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Tive muita dificuldade com a leitura desse livro quando peguei ele pela primeira vez. A linguagem poética com que a Hogan fala do mundo vivo, na minúcia de tantas espécies, na delicadeza de tantas vidas, contrastou de maneira meio insuportável com a desesperança e o ceticismo ambientais terríveis que tomaram conta de mim depois da enchente no meu estado. Não queria saber das águias lutando pela posse de uma cobra em pleno ar. Queria me fechar no meu apartamento e esquecer que existia perigo -- que existia vida, agência não humana -- lá fora. Alguns meses se passaram e consegui retomar, agora com o medo da chuva não tão mais à flor da pele, e com outras coisas da minha vida me levando a buscar sossego no mar, na lua, nessas vidas de outras espécies com linguagens que eu não entendo bem, mas que às vezes justamente via mistério tornam tudo mais nítido. O que encontrei nesse livro na segunda leitura foi uma revisita aos meus valores espirituais e a perguntas que eu me fazia quando criança: que lugar a gente ocupa no mundo ou deve ocupar? como pensam e sentem os que não são humanos? será que eles me entendem, será que eu entendo eles? Foi uma leitura muito bonita, feita na beira da praia quando eu tava viajando, e me colocou lágrimas nos olhos em vários momentos. Acho que o texto daqui que mais me impactou foi "The Voyagers". Recomendo pra quem anda se sentindo particularmente sensível aos e sedenta pelos mistérios e as maravilhas da vida na terra.