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Dedicar tempo a ler um romance inacabado é aceitar uma entrega parcial contra uma dedicação total. Mas é também aceder ao que de outro modo jamais se conheceria: as fases e métodos de criação de um escritor.
Desta aceitação e dedicação recebi um bildungsroman em analepses alargadas, em que as reflexões sobre a pobreza e sua condição num contexto urbano serão o melhor, com passagens sobre a odisseia particular do aluno pobre que graças a uma sorte imensa faz a travessia de auto-descoberta tornada possível através de uma altamente improvável prossecução dos estudos, resultado do talento único de um raro pedagogo «olheiro».
E só isto me bastaria para o contentamento leitor.
Mas há também a descrição contundente das ímpares relações afectivas averbais, de uma humanidade plena e flagrante que Camus tão virtuosamente traça no cru do texto por trabalhar.
Nenhum verdadeiro fã de Camus desprezará o privilégio de aceder a esta vista sobre a forma e método de composição das suas obras.
De Camus já era fã e adensei o meu culto. Do pedagogo guardo a excelsa memória deste romance e ainda melhor impressão pelo documento final, revendo nele as duas pedagogas que me «reconheceram centelha» e me mudaram o rumo, mas que, acima de tudo, me aceitaram e validaram como nunca ninguém fez antes e depois de cada uma delas.
A escola ainda é a grande escada civilizacional (e não apenas social).