Mario Benedetti (full name: Mario Orlando Hamlet Hardy Brenno Benedetti Farugia) was a Uruguayan journalist, novelist, and poet. Despite publishing more than 80 books and being published in twenty languages he was not well known in the English-speaking world. He is considered one of Latin America's most important 20th-century writers.
Benedetti was a member of the 'Generation of 45', a Uruguayan intellectual and literary movement and also wrote in the famous weekly Uruguayan newspaper Marcha from 1945 until it was forcibly closed by the military government in 1973, and was its literary director from 1954. From 1973 to 1985 he lived in exile, and returned to Uruguay in March 1983 following the restoration of democracy.
4,5* Benedetti apresenta-nos a vida como ela 茅, desde as aprendizagens da inf芒ncia e da adolesc锚ncia at茅 脿 vida adulta, com todas as suas perdas, sonhos e descobertas. Realmente belo.
Este livro foi uma experi锚ncia de leitura maravilhosa! Tratou-se da minha estreia com Mario Benedetti e fiquei francamente bem impressionada. Adorei.
O livro conta-nos a hist贸ria de Cl谩udio, desde a inf芒ncia 脿 idade adulta. Somos conduzidos pelos momentos marcantes da vida deste personagem, ancorados no tempo e nos locais da cidade de Montevideo (capital do Uruguai).
Costumo 脿 partida gostar bastante deste g茅nero de narrativas (bildungsroman) e este, na minha opini茫o est谩 incrivelmente bem escrito. Li-o em menos de um dia! A minha imers茫o enquanto leitora foi total. Fui completamente absorvida pela hist贸ria e pela beleza da escrita, e nem dei pelo tempo passar... :)
Foi um livro que me deliciou e me acrescentou, pelo que s贸 posso recomend谩-lo vivamente!
A magia de crescer e aprender, numa hist贸ria plena de ternura e bom humor. Sem fugir 脿s inevit谩veis dores da aprendizagem e da vida que nos vai moldando e desafiando.
鈥淎 minha fam铆lia estava sempre a mudar de casa. Pelo menos, desde que me lembro鈥� Confesso que para mim essa az谩fama c铆clica de abrir e fechar caixotes, ba煤s, caixas grandes e malas era uma divers茫o. Tudo voltava a ser arrumado nos arm谩rios, nas estantes, nos guarda-fatos, nas gavetas鈥� A casa nova adquiria em poucos dias o aspecto de morada quase definitiva, ou pelo menos de alojamento est谩vel, e creio que os meus pais acreditavam sinceramente nisso, mas antes que se passasse um ano a minha m茫e e/ou o meu pai, nunca os dois ao mesmo tempo, come莽avam a semear coment谩rios (primeiro subtis mas depois cada vez mais expl铆citos) que no fundo eram propostas de uma nova mudan莽a. Geralmente, as raz玫es invocadas pelo meu pai eram a falta de sol, a humidade nas paredes, os corredores muito estreitos, a agita莽茫o da rua, os vizinhos que eram intriguistas, etc. As raz玫es invocadas pela minha m茫e eram mais variadas, mas normalmente a lista continha motivos como excesso de sol, ambiente seco, espa莽os exteriores demasiado amplos, falta de comunica莽茫o dos vizinhos, ruas sem movimento, etc. Por outro lado, o meu pai gostava da tranquilidade dos bairros da periferia enquanto a minha m茫e preferia a agita莽茫o do Centro.鈥�
Primeira p谩gina do livro.
Que podia ser a minha hist贸ria鈥� ou melhor, a que os meus filhos relatariam. 馃榿
Tive de reler esta passagem a todos c谩 de casa.
E quando um escritor consegue que a nossa vida real se assemelhe aos seus romances (ou a parte deles), tornamo-nos de imediato ref茅ns da pr贸pria hist贸ria. Ningu茅m pode fechar um livro sem saber o que vai acontecer.
Naquela fina linha, que destrin莽a a fic莽茫o do real, acontece magia.
Que mais dizer? Que tamb茅m fiquei ref茅m deste escritor.
194 p谩ginas de Benedetti. 194 p谩ginas que durante estes cinco dias estiveram 脿 espera de que eu encontrasse aquele 鈥渞atito de tiempo鈥� para mergulhar nelas, perder-me nelas. 194 p谩ginas que saboreei sempre com um sorriso nos l谩bios e com o l谩pis na m茫o. 194 p谩ginas recheadinhas de partes sublinhadas, de setinhas, de cora莽玫es, de carinhas felizes. 194 p谩ginas que cumpriram com as mais altas expetativas e que consequentemente me levaram a 鈥渁tazanar鈥� o maridinho com coment谩rios vezes sem fim repetidos 鈥� 鈥淒elicioso鈥�; 鈥淓ste homem 茅 fant谩stico鈥�; 鈥淛谩 te disse que adoro, adoro Benedetti?鈥�; 鈥淚sto 茅 mesmo, mesmo bom鈥�. Enfim, 194 p谩ginas de Benedetti, de um Benedetti que eu amo, venero e que ter谩 que me pertencer por completo, porque cada obra que leio deste autor uruguaio provoca invariavelmente em mim um leque de emo莽玫es que me faz sentir mais feliz, mais compreendida, mais viva. Depois de o ter descoberto com A Tr茅gua e de Primavera con una esquina rota me ter atropelado com uma avalancha de emo莽玫es, n茫o hesitei quando, numa escapadela a La Coru帽a, 鈥渢ive autoriza莽茫o鈥� para comprar quatro livrinhos e no pacote trouxe a terceira obra de Benedetti a morar na estante c谩 de casa. La borra del caf茅 j谩 figurava na minha wishlist h谩 tempos e agora, que j谩 a li, j谩 a mimei e permiti que ela me mimasse, sei que sou e serei eternamente grata ao autor uruguaio e que n茫o me resta outra coisa que n茫o continuar a adquirir as suas obras, porque sei com aquela intui莽茫o e aquele saber c谩 de dentro que nenhuma me defraudar谩, pelo contr谩rio. La borra del caf茅 volta a fazer-nos viajar at茅 Montevideu, apresenta-nos v谩rios dos espa莽os que comp玫em ou compuseram a capital uruguaia nos anos vinte, trinta e quarenta e abre-nos as portas de casa (ou das v谩rias casas, j谩 que se mudavam com bastante frequ锚ncia) da fam铆lia de Claudio, protagonista e o principal narrador das vicissitudes, insignific芒ncias e outros acontecimentos do seu crescimento e trajet贸ria numa vida que, ao fim e ao cabo, 茅 t茫o banal e t茫o memor谩vel como qualquer uma das nossas vidas. Dividida em cap铆tulos curtinhos e sempre encabe莽ados por um t铆tulo alusivo, esta deliciosamente sublime obra derreteu-me desde o seu in铆cio, desde a sua primeira palavra. Ali谩s, como seria de esperar de Benedetti, porque numa linguagem onde se entrela莽am a simplicidade, a inoc锚ncia e precocidade do narrador, a import芒ncia que este d谩 a pormenores que variam conforme a sua idade e a sua maturidade, os momentos de introspe莽茫o, a descri莽茫o de um quotidiano t茫o pr贸ximo ao nosso, os sonhos e os momentos de intimidade, Benedetti sabe, como ningu茅m, cativar-nos, prender-nos, fazer-nos n茫o querer parar a leitura e 茅 um g茅nio na constru莽茫o dessa teia de ingredientes que, misturados com uma sensibilidade e uma perspic谩cia t茫o suas, faz nascer uma obra perfeita. Essa perfei莽茫o est谩 presente em detalhes c贸micos, como por exemplo neste apontamento do que era mais memor谩vel numa das casas onde a fam铆lia de Claudio viveu 鈥� 鈥淎ll铆 lo m谩s recordable era el inodoro, pues cuando alguien tiraba de la cadena, el agua, en lugar de cumplir su funci贸n higi茅nica en el water, sal铆a torrencialmente del remoto tanque empapando no s贸lo al infortunado usuario, sino todo el piso de baldosas verdes.鈥� (p谩g. 12) 鈥� ou na inoc锚ncia do protagonista perante a tirada mensal da m茫e que assim respondia ao pai quando este queria 鈥渆charse una siesta鈥� mais prolongada no quarto 鈥� 鈥溌獺oy no puedo, viejo. Vinieron los de Galarza禄. Para m铆, esa respuesta era un enigma, porque yo hab铆a estado toda la ma帽ana en casa y nadie hab铆a venido: no los de Galarza ni los de ninguna otra familia.鈥� (p谩g. 41) Essa perfei莽茫o tamb茅m est谩 presente em detalhes mais intimistas e que nos tocam e nos desarmam 鈥� (a casa como o nosso lar, o nosso cantinho) 鈥淭odos esos olores formaban un olor promedio, que era la fragrancia general de la vivenda. Cuando llegaba de la calle y abr铆a la puerta, la casa me recib铆a con su olor propio, y para m铆 era como recuperar la patria.鈥� (p谩g. 36); (a rea莽茫o da irm茫zinha de Claudio 脿 morte da m茫e) 鈥� 鈥溌玍es, Claudio, la higuera no se mueve, no oye, no habla, no piensa, no sue帽a, no siente dolor, pero est谩 viva 驴no? A lo mejor mamita est谩 como la higuera禄.鈥� (p谩g. 56); (a descoberta do sexo, do corpo da mulher) 鈥� 鈥淟a memoria del cuerpo no cae nunca en minucias. Cada cuerpo recuerda del otro lo que le da placer, no aquello que lo disminuye鈥� (p谩gs. 121, 122); 鈥淒urante varios encuentros seguimos fascinados por esa comuni贸n. No hab铆a pregunta de un cuerpo que no supiera o no pudiera responder el otro. 隆Habl谩bamos tan poco! Creo que ten铆amos miedo de que la palabra, al invadir nuestro espacio, nos trajera querellas, fracturas, desconfianzas. 隆Y el silencio era tan sabroso, era tan rico el tacto!鈥� (p谩g. 122). Por fim, essa perfei莽茫o est谩 nos j谩 referidos cap铆tulos curtinhos, nos v谩rios narradores dos mesmos 鈥� predominantemente narrados em primeira pessoa por Claudio, mas com alguns narrados na terceira pessoa (o que nos permite uma abordagem mais 鈥渋mparcial鈥� e mais neutra) e outros fragmentos do di谩rio do pai de Claudio 鈥� na riqueza lingu铆stica do espanhol uruguaio (que saboreio com avidezJ) na homenagem que o autor faz de novo ao nosso Fernando Pessoa e num desenlace intrigante e que remete para o t铆tulo da obra e para um misticismo e realismo m谩gico t茫o caracter铆sticos do povo sul-americano. Mais n茫o digo. E havia muito mais para dizer, acreditem. 脡 uma obra pequena, mas que cont茅m pinceladas de um pouco de tudo, daquilo que mais importa para fazer dela um exemplo de uma leitura deliciosa, sublime e completa. Gracias, Benedetti, est茅s donde est茅s, 隆seguir谩s siempre conmigo! Recomendo, obviamente, e sem reservas.
鈥漄uando os anos se sucedem, uma pessoa come莽a a ter no莽茫o que o tempo foge, e talvez por isso alimente a auto-ilus茫o de que escrever sobre o quotidiano pode ser uma forma, mesmo que primitiva, de travar esse descalabro. N茫o se consegue trav谩-lo, claro. Nada nem ningu茅m 茅 capaz de parar o tempo. No entanto, h谩 tantos factos e imagens que desfilam dos nossos olhos (paisagens, not铆cias, alegrias, rostos, leituras, surpresas, desgra莽as, riscos, luxos, multid玫es) e que de certa maneira nos alteram a vida, mesmo que seja apenas em mil茅simos de rumo predeterminado. Dias ou meses depois, 茅 prov谩vel que lamentemos n茫o ter apontado esses momentos e vicissitudes.鈥�
H谩 uma humanidade, uma do莽ura e sensibilidade na forma como Benedetti escreve (e descreve) que me encantam e me desarmam. N茫o foi por acaso que escolhi este livro para ser o primeiro lido de 2021. Benedetti foi o melhor do meu 2020.
Devo dizer que achei magn铆fica a forma como Benedetti construiu nesta obra a ideia de destino, de passado e de futuro, no pressuposto de que, como o mesmo escreve, o passado 茅 a casa que nunca chegamos a abandonar de vez. Faz parte de n贸s, habita em n贸s. E f锚-lo ao longo de toda a obra de forma sens铆vel e po茅tica na mesma medida em que descreveu o reconhecimento de dois corpos apaixonados: 鈥�(...) os sucessivos tangos daquela noite, que n茫o foi m谩gica, e sim terrestre, permitiram que meu corpo e o de Mariana se conhecessem e se desejassem, se complementassem e se necessitassem (...).. S贸 Benedetti seria capaz de escrever assim...
Confesso que pedi algum tempo a pensar na nota que haveria de atribuir a este obra e se superava ou n茫o A Tr茅gua, que tanto me arrebatou. Suspeito que tudo o que seja escrito por Benedetti tem lugar cativo nos meus favoritos (e no meu cora莽茫o).
Maravilhoso! Nem me apetece come莽ar a ler outro livro, para n茫o perder o sabor e o sorriso que este me deixou! "Assim, os sucessivos tangos daquela noite, que n茫o foi magica, mas sim muito terrena, permitiram que o meu corpo e o de Mariana se conhecessem e se desejassem, se complementassem e precisassem um do outro. Quando, tr锚s dias mais tarde, nos livramos de toda a roupa e nos vimos tal e como 茅ramos, a nudez literal trouxe-nos poucas novidades. Desde o quinto tango que j谩 nos conhec铆amos de cor" "Cada corpo recorda do outro o que lhe d谩 prazer, n茫o aquilo que o reduz"
"Afinal de contas, o germe do amor ter谩 melhor progn贸stico se for semeado no sulco do desejo. Onde terei lido isto? Se calhar 茅 meu. Anoto-o para se tornar tema de um quadro (sem rel贸gios): O Sulco do Desejo" Personagens deliciosas, ironia, uma maravilha! Imperdo谩vel s贸 ter descoberto Benedetti t茫o tarde!