme, porque as representações icônicas de seus atores não me deram espaço pra imaginação. O Auto da Compadecida é uma peça de muito bom gosto, com tudo bem pensado: o cenário, os personagens, as traquinagens e sabedoria de João Grilo e as críticas, muito bem embasadas.
I've never watched the movie, but after reading this book I'm going to. It was such a funny book. I've listened to the audiobook and it was perfect. It was hilarious, but at the same time, it showed the reality of most small towns in the northeast of Brazil. It's a great fun critique.
Penso que é correto dizer que a cultura medieval europeia tem grande influência no desenvolvimento da tradição popular brasileira, principalmente no que diz respeito, no presente caso, a criação literária e teatral nordestina, sendo o "Auto da compadecida", de 1955, um belo exemplo.
A comédia teatral tem como ponto inicial a procura por João Grilo e Chicó pelo padre da cidadezinha de Taperoá , no sertão nordestino, para que abençoe o cachorro da mulher do padeiro, e patroa de João. Sujeito esperto, João cria daí, intencionalmente, uma série de situações para se beneficiar, o que resulta na morte de quase todos os personagens da peça (João Grilo, o bispo, o padre, o sacristão, o padeiro e sua mulher, o cangaceiro Severino e seu ajudante), sobrando apenas o palhaço, o frade e Chicó.
É difícil destacar um ponto alto, pois praticamente todos possuem sua carga dramática e cômica. No entanto, o julgamento realizado por Manuel (Emanuel ou Jesus), em razão das acusações dirigidas pelo Encourado (o diabo), mas com a intervenção aos mortos da advogada, Nossa Senhora, a Compadecida, mostra-se imensamente hilária.
Ariano Suassuna foi um grande mestre ao tirar da tradição popular, elementos necessários à construção do presente "Auto". Braúlio Tavares, no posfácio à obra, trata de afastar eventuais acusações de que Suassuna não criou uma obra, visto que se baseou em folhetos de cordel, trazendo inclusive o exemplo de que mesmo Shakespeare se baseou em uma história anterior para escrever seu "Romeu e Julieta". Na verdade, a criação autoral é profícua em utilizar bases anteriores para novas criações e isso é o que se chama "domínio público". Praticamente todas as criações literárias (inclusive o teatro) têm por base criações anteriores que por sua vez se baseiam em outras criações, o que importa em dizer que a originalidade não é um requisito tão importante nos direitos autorais, mas sim a forma de expressão de um/a autor/a, que imprime na nova criação suas características próprias. Os exemplos abundam-se.
E voltando ao assunto inicial, Suassuna, ao imprimir sua expressão própria nessa interessante comédia, só faz bem à tradição cultural na qual se insere e na qual busca suas fontes, traduzindo nas linhas dessa obra mais do que a cultura brasileira ou mesmo regionalista (já que se fosse o caso, muitos personagens da obra retratam a sociedade brasileira como um todo), mas sobretudo alçando-a ao universal.
O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, consegue o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel.
Nessa edição, completamente especial, a gente entende mais o processo criativo e como virou um clássico - traduzido em diversos idiomas pelo planeta. Uma história divertida, atemporal, sem qualquer provocação, Ariano soube utilizar as artimanhas humorísticas e culturais para criar uma história perfeita e cheia de reviravoltas.
Decidi ler após sentir uma saudade imensa de ler cordel. Um livro que matou essa saudade foi A cabeça do santo, da Socorro Acioli, no qual vi muitos diálogos em tom dos de Chicó e João.
O que me pega é o manejo que João Grilo consegue soltar suas estrategias e Chicó é o anjinho do ombro, pois o João já faz seu próprio papel de diabo. Um razão e outro emoção, até que uma hora destrambelha tudo. Só sei que foi assim, né?
Por ser um texto teatral, tem a comunicação com o público, de uma forma magnífica, instigante e ousada. Há também críticas sociais "É tanta qualidade que exigem pra dar emprego, que não conheço um patrão com condições de ser empregado" Suassuna denuncia situações através do ridículo, a reflexão e filosofia enquanto rimos. O verdadeiro coringa!
Que obra maravilhosa, sou fã do filme (e agora, conhecendo a obra original, soube que foi uma adaptação maravilhosa e bem fiel, impossível não vincular os atores aos personagens), e preciso ressaltar a qualidade de narração e ambientação do audiobook, que ouvi na Skeelo. Com um jeito bem característico, Ariano Suassuna nos transporta ao Brasil nordestino com sua peça, maravilhoso por natureza, com misturas de histórias vivas e cordéis. Que privilégio poder ter contato com a nossa cultura, brasileira, tão simples e tão grandiosamente, como essa obra foi e é. Me fez querer ler mais, conhecer mais, do regionalismo e do autor, já que este, deixa saudade - podendo ser amenizada ao assistir cada entrevista que já concedeu, vale a pena demais. Sempre com algum ensinamento, reflexão e tirar gargalhadas gostosas. Ele com certeza passou direto e foi com Emanuel e Maria, prosear no lado de lá.