Journalist and a biologist, his works in Portuguese have been published in more than 22 countries and have been widely translated. Couto was born Ant贸nio Em铆lio Leite Couto. He won the 2014 Neustadt International Prize for Literature and the 2013 Cam玫es Prize for Literature, one of the most prestigious international awards honoring the work of Portuguese language writers (created in 1989 by Portugal and Brazil).
An international jury at the Zimbabwe International Book Fair called his first novel, Terra Son芒mbula (Sleepwalking Land), "one of the best 12 African books of the 20th century."
In April 2007, he became the first African author to win the prestigious Latin Union Award of Romanic Languages, which has been awarded annually in Italy since 1990.
Stylistically, his writing is heavily influenced by magical realism, a style popular in modern Latin American literature, and his use of language is inventive and reminiscent of Guimar茫es Rosa.
笔辞谤迟耻驳耻锚蝉) Filho de portugueses que emigraram para 惭辞莽补尘产颈辩耻别 nos meados do s茅culo XX, Mia nasceu e foi escolarizado na Beira. Com catorze anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal Not铆cias da Beira e tr锚s anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade capital de Louren莽o Marques (agora Maputo). Iniciou os estudos universit谩rios em medicina, mas abandonou esta 谩rea no princ铆pio do terceiro ano, passando a exercer a profiss茫o de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna at茅 脿 destrui莽茫o das suas instala莽玫es em Setembro de 1975, por colonos que se opunham 脿 independ锚ncia. Foi nomeado diretor da Ag锚ncia de Informa莽茫o de 惭辞莽补尘产颈辩耻别 (AIM) e formou liga莽玫es de correspondentes entre as prov铆ncias mo莽ambicanas durante o tempo da guerra de liberta莽茫o. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo at茅 1981 e continuou a carreira no jornal Not铆cias at茅 1985. Em 1983 publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois demitiu-se da posi莽茫o de diretor para continuar os estudos universit谩rios na 谩rea de biologia.
Al茅m de ser considerado um dos escritores mais importantes de 惭辞莽补尘产颈辩耻别, 茅 o escritor mo莽ambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a l铆ngua portuguesa com uma influ锚ncia mo莽ambicana, utilizando o l茅xico de v谩rias regi玫es do pa铆s e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Terra Son芒mbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Pr茅mio Nacional de Fic莽茫o da Associa莽茫o dos Escritores Mo莽ambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do s茅culo XX por um j煤ri criado pela Feira do Livro do Zimbabu茅.
Na sua carreira, foi tamb茅m acumulando distin莽玫es, como os pr茅mios Verg铆lio Ferreira (1999, pelo conjunto da obra), M谩rio Ant贸nio/Funda莽茫o Gulbenkian (2001), Uni茫o Latina de Literaturas Rom芒nicas (2007) ou Eduardo Louren莽o (2012). Ganhou em 2013 o Pr茅mio Cam玫es, o mais importante pr茅mio para autores de l铆ngua portuguesa.
It is a novel that simultaneously pays homage to Mozambican culture as a novel about war, injustice, and dreams. It is a story that cannot leave anyone reading it indifferently.
This is an excellent, classic-grade novel but how do we get folks to find out about a work set in Mozambique, written in 1992 and translated from the Portuguese in 2006? Mozambique is a former Portuguese colony; that Indian Ocean country on the east coast of Southern Africa that "fits around" the broken-off island of Madagascar. This novel takes us back to the 1970's when a war of independence against colonial Portugal disintegrated into civil war, and ultimately, simply into banditry and chaos. Bands of soldiers murdered, raped, burned and plundered across the countryside with no plan or logic.
The plot is simple. A young boy and old man are survivors sheltering in a burned-out bus, from which they removed charred bodies to make it habitable. The boy may be the man's son or his nephew or they may be unrelated. Every day they wander around their home base looking for food or other living souls and avoiding gunmen. So it is very much like The Road by Cormac McCarthy. The boy dreams of finding his parents but his companion warns him not to even think of it because children are such a burden to parents in this strife-torn land. One story is that the boy has no memory of his early life because he was taken to a witchdoctor to empty his head of the horrible memories. They encounter a man who spend his time spinning sisal to make a rope to hang himself. An old woman in a refugee campus spends all her time in heavy physical labor because she knows she will be abandoned once she is no longer useful. Even death does not bring relief; a ghost, a perhaps the boy's father's, tells his son: "I'm dead but disconsolate." "But our fate is that of a mat: history will wipe its feet on our backs."
On the bus, the boy finds a journal kept by a young passenger and each night he reads chapters to the old man. So nightly journal entries alternate with sequences about their daily activities. Couto gives us dream-like sequences of horror laced with magical realism. Here is a selection of literary gems from a couple of dozens I marked while reading, that show the power of his writing. "...dreams are letters we send to our other, remaining lives." "Pain ... is a window through which death peers at us." "We make our way toward death in the same way a river unbodies itself into the sea: one part of it is being born and, at the same time, the other is entering the infinite shadowlands." "He who lives in fear needs a small world, a world he can control." "He frowned, as if his thoughts might escape through his eyes."
We learn a lot about folk beliefs: "chissila," a curse that punishes you; "xipocos," ghosts that take joy from your suffering -- they wander in chaos because they don't know where the border is between the dead and the living; "mampfana," birds that kill journeys; "tchoti," dwarfs who drop from heaven;
Em 1992 o escritor e bi贸logo mo莽ambicano Mia Couto (n. 1955) publicou o seu primeiro romance - 鈥漈erra Son芒mbula鈥�; traduzido para ingl锚s por David Brookshaw e editado em 2006 com o t铆tulo 鈥漇leepwalking Land鈥�. 鈥淣aquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos s贸 as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mesti莽ara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam 脿 boca. Em cores sujas, t茫o sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui o c茅u se tornara imposs铆vel. E os viventes se acostumaram ao ch茫o. Em resignada aprendizagem da morte.鈥� (P谩g. 9) 鈥� assim come莽a 鈥漈erra Son芒mbula鈥�. Um velho e um mi煤do, Tuahir e Muidinga, 鈥滷ogem da guerra, dessa guerra que contaminara toda a sua terra. V茫o na ilus茫o de, mais al茅m, haver um ref煤gio tranquilo. (鈥�) Muidinga e Tuahir param agora frente a um autocarro queimado. (鈥�) Entram no autocarro. O corredor e os bancos est茫o cobertos de corpos carbonizados. (鈥�) Aquele recinto est谩 contaminado pela morte. (鈥�) Saem a enterrar os cad谩veres. (鈥�) No caminho de regresso encontram mais um corpo. (鈥�) Tinha sido morto a tiro. (鈥�) Junto dele estava uma mala, fechada, intacta. (鈥�) Enterram o 煤ltimo cad谩ver. (鈥�) Depois de fecharem o buraco, o velho puxa a mapa para dentro do autocarro. (鈥�) For莽am o fecho, apressados. (鈥�) Por cima de tudo est茫o espalhados cadernos escolares, gatafunhados com letras incertas. (鈥�) - Tira s贸 essa papelada. Serve para acendermos a fogueira. O jovem retira os caderninhos. Guarda-os por baixo do seu banco. N茫o parece pretender sacrificar aqueles pap茅is para iniciar o fogo. (鈥�) O mi煤do se levanta e escolhe entre os pap茅is, receando rasgar uma folha escrita. Acaba por arrancar a capa de um dos cadernos. Para fazer fogo usa esse papel. Depois se senta ao lado da fogueira, ajeita os cadernos e come莽a a ler. Balbucia letra a letra, percorrendo o lento desenho de cada uma. (鈥�) O mi煤do l锚 em voz alta. (鈥�) (P谩g. 9 a 14) 鈥� o primeiro caderno de Kindzu. Em 鈥漈erra Son芒mbula鈥� h谩 um est贸ria dentro de uma est贸ria; em cap铆tulos alternados acompanhamos o 鈥渄ia鈥� de Tuahir e Muidinga, que fogem do terror e da devasta莽茫o da guerra civil, o per铆odo p贸s-independ锚ncia, 鈥滱 guerra 茅 uma cobra que usa nossos pr贸prios dentes para nos morder. Seu veneno circulava agora em todos os rios da nossa alma. De dia j谩 n茫o sa铆mos, de noite n茫o sonh谩vamos.鈥� (P谩g. 17); e durante a 鈥渘oite鈥� 鈥漁s cadernos de Kindzu se tinham tornado o 煤nico acontecer naquele abrigo.鈥�. (P谩g. 35) Kindzu - tal como 惭辞莽补尘产颈辩耻别 - procura a sua identidade, entre os del铆rios e os sonhos do seu pai, Ta铆mo, e os ensinamentos e a resigna莽茫o da sua m茫e, e com um irm茫o a quem d茫o o nome de Vinticinco de Junho (o dia da independ锚ncia de 惭辞莽补尘产颈辩耻别), ou Junhito, ; acaba por decidir que 鈥淨ualquer que fosse minha escolha uma coisa era certa: eu tinha que sair dali, aquele mundo j谩 me estava matando.鈥� (P谩g. 30), empreendendo uma viagem sem destino final, onde encontra personagens inesquec铆veis, algumas fantasmag贸ricas, desenvolvendo profundas e intensas rela莽玫es de amizade e companheirismo. "... a felicidade s贸 cabe no vazio da m茫o fechada. A felicidade 茅 uma coisa que os poderosos criaram para ilus茫o dos mais pobres." (P谩g. 84) Em "Terra Son芒mbula" 茅 analisada a desintegra莽茫o social decorrente, primeiro, da Guerra Colonial contra a pot锚ncia colonizadora, Portugal, e, depois, a Guerra Civil, subsequente 脿 independ锚ncia, uma luta que decorreu entre 30 de Maio de 1977 e 4 de Outubro de 1992, um conflito com o partido no poder, a Frente de Liberta莽茫o de 惭辞莽补尘产颈辩耻别 (FRELIMO) e as for莽as armadas mo莽ambicanas com a Resist锚ncia Nacional Mo莽ambicana (RENAMO), uma guerra que vitimou cerca de um milh茫o de pessoas, entre os combates e as crises de fome 鈥� o que motivou, igualmente, a perda de identidade de uma na莽茫o devastada e desagregada, emocionalmente e geograficamente. A escrita de Mia Couto 茅 admir谩vel, original, sedutora nos detalhes e no simbolismo, com amplo recurso 脿 utiliza莽茫o do neologismo, 鈥渘ovas鈥� palavras que ampliam o sentido das frases e do texto; incrementando o contexto hist贸rico e cultural na narrativa de 鈥漈erra Son芒mbula鈥�, nomeadamente, a guerra civil, o per铆odo p贸s-independ锚ncia, os bandos 鈥渘egros鈥� armados, os guerreiros m铆sticos "naparamas", o 鈥渂ranco鈥� colonizador, o com茅rcio dominado pelos 鈥渕onh茅s鈥�, a corrup莽茫o, os campos de refugiados, a Miss茫o, a feiti莽aria, o misticismo e a cultura tradicional.
鈥漀茫o 茅 a est贸ria que o fascina mas a alma que est谩 nela.鈥� (P谩g. 73)
"Quero p么r os tempos, em sua mansa ordem, conforme esperas e sofr锚ncias. Mas as lembran莽as desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente. Acendo a est贸ria, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo uma sombra sem voz." (P谩g. 15)
Terra Son芒mbula 茅 o primeiro romance de Mia Couto. Foi publicado em 1992, e aborda quest玫es sociais e pol铆ticas importantes, como a guerra civil em 惭辞莽补尘产颈辩耻别, a luta pela independ锚ncia e as consequ锚ncias desse conflito para a popula莽茫o do pa铆s.
Agora, eu via o meu pa铆s como uma dessas baleias que v锚m agonizar na praia. A morte nem sucedera e j谩 as facas lhe roubavam peda莽os, cada um tentando o mais para si.
A narrativa 茅 estruturada em torno de duas personagens principais: Tuahir, um velho, e Muidinga, um rapaz 贸rf茫o que est谩 a fugir da guerra. Os dois viajam juntos em busca de um lugar seguro para viver. Durante a viagem abrigam-se num machimbombo queimado e encontram 11 cadernos que contam a hist贸ria de Kindzu.
A altern芒ncia da hist贸ria entre os cap铆tulos que tratam de Muidinga e Tuahir, e os que tratam da hist贸ria de Kindzu torna o livro viciante.
A escrita de Mia Couto 茅 exuberante, e as palavras inventadas - uma marca registada do autor, e que n茫o s茫o simplesmente aleat贸rias ou sem sentido - criam uma linguagem 煤nica, muito bela e com uma musicalidade bem mo莽ambicana.
Quando iniciaram a viagem j谩 ele se acostumava de cantar, dando vaga a distra铆das 产谤颈苍肠谤颈补莽玫别蝉.
Morrera, fugira, se infinitara?
Por momento me pareceu que, em seu lugar, jazia estendido um corpo humano. 笔茅-辫贸蝉-辫茅, me afastei.
entre tantas outras palavras que deixei de anotar.
Mia Couto usa diversos elementos simb贸licos que servem essencialmente para transmitir mensagens mais profundas sobre a guerra civil e a hist贸ria de 惭辞莽补尘产颈辩耻别, por ex: Terra Son芒mbula - representa a natureza em transe durante a guerra, e 茅 um s铆mbolo poderoso da destrui莽茫o causada pelo conflito, mas tamb茅m pode simbolizar a resili锚ncia e a capacidade de sobreviv锚ncia.
Gostei da personagem Farida. 脡 complexa e cheia de nuances, a sua hist贸ria ajuda a iluminar a experi锚ncia das mulheres durante a guerra, bem como as tens玫es entre diferentes grupos 茅tnicos e culturais em 惭辞莽补尘产颈辩耻别. A rela莽茫o de Muidinga com Farida tamb茅m serve como um contraponto 脿 viol锚ncia e 脿 brutalidade do conflito, mostrando que mesmo no meio da destrui莽茫o e do caos, ainda h谩 espa莽o para o amor e a esperan莽a.
Normally I reserve my 5-star rating for tried and true books, books that I've returned to again and again. When I finished Sleepwalking Land, though, I flipped back to page 1 and started over immediately. It is one of the most gorgeous, devastating and disturbing books I've ever read. Sleepwalking Land is set during Mozambique鈥檚 civil war, which commenced shortly after the country became independent from the Portuguese colonists. During the course of the war, which ended in 1992, five million people were displaced from their homes and nearly one million people were killed. It goes without saying that it was a horrifying period in Mozambican history. Joe and I lived in Mozambique for a few months when we were first married, so I feel a connection to the land and its history, of course. The story in this book is one I've heard before...but never --NEVER-- like this.
Sleepingwalking Land is the story of an old man and a young boy who, while trying to hide from the war, find a burnt-out bus and decide to live in it. The bus is like 鈥渁 monument to war,鈥� filled with dead people and their belongings. The boy discovers some notebooks in a box that belonged to one of the dead passengers, and as he reads the notebooks out loud to his elderly friend, they learn about the writer: Kindzu, who traveled across the country hoping to become a naparama, a warrior of justice, and discovered love and lust and jealousy and death on his journey. But the real story of the story --for me-- is the IMAGES, the beautiful and horrifying images, that populate the book. It is unapologetic magical realism, a war described without any battle scenes, metaphor upon metaphor.
If you like One Hundred Years of Solitude, The Odyssey, Alice in Wonderland or The Alchemist, you will like this book. If you love magical realism, you will love this book. (And if you don't like magical realism...well, shame on you :) )
What a powerful and reflective book about the aftermath of war. The images of loss, desire, eking out an existence compounded with war makes for some stark images. But this is a book of hope.
Set in the 1970鈥檚 惭辞莽补尘产颈辩耻别, an older man, Tuahir (also called uncle) and a young man Muidinga clear the burnt bodies out of a bombed out bus to have a place to live. While clearing the bodies, they find a notebook by Kindzu. The notebook will be a grand diversion for the two men from their meager lives.
And the story is a great enjoyment for them and myself. The story tells the captivating story of Kindzu searching for a better life from his humble background. He meets Farida looking for her son Gaspar. On display is the art of storytelling. Everyone has a great story to tell which moves the book along to its finale. No spoiler here but when you read the last notebook, you will get the 鈥渁h ha鈥� moment.
There was one feature that I found compelling - water. Kindzu sets out on a canoe and water becomes a recurring element, even compelling Tuahir and Muidinga to look for the sea.
One of my favourite sections is the story of the land of the dead. His dead father tells him the reason people dream, so as not to suffer on earth:
鈥溍� que a vida n茫o gosta sofrer. A terra anda procurar dentro de cada pessoa, anda juntar os sonhos.鈥�
The sleepwalking land. The land of the people of 惭辞莽补尘产颈辩耻别. Dream to escape the realities of the land. The killing land. Terra Son芒mbula.
Such an enjoyable read. A special thanks to Jo茫o Carlos and Susana for their recommendations.
Terra Son芒mbula exprime uma abordagem muito interessante, e algo perturbadora, sobre as consequ锚ncias da guerra civil em 惭辞莽补尘产颈辩耻别. Nele lemos sobre o resultado da atrocidade e da brutalidade da guerra, sem a viol锚ncia propriamente dita.
In煤meras met谩foras servem para criar ora imagens terr铆veis ora imagens muito bonitas, servindo-se do folclore da terra para criar a atmosfera ideal, m铆tica. Tanto simbolismo n茫o vem sem grande ambiguidade, pelo que a interpreta莽茫o do texto pode ser, por vezes, desafiante... mas muito compensat贸ria.
Desist锚ncia, desespero, perseveran莽a e esperan莽a misturam-se em igual medida no meio de tanto caos, o 'sonambolismo' parece estender-se ao leitor, tal 茅 o talento do escritor, e a excel锚ncia da sua prosa, a originalidade com que manobra o nosso idioma, s茫o, s贸 por si, motivo suficiente para ler este livro.
Este 茅 o segundo livro que leio do escritor mo莽ambicano Mia Couto, e tal como o anterior que li do mesmo escritor, "A Varanda do Frangipani", tive dificuldades em compreender e em seguir a hist贸ria que estava a ser narrada.
De facto, acabei por fazer v谩rias pausas e recome莽ar a ler por mais de uma vez bastantes p谩ginas, bem como quando iniciava um novo cap铆tulo, tinha que voltar ao final do anterior, pois n茫o me lembrava do desenrolar da hist贸ria.
Ao ler um livro com esfor莽o e n茫o com naturalidade, acabo sempre por n茫o me interessar muito pelo seu conte煤do, esque莽o-me com mais facilidade das personagens e termino a leitura com um sentimento de desilus茫o.
No entanto, este foi considerado um dos doze melhores livros africanos do s茅culo XX, e Mia Couto 茅 um escritor de sucesso, tendo j谩 sido distinguido com v谩rios pr茅mios liter谩rios.
Pelo que, poderei estar a ser injusta no coment谩rio que estou a escrever, mas n茫o consegui sentir empatia com a escrita de Mia Couto em ambos os livros que j谩 li deste autor. Talvez porque o mesmo utiliza muitas palavras que n茫o compreendo, umas que s茫o pr贸prias da linguagem dos povos africanos e outras que o autor inventa. Ali谩s, Mia Couto 茅 conhecido por nos seus livros utilizar muitas palavras criadas pelo pr贸prio atrav茅s da jun莽茫o de partes de palavras j谩 existentes, mas cujo significado nem sempre consegui entender.
A hist贸ria de "Terra Son芒mbula" desenrola-se em 惭辞莽补尘产颈辩耻别 durante a guerra civil que se seguiu 脿 independ锚ncia, e n茫o se debru莽a tanto sobre os confrontos que ocorreram, mas sobretudo pelas suas suas consequ锚ncias na popula莽茫o civil e no pa铆s.
Deparamo-nos com campos de refugiados, onde as pessoas agonizam com fome, com doen莽as e com a morte "sempre 脿 espreita", com vilas e aldeias destru铆das, com campos abandonados e n茫o cultivados e com destro莽os por todo o lado. Um pa铆s onde as pessoas perdem a esperan莽a e desistem de viver, onde 茅 f谩cil arranjar armas e onde se mata sem motivo, pois a vida humana perde todo e qualquer valor. A pr贸pria terra e suas paisagens parecem sofrer com a guerra e, em consequ锚ncia, a natureza 茅 tamb茅m afetada.
Apesar de as v铆timas civis da guerra terem perdido todo o interesse umas nas outras, um idoso encontra um rapaz moribundo num campo de refugiados, ajuda-o a recuperar-se e ambos v茫o percorrer uma estrada que os leve a algum s铆tio onde possam sobreviver. Nesse caminho sem destino certo, encontram um machimbombo (autocarro) incendiado, com pessoas mortas, onde decidem ficar, uma vez que a铆 existe comida e bancos para dormirem.
Ap贸s retirarem os mortos e limparem o autocarro, o rapaz descobre cadernos escritos por algu茅m que se chamava Kindzu, que nos mesmos narra a hist贸ria da sua vida desde que decide abandonar a sua casa por causa da guerra e da morte do seu pai e irm茫os, e percorrer o pa铆s, em busca do mar, talvez por achar que a铆 poderia encontrar um lugar seguro e ficar em paz.
Todas as noites, o rapaz l锚 os cadernos escritos por Kindzu ao idoso, o que origina maiores la莽os de amizade entre ambos, e durante o dia vagueiam pelos lugares existentes em redor do autocarro em busca de comida, encontrando as personagens mais bizarras, at茅 que decidem tamb茅m ir em dire莽茫o ao mar.
Deste modo, entrecruzam-se duas hist贸rias de vida, a da amizade entre Muidinga (o rapaz) e Tuahir (o idoso), e a de Kindzu, que na sua viagem por 惭辞莽补尘产颈辩耻别, acaba por conhecer em momentos diferentes duas mulheres, por quem se apaixona, pelo que no meio de tanto 贸dio e mortes, tamb茅m 茅 poss铆vel existir o amor.
Por 煤ltimo, neste livro as personagens e as suas vidas t锚m uma envolvente m铆stica, pois a todo o momento nos surgem relatos de feiti莽os, de cren莽as nativas, de fantasmas, de mistura da realidade com a magia, de interfer锚ncias dos mortos e do al茅m na vida terrena; mas do meu ponto de vista, com uma componente excessivamente tr谩gica.
Kni啪ka z kateg贸rie "v媒borne nap铆san谩, no nemohla som sa napoji钮 na pr铆beh." Mo啪no ma zastihla v nespr谩vnej dobe, nevylu膷ujem, 啪e sa k nej v bud煤cnosti nevr谩tim, lebo mnoh茅 mot铆vy ma v knihe zaujali. Tak茅 to pos煤vanie sa na hranici 啪iv媒ch a m艜tvych, to znie viac ako dobr媒 n谩met a ve木mi mi pripomenula kni啪ku od Bena Okriho Hladov谩 cesta, ktor谩 ma narozdiel od tejto 煤plne pohtila.
I really wanted to enjoy this book. It starts well with prose that has a sense of magic in it absent from most contemporary fiction. You'll come upon lines like this: 鈥渢he sea opens like a blue word." But the plot corners itself when the main characters hole up in a bus. And the narrative present shrivels away into magical realism.
But there are still great moments, and the book probably deserves three stars for dialogue like this alone. After the shop of an Indian is burned, the man says, 鈥淚 don鈥檛 like blacks, Kindzu.鈥�
Kindzu says, "What do you mean? Who do you like, then? Whites?
鈥淚 don鈥檛 like them either.鈥�
"Ah, I know: you like Indians. You like your own race."
鈥淣o. I like man who have no race. That鈥檚 why I like you Kindzu."
I don't think I've ever read a book quite like this one, though I can see the bits and pieces of what it is drawing together and I loved it. What an original way to write about the malaise and panic that war can produce in a people and in a person; what an exciting mixture of literary ideals and forms and traditions; what a pleasure to read and explore and watch as it shifts and plays and changes perspectives and possibilities.
It is two stories in one - two books talking to each other in gentle whispers that, like the wind, become clearer but never reveal their origins or destinations. Together, they move from what feels like a real world moment to something that steps deep into the surreal possibilities of the human imagination. And watching this happen in tandem and rhythms feels like a masterclass in structure and imaginative capacity.
For this reason alone I would recommend giving this book a go.
But when you add in the exceptional writing as well; wow! The writing! The mark of an incredible poet and exceptional translator is found in every sentence, every gentle tug at the full power of a word's sound, every shift that takes you suddenly into a surreal examination of human limitation. I can say, with some level of confidence, that I've only been so quickly convinced of a writer's mastery over their craft in one or two or three instances before. Mia Couto is the real deal.
For those who love J.M. Coetzee, Amos Tutuola, Gabriel Garcia Marquez, Mario Vargas Llosa, Miguel Angel Asturias, a hint of Can Xue; or just for those who love to read about worlds that feel like ours and nothing like ours.
Publicado em 1992, no mesmo ano em que teve fim a guerra civil mo莽ambicana, o primeiro romance de Mia Couto 茅 o relato da busca pela identidade de uma na莽茫o assolada pela guerra. Considerada uma das melhores obras da literatura africana do s茅culo XX, o cen谩rio da narrativa 茅 a terra 谩rida e destru铆da, povoada por indiv铆duos sem mem贸ria ou perspectiva de vida. Com uma escrita extremamente po茅tica e on铆rica, o autor consegue transmitir ao leitor a sensa莽茫o de caos e abandono vivenciada por cada um dos personagens por ele constru铆do.
A hist贸ria tem in铆cio com as andan莽as - sem destino - de Muidinga, um jovem que esqueceu seu passado, e Tuahir, um velho s谩bio. Tentando fugir da guerra, os dois personagens se deparam com um 么nibus queimado, repleto de corpos carbonizados. Pr贸ximo de um dos corpos, Muidinga descobre um di谩rio e logo come莽a a l锚-lo. O di谩rio foi escrito por um jovem chamado Kindzu, que vivenciou por muitos anos a guerra civil que destruiu seu pa铆s. A partir disso, os cap铆tulos v茫o se alternando entre, de um lado, a rela莽茫o do garoto e do velho s谩bio, e, de outro, as aventuras de Kindzu.
Ao longo de toda a obra, Mia Couto mistura de uma forma incr铆vel a realidade com a fantasia. Na verdade, tanto para Muidinga e Tuahir, como para Kindzu, a fantasia e o sonho servem como uma fuga para a dura realidade em que vivem. Enquanto a leitura do di谩rio pode levar o garoto e o velho para um outro cen谩rio, em que a fome e a solid茫o n茫o s茫o nem mesmo sentidas, Kindzu sonha em ser um guerreiro lend谩rio, como se isso pudesse dar um sentido 脿 pr贸pria vida.
Nesse meio tempo, somos apresentados a novos personagens, alguns mais marcantes que outros, mas todos com uma mensagem a ser passada. A leitura n茫o 茅 f谩cil, com frases densas e repletas de figuras de linguagem, o que demanda uma aten莽茫o maior. O leitor deve se deixar levar pela imagina莽茫o po茅tica de Mia Couto, sem se importar com o que 茅 ou n茫o real - se 茅 que podemos fazer essa distin莽茫o. S贸 assim ser谩 poss铆vel perceber a excepcionalidade da obra que se tem nas m茫os.
What an extraordinary writer Mia Couto is. He combines some of the most poetic prose you will find with extremely mind twisting magical realism to create incredible but also bizarre stories. This is a tale about a young boy, Muidinga, who has been taken in by an old man, Tuahir. They are escaping from the ravages of war when they discover a burned out bus to take refuge in. While taking the dead bodies out of the bus they discover notebooks that one of the passengers, Kindzu, had left that told his life story. Muidinga then began reading, periodically, to Tuahir the stories that Kindzu had written in the notebook. From this point the book began alternating chapters between the happenings of Muidinga and Tuahir and the tales told in Kindzu's notebooks but as they went on both narratives began merging into one. It is a bewildering tale full of magical happenings and ghostly appearances set in a world of hunger and carnage told in a very unique way.
Apesar de reconhecer todas as qualidades deste livro e da escrita do Mia Couto, n茫o 茅 o tipo de livro que me prende ou que fica na minha mem贸ria por muito tempo. J谩 disse isso outras vezes (sobre outros autores), mas esse estilo de escrita que 茅 muito po茅tico, muito aleg贸rico n茫o costuma me dizer muito. Esse livro tem frases, passagens e imagens lind铆ssimas, e 茅 muito engenhosa a forma do Mia Couto costurar essas hist贸rias da guerra como se fossem indistintas, todas a mesma, como se fosse uma s贸 guerra, como se ela nunca se acabasse. Se voc锚 gosta desse tipo de escrita, bem adjetivada, metaf贸rica e alusiva, recomendo muit铆ssimo.
Estou condenado a uma terra perp茅tua, como a baleia que esfalece na praia.
fiquei pensando na odisseia, pois narra uma viagem que parece n茫o ter fim. por茅m, ao contr谩rio da odisseia, terra son芒mbula 茅 um ciclo e n茫o uma jornada.
"Conte, tio. Se 茅 uma est贸ria me conte, nem importa se 茅 verdade".
o livro conta a hist贸ria que conta outra hist贸ria. e 茅 a pr贸pria hist贸ria escrita que cria a hist贸ria. sei l谩, literatura 脿s vezes 茅 linda demais.
This book was...bizarre. I think I went into it expecting it to be a more or less straightforward historical fiction account of the Mozambican Civil War, but I quickly realized that it was going to be one that relied almost solely on magical realism in the telling. I definitely understand Couto's potential reason for taking this approach (since magical realism in such a context makes sense, especially when trying to dissect and come to terms with something as ravaging and transformative as war). While reading, I was very aware that the entire book served as an allegory for the unspeakable events that likely took place and the damage wrought by the war. I actually think magical realism is a very unique and fitting way to approach such laden, often inexplicable subject matter. Unfortunately, though, I often found the use of magical realism in Sleepwalking Land to be overwhelming and at times frustrating. In particular, the sheer amount of characters and their larger significance within the story itself often felt convoluted and was difficult to follow. This frequently made Sleepwalking Land a difficult read, and I found myself having to walk away from it more than once for days at a time before picking it up again. On top of that, I know I may not be acquainted with all of the nuances of Mozambican culture, but there were events that took place in the book that were confusing and unsettling - I at times wasn't sure if they were mere figments of magical realism, or meant to speak directly to elements of the culture itself. Aside from that certain events were just downright disturbing, and I wasn't sure why they were included at all, since they seemingly had nothing at all to do with the story itself or the over-arching theme of war (an example of this is when Tuahir begins touching Muidinga in a sexual way on p. 127).
All in all I appreciate Couto's perceived reasoning behind examining the Mozambican Civil War through the lens of magical realism, but for me personally it was not a reading journey I enjoyed or would want to revisit. I'm curious if all of Couto's books resemble this one.
Here are my favorite lines/passages from the book:
"Whoever sleeps in another's arms loses their soul, she said. Dreams don't reach their rightful owners when a man and a woman sleep entangled." (p. 99)
"In the end, death is a rope that binds our veins. The knot is there from the day we are born. Time slowly pulls the end of the rope, squeezing the life out of us little by little." (p. 124)
"Uncle, I feel so small..." "That's because you're alone. That's what the war has done: now, all of us are alone, the dead and the living. There's no nation any more." (p. 159)
"Do you weep for the present? Well, know that the days to come will be worse still. That's why they made this war, to poison the womb of time, so that the present would give birth to monsters instead of hope. Don't seek your relatives any more, those who have left for other lands in search of peace. Even if you find them again, they will not recognise you. You have turned into beasts of the wild, without family, without a nation. For this war was not made to take you away from your country, but to take the country away from within you." (p. 210)
A obra tem como pano de fundo os tempos de guerra em 惭辞莽补尘产颈辩耻别, e 茅 neste cen谩rio que toda a hist贸ria se desenrola. As personagens s茫o de uma enorme humanidade, onde vigora um doloroso desespero e uma esperan莽a que se recusa a morrer, permanecendo sempre uma dimens茫o m谩gica e m铆tica. A obra 茅 de uma riqueza liter谩ria e cultural fenomenal, que proporciona o conhecimento realista da cultura tradicional mo莽ambicana, prezando tamb茅m a vertente da magia, os sonhos e os simbolismos.
脡 vis铆vel aos leitores o fortalecimento que se verifica na rela莽茫o quer entre Tuahir e Muidinga, quer deste 煤ltimo com os cadernos (de Kindzu) que encontra num machimbombo [autocarro] queimado (panorama p贸s-guerra), e que cont茅m relatos de uma hist贸ria que ir谩 entrela莽ar-se 脿 sua. O velho Tuahir, errante e analfabeto, torna-se na 煤nica figura significativa para Muidinga, (re)ensinando-o a viver, atrav茅s da transmiss茫o de cren莽as, valores e tradi莽玫es mo莽ambicanas. E aqui se verifica a beleza da obra: um jovem, em busca de seus pais, que devido a uma doen莽a perdeu a sua mem贸ria e com a companhia da 煤nica pessoa que encontra parte numa viagem reveladora de um enorme construtivismo e construcionismo social. Ao longo dessa busca este par ins贸lito embarca num processo de descoberta de si mesmos, ensinamentos m煤tuos, constru莽玫es de mundos e de significados, enfrentando a insanidade e a mis茅ria que se propaga em seu redor com uma postura de recusa da morte do alento.
Repleta de aventura e met谩foras de um n铆vel fascinante, que por vezes encobrem cr铆ticas ao povo portugu锚s, aprecia-se ainda a capacidade do autor em criar numa s贸 obra duas hist贸rias, que decorrem em momentos temporais distintos, separadas pela guerra, mas que se cruzam fazendo, na verdade, parte de apenas uma hist贸ria comum, estando unidas por uns simples cadernos (os cadernos de Kindzu). Resta mencionar que a narrativa tem um desfecho sugestivo, oferecendo ao leitor a oportunidade para imaginar o futuro do jovem.
Terra Son芒mbula foi o primeiro romance do famoso autor mo莽ambicano, e tamb茅m o livro que tornou Mia Couto o meu autor liter谩rio favorito.