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Mal-entendido em Moscovo
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Mal-entendido em Moscovo é um livro/conto que se lê praticamente de um trago, nem chega às 100 páginas, com uma mensagem bastante interessante e pertinente. Confesso que tinha muita curiosidade quanto à escrita de Simone de Beauvoir mas tive receio de começar com O Segundo Sexo, que comprei de impulso devido à temática. Queria muito desfrutar da sua leitura, pelo que este primeiro contacto com a sua escrita foi vital para que os dois volumes saiam em breve da estante para as minhas mãos, após mais de um ano de espera.
Este livro relata a crise conjugal de um casal de meia idade, Nicole e André, durante uma viagem a Moscovo de visita à filha do primeiro casamento de André, Macha. Para além da crise conjugal que nos é apresentada, Simone de Beauvoir explora outras temáticas mais abrangentes, fazendo um relato sobre a União Soviética em meados dos anos 60 e mencionando a condição feminina da geração de Nicole, absorvida pela vida familiar, bem como da geração seguinte, que tudo tenta conciliar, sem de facto aprofundar alguma coisa.
A parte que mais me interessou durante a leitura do livro foi de facto a crise conjugal, justaposta ao pensamento e à condição feminina que nos é apresentada. A forma como Beauvoir explora e escreve sobre os sentimentos e pensamentos dos personagens principais, Nicole e André, tocou-me de forma especial, relembrando-me Ferrante, no que toca sobretudo a Nicole. A sua escrita tem um encanto especial quando se debruça sobre as problemáticas femininas.
"Nunca imaginara que viria a preocupar-se com o seu peso. E vejam só! Quanto menos se reconhecia no seu corpo, mais se sentia obrigada a tratar dele. Tinha-o a seu cargo e cuidava-o com uma devoção enfastiada, como de um velho amigo caÃdo em desgraça e diminuÃdo que precisava da sua ajuda."
"Nunca recuperou desse olhar; deixou de sentir-se conciliada com o seu corpo: era um estranho despojo, uma máscara deplorável. Talvez aquela metamorfose tivesse sido gradual, mas a sua memória condensava-a naquela imagem: dois olhos de veludo que se desviavam dela com indiferença. Desde esse dia, sentiu-se gélida na cama: temos de gostar um pouco de nós próprios para nos deleitarmos nos braços do outro."
A mensagem deste conto prende-se sobretudo com a comunicação com o outro, explorada à medida que se descreve a problemática do envelhecimento: o desgaste dos corpos, a renúncia à sexualidade, o abandono dos projectos, a perda de esperança (excerto do prefácio). O facto de me ter identificado com alguns dos problemas relatados ao longo deste livro, apesar de ainda ter menos de 30 anos, contribuiu largamente para a minha opinião positiva, embora sinta um misto de sensações face à dimensão da narrativa. Por um lado, está lá tudo, por outro, poderia ler mais cem páginas sem me importar absolutamente nada.
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Mal-entendido em Moscovo é um livro/conto que se lê praticamente de um trago, nem chega às 100 páginas, com uma mensagem bastante interessante e pertinente. Confesso que tinha muita curiosidade quanto à escrita de Simone de Beauvoir mas tive receio de começar com O Segundo Sexo, que comprei de impulso devido à temática. Queria muito desfrutar da sua leitura, pelo que este primeiro contacto com a sua escrita foi vital para que os dois volumes saiam em breve da estante para as minhas mãos, após mais de um ano de espera.
Este livro relata a crise conjugal de um casal de meia idade, Nicole e André, durante uma viagem a Moscovo de visita à filha do primeiro casamento de André, Macha. Para além da crise conjugal que nos é apresentada, Simone de Beauvoir explora outras temáticas mais abrangentes, fazendo um relato sobre a União Soviética em meados dos anos 60 e mencionando a condição feminina da geração de Nicole, absorvida pela vida familiar, bem como da geração seguinte, que tudo tenta conciliar, sem de facto aprofundar alguma coisa.
A parte que mais me interessou durante a leitura do livro foi de facto a crise conjugal, justaposta ao pensamento e à condição feminina que nos é apresentada. A forma como Beauvoir explora e escreve sobre os sentimentos e pensamentos dos personagens principais, Nicole e André, tocou-me de forma especial, relembrando-me Ferrante, no que toca sobretudo a Nicole. A sua escrita tem um encanto especial quando se debruça sobre as problemáticas femininas.
"Nunca imaginara que viria a preocupar-se com o seu peso. E vejam só! Quanto menos se reconhecia no seu corpo, mais se sentia obrigada a tratar dele. Tinha-o a seu cargo e cuidava-o com uma devoção enfastiada, como de um velho amigo caÃdo em desgraça e diminuÃdo que precisava da sua ajuda."
"Nunca recuperou desse olhar; deixou de sentir-se conciliada com o seu corpo: era um estranho despojo, uma máscara deplorável. Talvez aquela metamorfose tivesse sido gradual, mas a sua memória condensava-a naquela imagem: dois olhos de veludo que se desviavam dela com indiferença. Desde esse dia, sentiu-se gélida na cama: temos de gostar um pouco de nós próprios para nos deleitarmos nos braços do outro."
A mensagem deste conto prende-se sobretudo com a comunicação com o outro, explorada à medida que se descreve a problemática do envelhecimento: o desgaste dos corpos, a renúncia à sexualidade, o abandono dos projectos, a perda de esperança (excerto do prefácio). O facto de me ter identificado com alguns dos problemas relatados ao longo deste livro, apesar de ainda ter menos de 30 anos, contribuiu largamente para a minha opinião positiva, embora sinta um misto de sensações face à dimensão da narrativa. Por um lado, está lá tudo, por outro, poderia ler mais cem páginas sem me importar absolutamente nada.
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Mal-entendido em Moscovo.
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November 11, 2016
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"Nunca imaginara que viria a preocupar-se com o seu peso. E vejam só! Quanto menos se reconhecia no seu corpo, mais se sentia obrigada a tratar dele. Tinha-o a seu cargo e cuidava-o com uma devoção enfastiada, como de um velho amigo caÃdo em desgraça e diminuÃdo que precisava da sua ajuda. (p.20)"
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43
November 11, 2016
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biblioteca-pessoal
November 11, 2016
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²Ô-´Ú°ù²¹²Ôç²¹
November 12, 2016
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92.63%
""Estou sozinha!" A angústia apoderou-se dela, a angústia de existir, bem mais intolerável do que o medo de morrer. Sozinha como uma pedra perdida no deserto, mas condenada a ter consciência da sua presença inútil. O corpo contraÃdo, crispado, como um grito silencioso. Depois aconchegou-se nos lençóis e adormeceu. (p.73)"
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88
November 13, 2016
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100.0%
""É uma sorte conseguirmos falar um com o outro", pensou ela. Para os casais que não sabem fazer uso das palavras, é fácil perceber que os mal-entendidos possam transformar-se numa bola de neve e acabem por estragar tudo entre eles. (p.94)"
page
95
November 13, 2016
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