Kind instructors! what were we created for? To remain, it may be said, innocent; they mean in a state of childhood. We might as well never have been bKind instructors! what were we created for? To remain, it may be said, innocent; they mean in a state of childhood. We might as well never have been born, unless it were necessary that we should be created to enable man to acquire the noble privilege of reason, the power of discerning good from evil, whilst we lie down in the dust from whence we were taken, never to rise again.
Ignorance is a frail base for virtue! Yet, that it is the condition for which woman was organized, has been insisted upon by the writers who have most vehemently argued in favour of the superiority of man; a superiority not in degree, but essence; though, to soften the argument, they have laboured to prove, with chivalrous generosity, that the sexes ought not to be compared; man was made to reason, woman to feel: and that together, flesh and spirit, they make the most perfect whole, by blending happily reason and sensibility into one character. A Vindication Of The Rights Of Women, by Mary Wollstonecraft
É preciso entrar numa máquina do tempo, recuar 125 anos e tentar imaginar o que seria a sociedade da época para se fazer um juízo justo sobre este manifesto feminista que Ana de Castro Osório escreveu às mulheres portuguesas quando tinha 33 anos.
Em 2025, algumas das ideias deste manifesto feminista podem parecer-nos retrógradas e conservadoras - outras são bastante actuais - mas foi grande a coragem da ACO ao escrevê-las e mais ainda ao publicá-lo.
Como disse Simone de Beauvoir:
nunca te esqueças que basta uma crise política, económica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Terás de te manter vigilante durante toda a vida.
E, nos tempos que correm, basta olhar para o que se passa, por ex., nas terras do Tio Sam, para perceber que essa vigilância tem de ser cada vez mais apertada. Uma vez mais, os direitos das mulheres estão a ser postos em causa. Esperemos que daqui a 125 anos as mulheres do futuro olhem para nós e nos achem retrógradas e conservadoras.
Ana de Castro Osório nasceu a 8 de Junho de 1872 em Mangualde e faleceu a 23 de Março de 1935 em Setúbal. Foi escritora - sobretudo de livros infantis - jornalista e pedagoga. Era também marcadamente feminista e activista republicana.
Na litografia alegórica de homenagem à República, realizada por Roque Gameiro, Ana de Castro Osório é colocada pelo artista como figura de grande relevância. Surge em primeiro plano, ao lado da representação da República, num lugar de inequívoco destaque. [image]
No fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, Portugal atravessava um período de grande instabilidade política e social. A monarquia encontrava-se em declínio, processo que culminaria na proclamação da Primeira República, em 1910. Este contexto histórico foi marcado por um forte impulso reformista, impulsionado pela difusão de ideais republicanos, laicos e progressistas, que procuravam modernizar o país em múltiplas dimensões. Mas, a sociedade portuguesa permanecia profundamente patriarcal, analfabeta e com um catolicismo enraizado que confinava as mulheres ao espaço doméstico excluindo-as, quase por completo, da participação na esfera cívica e política. É precisamente neste cenário que o movimento feminista começa a adquirir maior visibilidade, sobretudo graças ao contributo de figuras como ACO, que se destacou na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da educação como instrumento fundamental da emancipação feminina. Desenvolveu intensa campanha em prol dos direitos das mulheres, fundando o Grupo Português de Estudos Feministas, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, a Associação de Propaganda Feminista e a Cruzada das Mulheres Portuguesas.
Neste manifesto feminista ACO entra logo a matar:
Feminismo: é ainda em Portugal uma palavra de que os homens se riem ou se indignam, consoante o temperamento, e de que a maioria das próprias mulheres coram, coitadas, como de falta grave cometida por algumas colegas, mas de que elas não são responsáveis, louvado Deus!
e a partir daqui dirige-se às mulheres do seu/meu país, com o objectivo de despertar a sua consciência cívica, social e política num contexto profundamente conservador e machista.
Porque ser feminista não é querer as mulheres umas insexuais, umas masculinas de caricatura, como alguns cuidam; mas sim desejá-las criaturas de inteligência e de razão, educadas útil e praticamente de modo a verem-se ao abrigo de qualquer dependência, sempre amarfanhante para a dignidade humana.
ACO apela:
à educação,
uma educação séria e fundamentada, começando nas coisas práticas e úteis da vida, acabando na literatura e na arte em geral (�)
Educar a mulher; torná-la útil a si e aos seus, pelo trabalho remunerado; escolher cada homem livre esposa que o seja, não só do corpo, mas também do espírito, não só humilde e paciente dona de casa, mas nobre e inteligente educadora, foco de luz e de bondade superior, irradiando na família, como sol por onde se norteia a alma caminhando para o futuro.
à independência financeira através do trabalho,
Mas esperemos serenamente, porque à mulher portuguesa há-de chegar também a sua vez de compreender que só no trabalho pode encontrar a sua carta de alforria. (�)
Educar a mulher dando-lhe meios de poder auferir com o seu trabalho o suficiente para a sua sustentação � quando é só � de auxiliar o homem, esgotado pelo trabalho de sobreposse que lhe exige a concorrência e a carestia da vida moderna � quando casada �, parece-nos a maneira mais prática de a tornar um ser livre, apta a escolher por moto-próprio o caminho a seguir direitamente na vida.
E desde que se torne independente pelo seu próprio esforço, desde que saiba agenciar o pão que come, a casa que habita, os vestidos que veste, sem estar à espera do homem, fonte perene de todo o dinheiro que hoje a sustenta � seja como pai, como marido ou irmão � a sua alforria está decretada.
ao progresso,
É fundamental este assunto, visto que a nossa civilização se baseia não na força, mas na inteligência, não na rotina, mas no progresso.
à instrução das mulheres
O que falta no nosso país é a instrução, principalmente a instrução prática que faz progredir um povo.
A independência da mulher não pode importar o não reconhecimento da autoridade do marido (um dos grandes receios de V. Ex.ª) porque essa autoridade existe, se não de facto, pelo menos de direito, enquanto existirem as leis que hoje nos governam, leis que a mulher deveria conhecer quando vai casar, leis que a tornam uma menor sob a tutela directa do homem.
e à sua participação activa na sociedade,
Escolham os homens livres companheiras que igualmente o sejam; determinem-se os campos, forme-se a família pelas convicções de cada um e não pelas convenções duma sociedade que não tem sinceridade nem nobreza, e a transformação será completa.
à luta por direitos iguais
Por igual trabalho, igual paga � tal deve ser o princípio fundamental do labor feminino.
E defende que as mulheres não podem aceitar continuar a ser espectadoras da história e devem ser protagonistas da transformação social.
Mas não se fica apenas por aqui. Também explora temas como a habitação, a necessidade de hospitais e maternidades, a higiene, a criação de creches e infantários para os filhos das trabalhadoras.
Os homens não ficam bem na fotografia:
O homem português não está habituado a deparar no caminho da vida com as mulheres suas iguais pela ilustração, suas companheiras de trabalho, suas colegas na vida pública; por isso as desconhece, as despreza por vezes, as teme quase sempre.
O homem português, como todo o dos povos latinos, despreza no fundo a mulher, apesar de ser o que mais a tem cantado poeticamente e turificado pelo amor.
Há ao longo do manifesto alguns aspectos conservadores e nacionalistas que aos nossos olhos são retrógrados, mas mesmo assim alguém tinha que dar o pontapé de saída numa luta que não terá fim.
Desde há muito que Célia Correia Loureiro aparece na minha timeline aqui do GoodReads com classificações excelentes e recensões que a colocam como umaDesde há muito que Célia Correia Loureiro aparece na minha timeline aqui do GoodReads com classificações excelentes e recensões que a colocam como uma das grandes vozes desta nova geração de autoras portuguesas.
Optei por iniciar com este No Tempo das Cerejas � não contabilizo o conto A Lucidez que li em 2022 � por ser o mais recente e se passar nas ruas, vielas e becos de Lisboa, sempre com o fado como banda sonora.
Mas, entre uma Severa e uma Amália, saiu-nos na rifa uma cantadeira: Irene Silva Vaz. É como num cesto de cerejas, há sempre umas com bicho.
Irene decide contar a sua trágica história a um jornalista, Serafim Almeida, para futuramente ser publicada num livro. É assim que conhecemos as origens, as amizades, os amores, as dificuldades e as opções de vida da protagonista. É durante as entrevistas entre Serafim e Irene que percorremos alguns locais interessantes da cidade de Lisboa como o Luna-Parque, a Estufa Fria ou o restaurante do aeroporto, mas pouco mais. Do fado, do fado vadio, da vida das fadistas, da noite lisboeta pouco nos é apresentado.
A história é lenta, a leitura também e o livro é demasiado grande o que torna tudo um pouco mais chato. Há demasiado Serafim nesta história, e ele nem vale isso tudo.
Embora não tenha nada a apontar à escrita da CCL (talvez a tenha achado aqui e ali um bocado pretensiosa) acho que lhe faltou alma, intensidade e paixão.
No final a autora deixa uma nota onde diz:
Que este livro seja uma ode a Lisboa e à portugalidade.
Lamento, mas não é uma ode a Lisboa nem tão pouco à portugalidade. Captar a essência de uma cidade e de um país exige muito mais do que isto....more
O primeiro livro desta Trilogia dos Lugares Sem Nome não me aqueceu nem arrefeceu, e este segundo volume segue mais ou menos o mesmo caminho.
De obsesO primeiro livro desta Trilogia dos Lugares Sem Nome não me aqueceu nem arrefeceu, e este segundo volume segue mais ou menos o mesmo caminho.
De obsessões contínuas com este ou aquele livro, com este ou aquele escritor, com este ou aquele crítico literário. Com o sucesso ou o fracasso da tua obra. De manuscritos rasgados e de crises de pânico. Claro que existiram temporadas de alguma tranquilidade. Certíssimo....more
No Japão do século XVII, entre a miséria provocada por impostos exorbitantes e a perseguição implacável aos cristãos, cerca de 35.000 revoltosos levanNo Japão do século XVII, entre a miséria provocada por impostos exorbitantes e a perseguição implacável aos cristãos, cerca de 35.000 revoltosos levantaram-se contra o xogunato. Esta é a história da Revolta de Shimabara, onde camponeses exaustos, viúvas guerreiras e missionários encontraram o seu destino num cerco que duraria meses.
Esta revolta pode ser vista de duas perspectivas:
Dzó
O xogum Matsukura desmantelou os seus castelos de Hara e Hinoe (cidade de Minamishimabara, província de Nagasaki), e começou a construção do novo Castelo de Shimabara (também conhecido como Castelo Matsutake). Os custos da empreitada foram tão grandes que a única solução foi um aumento absurdo de impostos.
Matsukura Katsuie, governante de Shimabara, sabia que uma colheita de arroz produziria cerca de 60 mil koku. Arbitrariamente, estipulou 120 mil koku como imposto mínimo, retirando aos camponeses tudo o que tinham. Ano após ano, os camponeses ficavam sempre mais exaustos, já não conseguindo alimentar sequer as crias do seu gado e os cavalos.
Religiosa
Para além dos problemas económicos os camponeses também enfrentavam a intolerância religiosa, principalmente aqueles que tinham adoptado a religião católica durante o período de colonização europeia.
� Já vai longa a história desses kirishitans no meu solo sagrado. O édito de expulsão do meu avô declarava: «Não pode sobrar um dedo de solo para os que se dizem cristãos.» Seria de prever algum tempo para os eliminar, mas este atraso na pacificação na ilha de Kyushu surpreende-me. Desde que Ieyasu declarou o budismo a religião estatal já lá vão décadas�
Os revoltosos refugiam-se no velho castelo de Hara. É aqui que conhecemos Jana e Tago - � Jana e Tago derivam de nomes portugueses, difíceis de pronunciar. - uma viúva e o seu filho. É durante o cerco, que dura alguns meses, que acompanhamos estas duas personagens. Jana é uma camponesa, uma mulher misteriosa, uma guerreira, que se apaixona por Haru, um dos ronins mais importantes e muito próximo do líder da revolta. Ficamos também a conhecer Clarimundo Céu missionário jesuíta português que entra no castelo de Hara para lá permanecer no cerco, juntamente com os restantes kirishitans, e mais algumas personagens periféricas. A força da resistência destes revoltosos surpreendeu todos, mas a revolta de Shimabara teve um final trágico e quase toda a população kirishitan foi massacrada.
Gostei da escrita da autora, mas acho que falta força ao romance. As personagens poderiam ter sido mais desenvolvidas e a história mais envolvente.
A Década Prodigiosa: Crescer em Portugal nos Anos 80 é mais do que um exercício de nostalgia; é um retrato de um país em mudança e de uma geração que A Década Prodigiosa: Crescer em Portugal nos Anos 80 é mais do que um exercício de nostalgia; é um retrato de um país em mudança e de uma geração que acreditava ser possível transformar o futuro.
É durante esta década que aqueles que eram crianças no 25 de Abril iniciam a sua pré-adolescência e acabam a entrar na idade adulta. O contexto que se vivia no nosso país também ajudou a viver todos esses anos com uma intensidade desmedida. Com as suas conquistas e dificuldades, os anos 80 deixaram uma marca na memória colectiva dos portugueses, numa convergência de vivências que dificilmente se voltará a repetir. Portugal estava em transição entre o passado e o futuro, e nós éramos o futuro, a geração que podia mudar tudo e fazer deste pequeno rectângulo um país moderno afastado dos valores e das amarras de uma ditadura que nos empobreceu, em todos os sentidos, ao longo de quarenta anos.
É a década da transformação e da modernização, da adesão à CEE, da abertura a novas formas de pensar e agir, da democracia e da liberdade. Tudo está em constante mudança e transformação. Começamos a querer chegar ao padrão dos países europeus e percebemos que era possível mesmo com os problemas sérios que tivemos que enfrentar.
Não é um livro nostálgico, é mais um retrato de um país e das suas gentes. Embora tenha gostado de relembrar tantas e tantas coisas (só não me recordo do tal de Adam Curry, e do pseudo êxito A Salsa das Amoreiras dos Afonsinhos do Condado) acho que o autor dá uma visão demasiado masculina da década, e falta o lado feminino da coisa � nós não éramos só miúdas que gostavam de ir à Feira de Carcavelos comprar roupa e que tínhamos fitinhas no guiador da bicicleta. Não me senti representada em nenhum momento durante a leitura.
Percebo que é muito da visão de um homem que viveu esta década na Linha de Cascais, e não saía muito da sua zona, o próprio assume que visitar Lisboa significava quase só ir comprar discos, na Motor (mais tarde, Bimotor), nos Restauradores, ou à Melodia, na Rua do Carmo e que só entrou na Brasileira com mais de quarenta anos. No entanto, a década foi muito mais do que isso, e faltam-me os detalhes das vivências femininas e das mulheres que também ajudaram a moldar o país que somos hoje. No fundo, é um daqueles livros que mereceria 3 estrelas, mas dou-lhe uma quarta pelas recordações que me trouxe.
E não há outra forma de começar: ele nasceu três vezes. Compreendê-lo passa por testemunhar os dois rebatismos que se seguiram ao batismo original. E E não há outra forma de começar: ele nasceu três vezes. Compreendê-lo passa por testemunhar os dois rebatismos que se seguiram ao batismo original. Ele começou na qualidade de João Miguel Correia Azul, rapaz acanhado de uma aldeia serrana. Aos onze anos, a vida obrigou-o a renascer na pele de ç, puto do infame Janeirinho, um dos morros que cerca Lisboa a norte e oeste. Aos vinte e poucos anos, renasceu de novo e de livre vontade. Ele próprio orquestrou o seu terceiro e mediático parto que deu origem a Lucas Andrade, pseudónimo que lhe deu a mais improvável das parcerias: fé e fama literária.
Há livros que nos tocam, e este, com uma história tão bem contada e bastante profunda, é um deles. Às vezes, só queremos encontrar uma boa história, e este livro oferece-nos isso. Como alguém que sempre viveu em Lisboa, aquele Janeirinho pareceu-me tão real que quase jurava já lá ter estado. Estive noutros, até porque Lisboa é cercada por uma muralha de morros que vai da Buraca até Loures.
A história aborda como as circunstâncias moldam quem nós somos. João Miguel é influenciado pela austera e autoritária avó Eduarda, pelo pai resiliente e pela mãe exigente. Já ç é um sobrevivente de um bairro complicado, com amigos violentos, mas também com uma professora que o desafia intelectualmente e com a avó emprestada Judite, que o mantém no prumo.
Já Lucas Andrade é a soma de tudo isso.
É impossível não nos conectarmos com as personagens e com os lugares, até porque, para uma determinada geração, estas vivências fizeram parte do nosso dia-a-dia.
Do autor sei pouco, apenas que, há uns anos, houve alguma polémica por causa do seu livro Alentejo prometido e, mais recentemente, por questões relacionadas com o seu posicionamento político. Sinceramente, isso não me interessa para nada, porque este é, sem dúvida, um grande livro e uma grande história e não merece um boicote literário. ...more
O é uma iniciativa que se dedica à conversão de clássicos da língua portuguesa, que já estão em domínio público, para formato digitO é uma iniciativa que se dedica à conversão de clássicos da língua portuguesa, que já estão em domínio público, para formato digital. Ricardo Lourenço é o responsável pela compilação destes 27 contos e novelas, sendo 13 de autores portugueses e 14 de brasileiros, e que de outra forma não teria lido por desconhecimento de muitos dos autores aqui apresentados. Obviamente que numa colectânea destas há sempre uns quantos contos que não nos enchem as medidas, mas a experiência foi muito positiva e no fim só não gostei mesmo do conto Os Canibais de Álvaro do Carvalhal.
Os meus favoritos foram:
🇹 O Defunto � Eça de Queirós (já tinha lido anteriormente) A Caveira � Camilo Castelo Branco A Torre Derrocada � Alberto Osório de Vasconcelos A Feiticeira � Ana de Castro Osório
🇧🇷 A Dança dos Ossos � Bernardo Guimarães Os Porcos � Júlia Lopes de Almeida Demônios � Aluísio Azevedo
Merged review:
O é uma iniciativa que se dedica à conversão de clássicos da língua portuguesa, que já estão em domínio público, para formato digital. Ricardo Lourenço é o responsável pela compilação destes 27 contos e novelas, sendo 13 de autores portugueses e 14 de brasileiros, e que de outra forma não teria lido por desconhecimento de muitos dos autores aqui apresentados. Obviamente que numa colectânea destas há sempre uns quantos contos que não nos enchem as medidas, mas a experiência foi muito positiva e no fim só não gostei mesmo do conto Os Canibais de Álvaro do Carvalhal.
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas nasceu no dia 6 de outubro de 1893 em Torres Novas. Foi uma escritora, tradutora, jornalista [image]
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas nasceu no dia 6 de outubro de 1893 em Torres Novas. Foi uma escritora, tradutora, jornalista e ativista política feminista portuguesa. Frequentou a escola primária do Conde Ferreira e completou os estudos no Colégio das Teresianas de Jesus Maria José, em Torres Novas, em regime de internato. Casou-se com 17 anos, com Teófilo José Pignolet Ribeiro da Fonseca, republicano e oficial da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas. Grávida acompanhou o marido, enviado em missão para trabalhar em Angola. Regressa a Portugal, novamente grávida e disposta a conseguir o divórcio e lutar pela tutela das suas filhas, vendo a sua imagem abalada, não só pelo divórcio e a emancipação da mulher serem um tabu na tradicionalista e conservadora sociedade portuguesa, mas por ter atacado verbalmente o seu marido em público. Em 1920 é-lhe concedido o divórcio, permitindo-lhe, casar com o jornalista e apoiante monárquico Alfredo da Cunha Lamas, com quem teve a terceira filha. Divorciou-se novamente em 1936, embora tenha ficado com o apelido Lamas. Escreveu para os jornais "O Século", "O Almonda", "A Joaninha", "A Voz", "A Capital" e o "Diário de Lisboa". Publicou poemas, crónicas, novelas, folhetins, textos para crianças, adolescentes e mulheres, sendo estes últimos de cariz interventivo e político sobre a reivindicação dos direitos das mulheres. Em 1928 dirige o suplemento "Modas & Bordados" do jornal "O Século". Por esta altura começou a luta pela dignificação e a emancipação da mulher, associando-se ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP). Inscreve-se na Associação Feminina para a Paz, e passa a assinar as suas obras como Maria Lamas, porque até aqui assinava com diversos pseudónimos. Um deles terá marcado as mulheres portuguesas do início do século XX, a "Tia Filomena", responsável pelas respostas do correio sentimental do "Modas & Bordados". Em 1945, tornou-se presidente da Direção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, até ter sido proibida pelo governo, cessando a sua existência. Nos anos seguintes continuou a desenvolver uma atividade propagandista e ativista contra o Estado Novo, o que originou várias perseguições e detenções pela PIDE. Em 1962, viajou para Paris, passando a residir como exilada política. Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, Maria Lamas, com 80 anos de idade foi agraciada e homenageada diversas vezes. Foi dirigente do Comité Português para a Paz e Cooperação; diretora honorária da revista "Modas & Bordados"; presidente honorária do Movimento Democrático de Mulheres (MDM); diretora da publicação "Mulheres"; filiou-se oficialmente no Partido Comunista Português; recebeu a Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República, Ramalho Eanes, em 1980; foi homenageada pela Assembleia da República, em 1982 e recebeu a Medalha Eugénie Cotton, da Fédération Démocratique Internacionale dês Femmes, em 1983. Morreu a 6 de dezembro de 1983, com 90 anos de idade, em Lisboa.
Fonte:
Maria Lamas viajou pelo país durante dois anos para documentar as condições de vida das mulheres portuguesas na primeira metade do século XX. Ainda não passaram 100 anos, e hoje podemos afirmar que, embora ainda haja muito trabalho a fazer, a evolução é, sem dúvida, enorme. Este país construiu-se com as mulheres, e sem a sua força e resiliência já não existiríamos. Que grande trabalho! Data venia Maria Lamas.
Esta obra é uma mistura de reportagem, estudo sociológico e retrato cultural, e dá voz a mulheres de diferentes classes sociais, desde as camponesas às operárias das cidades, e de várias regiões, do Norte ao Sul e Ilhas. Apresenta-nos uma visão das dificuldades enfrentadas por elas, que incluíam a pobreza, o trabalho extenuante e mal remunerado, a violência, e até a opressão por parte de uma sociedade machista e patriarcal.
Não podemos esquecer que esta obra foi publicada durante a ditadura do Estado Novo, num país conservador que promovia a ideia de que "elas governavam a casa, eles mandavam no mundo", e é um tiro certeiro no porta-aviões. Embora existissem variações regionais, as mulheres por todo o país enfrentavam desafios semelhantes: trabalho árduo, baixos salários, falta de educação e acesso limitado a direitos básicos como saúde e habitação. A luta era comum, tal como a resiliência e força dessas mulheres, que, apesar das dificuldades, continuavam a desempenhar papéis cruciais nas suas famílias e comunidades. Para além de uma crítica social, é, acima de tudo, uma denúncia social que sublinha a necessidade de mudança e da emancipação feminina.
As Mulheres do Meu País mostra também o desejo das mulheres mais jovens por uma vida melhor, mesmo quando esse desejo era de difícil concretização devido às condições em que se encontravam. É um livro duro, mas cheio de esperança numa mudança possível através do acesso à educação e da transformação social.
Originalmente, As Mulheres do Meu País foi publicado em 15 fascículos mensais.
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Foi reeditado pela Caminho, salvo erro, em 2003, num volume único com 3,356 kg e um formato muito pouco prático para uma leitura confortável. Na verdade, para uma leitura mais confortável, quase seria necessário um estirador de desenho! Algo que nos permitisse apoiar o livro e folheá-lo sem o risco de um incidente ortopédico. Brincadeiras à parte, uma obra de tal relevância social e histórica merecia uma abordagem editorial mais prática. A opção de editar o livro em fascículos teria, no mínimo, poupado os nossos pulsos e facilitado uma leitura mais cómoda.
Na loja do jornal este livro está à venda em fascículos num valor superior a 200� ou completo por 189,50�.
A Fundação Calouste Gulbenkian promoveu uma exposição entre 26 de Janeiro e 28 de Maio de 2024 chamada .
Logo desde o princípio o livro estabelece o profundo impacto que o peso tem na vida da protagonista.
Quarenta quilos é muito peso. Foram os q
4,5 ⭐️
Logo desde o princípio o livro estabelece o profundo impacto que o peso tem na vida da protagonista.
Quarenta quilos é muito peso. Foram os que perdi após a gastrectomia: era um segundo corpo que transportava comigo. Ou seja, que arrastava. Foi como se os médicos me tivessem separado de um gémeo siamês que se suicidara de desgosto e me dissessem, no final, «fizemos o nosso trabalho, faça agora o seu e aguente-se. Aprenda a viver sozinha».
Mas o livro não se resume a isso.
Mergulhamos nos pensamentos mais íntimos de Maria Luísa. A sua história percorre a infância e a adolescência até à vida adulta, quando os estigmas começam a moldar as suas relações familiares, amorosas e sociais. Ao longo desse percurso, depara-se com memórias dolorosas, vergonha e olhares de reprovação, mas também com momentos de revolta e aceitação, criando uma relação ambivalente com o seu próprio corpo.
Eu era gorda, com alta miopia, barriga e mamas a sério. Eu era a subalterna. A boa e inteligente serviçal feia.
(�) a mamã cuidou do meu cabelo, lavou-me, vestiu-me, calçou-me, alimentou-me, repreendeu-me e censurou-me por «engordar muito», por «estar cada vez mais gorda». «É que se não emagreces acabas como o teu pai», avisava.
Maria Luísa vive num conflito constante entre o desejo de ser amada e respeitada tal como é e a pressão para se conformar aos padrões de beleza e normalidade estabelecidos pela sociedade. Este dilema reflecte-se nas suas relações amorosas. Embora procure amor e afecto, é frequentemente confrontada com a discriminação e a rejeição que os homens demonstram em relação ao seu corpo.
«Não vás a minha casa. Os meus amigos gozam-me por tua causa.» E eu não ia. O meu corpo não servia ao David nem a ninguém. Não valia a pena ter ilusões sobre a forma como tudo o que nasce sobre a terra merece digno destino. Se eu não servia para o David não serviria para ninguém nesta vida. E se o meu corpo não servia, nada mais do que eu era poderia aproveitar-se, nem eu o permitiria; portanto restava afastar-me do que me repelia. Tornei-me dura com ele. Implacável. Feria-o a cada oportunidade. Perguntava-lhe, «vens com a gorda ou preferes ir com pessoas normais?». Dizia-lhe, «vai andando; eu sigo atrás de ti para não sentires a vergonha de andar com uma gorda ao lado. Faz de conta que não nos conhecemos».
A sua obesidade torna-se uma barreira não só física, mas também emocional. Afasta-a das pessoas. A dor e a frustração que sente em relação à maneira como é vista levam-na a momentos de isolamento e melancolia. Ao longo da história, o peso de Maria Luísa não é apenas corporal, mas também emocional, carregado de memórias, expectativas falhadas e desilusões.
A escrita de Isabela Figueiredo é franca, directa, crua e sem eufemismos e parece-me intenção da autora romper com os filtros e as convenções sociais que muitas vezes suavizam ou escondem as realidades desconfortáveis da vida, especialmente no que toca a temas como o corpo, a obesidade e a identidade feminina. Constrói uma figura complexa que, apesar de todas as adversidades, continua a lutar por um lugar onde possa ser reconhecida e amada pelo que realmente é.
As Cartas Portuguesas, publicadas pela primeira vez em 1669, são atribuídas a Mariana Alcoforado, uma freira portuguesa do Convento de Nossa Senhora dAs Cartas Portuguesas, publicadas pela primeira vez em 1669, são atribuídas a Mariana Alcoforado, uma freira portuguesa do Convento de Nossa Senhora da Conceição em Beja. No entanto, a autenticidade e a autoria das cartas foram alvo de debate durante séculos. Muitos historiadores contemporâneos acreditam que as cartas foram escritas por Gabriel-Joseph de Lavergne, conde de Guilleragues, um autor francês, e que a sua publicação inicial em francês adiciona uma camada de mistério à sua origem.
Sejam “As Cartas� verídicas ou não, Mariana Alcoforado, existiu realmente, e o escândalo que houve em torno da sua pessoa, também foi verdadeiro.
A obra é composta por cinco cartas supostamente escritas por Mariana a um oficial francês, Noël Bouton de Chamilly, que a abandonou após uma relação amorosa intensa.
Mariana faz do Amor a sua Religião.
As cinco cartas seguem um percurso emocional que retrata um "decrescendo" sentimental, um movimento gradual da paixão intensa para a lucidez amarga.
Mariana inicia com um fervor apaixonado, expressa a dor da separação e a intensidade dos seus sentimentos. O amante é descrito como alguém decidido a um afastamento, justificando a sua partida com pretextos bastante mesquinhos. À medida que as cartas progridem, Mariana começa a reconhecer a realidade do afastamento do amante. As ilusões sobre o relacionamento e o amante começam a dissipar-se, à medida que a realidade se torna mais clara e os sentimentos de Mariana tornam-se mais reflexivos e críticos. Mariana enfrenta finalmente a realidade do relacionamento. As ilusões e esperanças de reconciliação desaparecem completamente. Ela reflecte sobre a situação com uma lucidez dolorosa, reconhecendo a natureza efémera e insustentável da ligação.
A evolução dos sentimentos de Mariana explica as numerosas contradições nas suas cartas. Inicialmente, a sua paixão é intensa e desafiadora, mas conforme a realidade se instala, a sua perspectiva torna-se mais crítica e autocrítica. Estas contradições reflectem a sua luta interna entre o desejo apaixonado e a aceitação dolorosa da realidade. ...more
Gervásio Lobato nasceu em Lisboa e, embora tenha morrido cedo (aos 46 anos), escreveu bastante durante a sua curta existência, principalmente peças deGervásio Lobato nasceu em Lisboa e, embora tenha morrido cedo (aos 46 anos), escreveu bastante durante a sua curta existência, principalmente peças de teatro.
Lisboa em Camisa descreve o dia-a-dia de uma família da pequena burguesia que habita na Rua dos Fanqueiros, na capital. As peripécias são mais que muitas, e as situações não deixam de ser uma crítica humorística e satírica da sociedade da época, retratando as classes sociais e os seus comportamentos, com especial ênfase nas aparências e na hipocrisia social.
É uma leitura leve, divertida, que me arrancou muitas gargalhadas e sorrisos.
Gostei muito mais da primeira parte, o nascimento de Moisés, que culmina no antes e depois do baptizado.