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O Sangue dos Outros by Simone de Beauvoir
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Pode um ser humano que vive em sociedade se eximir de suas responsabilidades para com os demais? Esse pareceu-me ser a linha condutora de O sangue dos outros, primeira obra de Simone de Beauvoir que leio, romance de fundo filosófico existencialista.

(...) bastava-lhe agora agir de acordo consigo mesmo, sem olhar nem a direita nem à esquerda. Sem olhar à sua frente. Como se o caminho estivesse já todo traçado. Como se o futuro não fosse, a cada instange, esse vácuo hiante.

Jean Blomart, quando criança, passa por uma triste experiência ao presenciar a dor pela morte de um bebê. Mais tarde, já um jovem adulto, passa por outra experiência similar, a dor da perda de de um amigo por um ato que considera de sua responsabilidade. Assim, de forma a influir o mínimo na vida dos demais, prefere se resguardar para si e fazer um trabalho de cunho social, além de que suas relações são caracterizadas por um envolvimento mínimo, não pretende interferir na vida de ninguém, como se fosse possível que os nossos atos, por menores que sejam, possam evitar de influir em outras vidas. Até que as pessoas próximas, o mundo ao seu redor, a vida ela mesma o levam a rever seus ideais.

(...) Apagar-me. Deixar de ser. Entretanto, mesmo que me mate, eu continuarei a ser. Serei um morto. Eles continuarão acorrentados à minha morte, e esse vazio subtamente surgido na terra fará vibrar e estalar milhares de fibras imprevistas. (...) Serei ainda responsável por todos esses atos que minha ausência houver tornado possíveis. (...) Não posso eliminar-me. Não posso retirar-me para dentro de mim mesmo. Eu existo, fora de mim e por toda a parte do mundo, não há uma polegada sequer de meu caminho que não se insinue num caminho alheio.

Em algum lugar, li que a própria Beauvoir, já em anos avançados, criticou o seu livro como uma obra didática. Didática ou não, as suas escolhas de construção do texto são o que predem o leitor, ao menos a este leitor, em que o momento presente vivido pelos personagens é intercalado por memórias que constroem os seus passados, interelacionando-se aos seus ideias existencialistas. Jean, Hélène, Madeleine, Marcel, Denise, Paul, Yvonne... Vidas contadas por meio do narrador-personagem Jean (Blomart) e de sua Hélène, para quem o mundo é conforme os seus desejos, até que não, até que também se vê forçada a sair do seu casulo de ideais e perceber que o sangue, a dor, a liberdade dos outros são também nossos, são universais.

Foi uma leitura e experiência instigante, como eu gosto, que me fazem refletir profundamente e cujos temas continuarão a se fazer presentes.
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Reading Progress

September 16, 2024 – Started Reading
September 19, 2024 – Finished Reading
September 20, 2024 – Shelved

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