
“A cumplicidade entre clitóris e anarquia deve-se antes a seu destino comum de passageiros clandestinos, a sua existência secreta, escondida, desconhecida. O clitóris por muito tempo foi também considerado um estorvo, um órgão supérfluo, inútil, zombador da ordem anatômica, polÃtica e social por sua independência libertária, sua dinâmica de prazer separado de qualquer princÃpio e de qualquer objetivo. Um clitóris não se governa. Apesar das tentativas de lhe encontrar senhores â€� autoridade patriarcal, ditame psicanalÃtico, imperativos morais, peso dos costumes, carga da ancestralidade â€�, ele resiste. Resiste à dominação pelo fato mesmo de sua indiferença ao poder e à potência.
A potência não é nada sem sua efetuação, seu exercÃcio, como o atesta a aplicação de uma lei, de um decreto, de uma portaria ou mesmo de um conselho. A potência está sempre à espera de sua atualização. Atos, princÃpios, leis, decretos, por sua vez, dependem da docilidade e boa vontade de seus executores. Ato e potência tecem a tela inextricável da subordinação. O clitóris não está precisamente nem em potência nem em ato. Não é essa virtualidade imatura à espera da atualidade vaginal. Tampouco se dobra ao modelo da ereção e da detumescência. O clitóris interrompe a lógica do comando e da obediência. Não dirige. E por isso perturba.
A emancipação precisa encontrar o ponto de inflexão em que o poder e a dominação se subvertam a si mesmos. A noção de autossubversão é uma das noções determinantes do pensamento anarquista. A dominação não pode ser derrubada somente de fora. Ela tem sua linha de fratura interna, prelúdio a sua possÃvel ruÃna. Toda instância que se mostra indiferente ao par ato-potência exacerba os sistemas de dominação e em consequência revela suas fissuras Ãntimas. O clitóris se introduz na intimidade da potência â€� normativa, ideológica â€� para revelar a pane que sem cessar a ameaça.
No meu entender, clitóris, anarquia e feminino estão indissoluvelmente ligados, formam uma frente de resistência consciente das derivas autoritárias da própria resistência. A derrota da dominação é um dos maiores desafios de nossa época. O feminismo é evidentemente uma das figuras mais vivas desse desafio, ponta de lança muito exposta porque precisamente sem arkhé.”
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Il piacere rimosso. Clitoride e pensiero
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