"I verily believe she thinks it is the writing which made me sick!�
Ouvi o audiobook do projeto LibriVox no durante uma viagem Évor
"I verily believe she thinks it is the writing which made me sick!�
Ouvi o audiobook do projeto LibriVox no durante uma viagem Évora-Almada, no entanto, penso que o audio nem sequer chegue a 40 minutos. É a prova de que não é preciso um calhamaço para uma obra nos ficar gravada na alma.
Quis conhecer este conto (?) de Charlotte Perkins Gilman (1860-1935) porque, ultimamente, tem vindo ter comigo por vários atalhos. Volta e meia vem à baila, sobretudo no âmbito da cadeira de Mestrado de Literatura que estou a frequentar, e decidi dar-lhe uma oportunidade. Ouvi-o enquanto chovia fora do autocarro e sem saber nada da autora nem do contexto (sequer o ano de publicação), porque receei que pudesse influenciar-me. Já entendi que as obras acabam por ter mais valor quando há algo de interessante, de curioso, de 𱹴DZܳDzá em torno da sua execução ou da vida do/a autor/a. Contudo, acho que as obras devem valer por si próprias sem necessidade de introduzir referências pelo meio, mas achei tão interessante o percurso e os princípios da autora que vou começar por partilhar alguns pormenores da sua vida nesta review. [image] "Charlote Perkins Gilman foi uma escritora, filósofa e reformista norte-americana" segundo a página History of Women Philosophers and Scientists, cuja obra mais importante é esta, um conto autobiográfico publicado em 1892. A obra remete para o período da sua vida em que, após dar à luz a sua única filha, e sofrendo daquilo que provavelmente hoje sabemos ser uma depressão pós-parto, foi incentivada pelo Dr. Silas Weir Mitchell, especialista em doenças nervosas, a adoptar um regime de repouso intensivo para ultrapassar a sua "exaustão nervosa". Esse regime completamente vazio de estímulos e de atividade, bem como de sociabilização fora do seu círculo doméstico, quase enlouqueceu a autora. Em 1894 divorciou-se depois de concluir que a vida doméstica não lhe trazia felicidade.
Teve (alegadamente) pelo menos duas relações sérias com mulheres, e voltou a casar-se em 1900, com um primo. Ao contrário do primeiro casamento, esse segundo foi uma união feliz.
Feminista, lutou pela emancipação sobretudo económica das mulheres, deu várias palestras em defesa dos seus direitos e combateu os princípios nocivos da medicina perpetuada por entidades masculinas quanto àquilo que eram considerados "males femininos".
Publicou várias obras, entre as quais poemas e não-ficção, destacando-se talvez Herland, uma utopia baseada numa sociedade exclusivamente feminina. Ao ser diagnosticada com cancro, a autora optou por ser ela a decidir quando e como iria acabar a sua vida. Escusado é dizer que não recebeu qualquer tipo de reconhecimento/louvor pelo seu trabalho enquanto viveu, nem no campo da literatura nem da pintura. [image] Quando ao livro, que ouvi num sotaque adorável de uma narradora que vestiu tão bem a pele da personagem (sem nome), é sublime em todas suas suas subtilezas sendo que, ao mesmo tempo, é brutalmente honesto sobre o mundo interior feminino e a condescendência a que as mulheres eram votadas, num estranho binómio condescendência e/ou violência.
A personagem principal fala com o leitor através de escritos secretos, um refúgio durante o seu isolamento numa casa onde irá viver com o marido, o bebé e uma criada durante 3 meses. Logo de início, manifesta o seu desconforto perante o papel de parede amarelo que reveste o quarto onde o marido a "confina" para o seu regime de repouso intensivo. A partir daí, tudo o que manifesta é perturbador, mesmo porque se torna claro, desde início, que esta mulher escreve numa tentativa desesperada de tentar manter a sanidade, de tentar dialogar com alguém (o vazio? o papel de parede?) que a ouça. Perante o marido, que é médico, e portanto uma autoridade incontestável, e a criada, simplesmente não lhe é permitido ter voz. Segundo a própria:
"I must say how I feel"
Vemo-la proibida de ler, de escrever, de pegar num pincel (porque todas essas atividades inquietam as mentes femininas), a desabafar sozinha, às escondidas, sem o conforto de um livro ou sequer de um amigo ou familiar, porque acaba por ser também o marido a decidir quem lhe faz bem. Sente-se culpada pela sua condição, por não conseguir amar o bebé como deveria, por se sentir cansada, preguiçosa, sonolenta durante o dia e incapaz de dormir à noite, incapaz de se expressar por receio de represálias do marido, que apenas quer o seu bem, passa muito tempo sozinha e, quando o marido a visita, minimiza as suas ideias - inclusivamente quanto a si própria e ao seu estado de espírito/saúde -, adia conversas importantes, impedindo-a de expressar os seus sentimentos. Finge dormir quando o marido lhe exige horas intermináveis de repouso, obrigando-se a usar uma máscara até para ocultar aquilo que seriam necessidades básicas, como ter sono/não ter. A dada altura, usa a palavra suicídio, noutra, fala em saltar da janela, noutra ocasião imagina-se a queimar a casa por completo para se livrar do papel de parede e do seu cheiro. O final é igualmente interessante, abre portas a muita discussão.
Uma voz narrativa poderosa, apesar da ternura, da fragilidade, da condição de humano debilitado inerente.
Fiquei assombrada com este livrinho pequenino (e barato!) disponível gratuitamente em inglês em vários suportes legais, e também em português em várias edições relativamente recentes. Ainda bem que não o deixamos morrer....more
I gave up when I reached 87% of the e-book. It kept dragging and dragging, I was done.
Wish I had liked it better. Until like 60% it was very pleasant.I gave up when I reached 87% of the e-book. It kept dragging and dragging, I was done.
Wish I had liked it better. Until like 60% it was very pleasant. From then on, she should've put the pen aside and consider it done. It becomes repetitive.
Also.... (view spoiler)[The guy is giving her oral sex in public trying to convince her to get back with him, but immediately after she answers him that she needs to think a bit more about the reconciliation? (hide spoiler)].
And, last but not the least, she has no backbone. It kills me in novels.
Merged review:
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A Iris tem realmente um dom para este tipo de literatura. Acho que não a ofendo se disser que é um Nicholas Sparks mais original, mais variado e com uA Iris tem realmente um dom para este tipo de literatura. Acho que não a ofendo se disser que é um Nicholas Sparks mais original, mais variado e com um sorriso mais bonito.
Quando a Iris disse que tinha um livro prestes a sair, implorei-lhe que mo mandasse. Tenho tempo? Nem por isso, mas não perderia por nada a oportunidade de o ler e, quem sabe, dar um parecer ou outro sobre a história - reparem que acabei de publicar o meu sétimo livro e os conselhos que recebi sobre o enredo foram cruciais para o produto final! Dispus-me a isso e, sorte a minha, a Iris concordou.
Fui desde logo arrastada para aquelas personagens, para a estranha autenticidade que a Iris empresta às pessoas que lhe saem do punho. Compõe uns ramalhetes muito realistas, muito humanos - e depois, claro, faz ali uma feitiçaria qualquer com a química das personagens principais a ponto de haver faíscas a saltar das páginas.
Gostei muito da Francisca e da sua coragem, e achei a premissa principal do livro muito premente. Quando se escreve sobre violência doméstica, às vezes podemos esquecer-nos da impotência dos filhos naquele ambiente, mas é precisamente esse o pilar que sustenta este livro: a relação de interdependência emocional dos pais, a mágoa que isso traz aos filhos, a incompreensão de outros membros da família. O livro aborda outros temas pesados, mas consegue oferecer-nos um equilíbrio entre essa carga e uma certa leveza a que as personagens da Iris parecem sempre aspirar, uma certa rebeldia, garra, luz, que nos faz torcer tanto pelas suas protagonistas.
Lê-se muito rápido e, no final, fica a angústia de sabermos que está aqui representada a realidade de muitas famílias, mas fica também o travo doce do amor e da superação.
Admirável Mundo Verde, com uma capa magnífica e poderosa que põe na gaveta os preconceitos de "romance no feminino", beneficiou de uma questão: é que Admirável Mundo Verde, com uma capa magnífica e poderosa que põe na gaveta os preconceitos de "romance no feminino", beneficiou de uma questão: é que estou a ler 1984 enquanto o lia, e às tantas os universos distópicos recordavam-me o outro, e eu tinha de me situar. Acho que é um bom elogio dizer que, por vezes, na minha cabeça, não sabia se tinha acabado de ler palavras escritas pela Filipa ou ideias de George Orwell.
A ideia de uma ditadura ecológica com base em fundamentalismos ambientais é tão pertinente quanto audaciosa. A autora deu-se ao trabalho de conferir várias dimensões às personagens - bem como à própria causa ambiental -, promovendo uma reflexão muito necessária neste momento da nossa civilização. Infelizmente, acho que o livro da Filipa estará cada vez mais atual nas próximas décadas, e a ideia de surgirem organizações como as Brigadas Verdes e os Estudantes pelo Planeta, com ações radicais, desesperadas, vingativas e partindo de um princípio de justiceiros, pode muito bem tornar-se real ainda no nosso tempo de vida.
Torci muito pelo trio a quem a autora chamou de Santíssima Trindade a determinada altura. Além da escrita fluida, da imaginação prodigiosa, vê-se que é um livro escrito com paixão e conhecimento de causa, com preocupação genuína pelos dois lados da moeda - a desconsideração pelos avisos de emergência ambiental e o radicalismo a que essa atitude pode conduzir.
Gostei muito das personagens, das suas preocupações e das forças que iam buscar não se sabe bem onde, e achei que é um livro com momentos muito duros e reflexões carregadas de desesperança que, ainda assim, nos recordam de como o ser humano se adapta e encontra sempre resiliência, mesmo nos momentos mais negros da existência. O lado mais cruel do livro é precisamente a verosimilhança com que a autora teceu os cenários, as personagens, os rumos políticos e sociais desta questão tão urgente.
A natureza humana tem superado tudo e imperado sobre o planeta, impondo-se a outras espécies e dobrando quase tudo aos seus interesses. Contudo, o clima impõe-se como o inimigo invencível que pode muito bem vir a condenar a hegemonia do Homem no planeta Terra....more
"- Não tens a impressão de ser um criminoso, pois não? - Não - disse eu. - Quando estou contigo não tenho. - Tu és um rapaz sem juízo - disse el
"- Não tens a impressão de ser um criminoso, pois não? - Não - disse eu. - Quando estou contigo não tenho. - Tu és um rapaz sem juízo - disse ela -, mas hei de olhar por ti. Não é esplêndido, querido, que eu nem sequer sinta náuseas pela manhã? - Estupendo! - Tu não sabes apreciar a esplêndida esposa que tens. Mas não me importo. Hei de arranjar um lugar onde não te possam prender, e então seremos muito felizes. - Vamos já para lá! - Sim, querido. Irei para onde quiseres e quando quiseres. - Não pensemos em nada. - Está bem."
[image] Ernest Hemingway nasceu em Julho de 1899, perto de Chicago. Com apenas 19 anos, conseguiu que o exército italiano o aceitasse nas suas fileiras, no contexto da I Guerra Mundial, ocasião em que foi condutor de ambulâncias para a Cruz Vermelha. Por essa altura, terá vivido um amor - possivelmente o seu primeiro amor -, com a enfermeira Agnes von Kurowsky. Tudo isto parece ser a matéria-prima de O Adeus às Armas, volvidos dez anos. Tal como o próprio autor, a sua personagem principal, Frederic Henry, é condutor de ambulâncias no exército italiano, pelo que Hemingway pôde pôr a uso o seu conhecimento da realidade, cultura e particularidades dos italianos (creio ter lido algures que Hemingway dizia apenas escrever sobre aquilo que conhecia bem.).
A senhorita Von Kurowsky, que terá abandonado o nosso jovem autor por outro homem, será a provável inspiração para a enfermeira escocesa Catherine Barkley, com quem Henry se envolve com a guerra como pano de fundo. Também este detalhe tem um fundamento na vida do autor, e ajuda a conferir realismo à narrativa: O Adeus às Armas não tem nada de heróico ou de épico, é apenas o conto de um punhado de humanos enleados na complexa - e incompreensível - teia da guerra e nas provações práticas da mesma (longe das politiquices).
A primeira obra que li de Hemingway foi Na outra Margem, entre as Árvores, publicado em 1950, quando Hemingway tinha 51 anos e, portanto, uma perspectiva diferente (apurada) da guerra, do amor, das mulheres. Considerei-o machista, misógino, aborrecido. Detestei-lhe os diálogos - por um lado povoados daquela pouca coesão caraterística da comunicação oral, por outro lado desconexos ao ponto de me exasperarem. Neste último, conheci um Hemingway com 30 anos, menos cínico, menos áspero, com um toquezinho subtil de humor, mas já com a mesma carga pesada, lúgubre, que parece ser o seu cunho em cada obra.
Neste livro, compreendi-o melhor. Compreendi que um rapaz de 18, 19 anos, partiu voluntariamente para o horror de um conflito Europeu, a um oceano e a um mundo de distância, onde sofreu um ferimento que lhe cravou mais de 200 estilhaços na perna. Não consigo imaginar o susto, a alienação. Tão longe de casa, rodeado de estranhos, cheio da energia da juventude e, no entanto, metido numa cama de hospital. Surge a enfermeira bonita, estrangeira. É tudo muito exótico, ainda para mais o rapaz sobreviveu, está apaixonado e ela retribui. Deve sentir-se invencível, imortal. De repente ela foge com outro. Ele é devolvido ao teatro de guerra. Uma vez terminado o horror, volta a casa com os seus fantasmas, e encontra a América prestes a atirar-se aos loucos anos 20. Tem a cabeça cheia de obuses, de disparos, de baionetas e de granadas, da lama das trincheiras e dos clarões de artilharia, mas ao seu redor estão todos a dançar a dançar o foxtrot.
[image]
Resultado? O capitalismo é nojento. As mulheres umas levianas desmioladas. A guerra é tudo o que conhece, e nela há-de debruçar-se uma vez e outra, e ainda assim a guerra nunca faz sentido, em livro algum que escreva. Tudo o que Hemingway sabe é que entra-se na guerra com tudo o que se é e com tudo o que se tem, e que se sai dela despojado de si mesmo. A guerra engole tudo. Engoliu-o, mastigou-o e devolveu-o a um mundo que lhe era estranho e no qual ele se sentia um alienado. Moldou-o para sempre. Não será por acaso que se suicida em 1961, depois de uma vida de controvérsia, suposto abuso de álcool e alguns escândalos. Gostava de gatos - não me posso esquecer que Hemingway gostava dos místicos felinos, que têm tão pouco de bélico.
Gostei muito desta narrativa de guerra, e os diálogos (que ainda assim, por vezes, me parecem repetitivos e sem nexo) são ligeiros e ajudam a avançar nas páginas. Julgo que uma das principais críticas a este romance é que o amor entre Henry e Catherine parece supérfluo. Acabei por (julgar) entender que na guerra se está tão sozinho, mesmo quando rodeado dos "rapazes", que não é difícil apaixonarmo-nos. Fazer planos para os tempos de paz. Estar-se com alguém, na guerra, é como a ilusão de que talvez haja um pouco da nossa essência, do nosso lado emocional, que pode ficar salvaguardado dos horrores quotidianos.
O final tocou-me, validou o romance, principalmente porque o livro segue um mesmo tom, sem grandes altos e baixos mesmo nos momentos de suposto climax emocional. Creio que Hemingway dirigiu muito bem o tom nesses acontecimentos finais. No fim, a sensação com que se fica é que é a guerra. E não se pode fugir da guerra.
Mal ele sabia que a guerra ainda havia de persegui-lo por mais 30 anos, até um tiro ir, por fim, alojar-se-lhe na têmpora.
Não tenho lido em papel, apenas no kobo, mas quis este objeto de arte na minha casa e, ainda antes de ponderar adquiri-lo também no kobo para poder lê-lo com maior conforto, dei por mim recostada nas almofadas e a folheá-lo. Menos de duas horas depois, estava lido.
Nesta última viagem pela mente e a pena de Gabo - segundo os filhos, já debilitado -, o autor coloca Ana Magdalena Bach no centro da ação. É incrível a sensibilidade com que este Nobel colombiano veste a pele de uma mulher e a torna tão real, tão humana, tão palpável. A somar à personagem principal cativante - nos seus desejos, inquietações e defeitos -, temos o retrato de uma família com tudo para ser feliz, mas acima de tudo de uma ilha que se transforma anualmente no refúgio de uma mulher prestes a entrar na menopausa.
A ilha das Caraíbas que o autor nunca nomeia serve também de marcador de tempo, desde os veículos que dela partem e nela aportam, até aos hotéis e respetivas comodidades. Observamos o modo como as coisas evoluem e, ao mesmo tempo, se vão tornando menos cativantes para a nossa Ana Magdalena. Em todos os refúgios anuais de Ana Magdalena há música, noites tropicais, álcool, calor e um homem diferente. O livro é alinhavado com um final imprevisível, mas em linha com os sentimentos e a impulsividade da personagem principal.
É uma obra muito simples mas, apesar disso, está muito bem escrita e cria um ambiente tão nítido que sinto que estive nas Caraíbas ontem à noite, com um saco de ráfia ao ombro e o bafo peganhento do verão tropical na nuca. Dancei ritmos latinos e dormi com um homem que cheirava a lavanda. É Gabriel García Márquez, por isso não tinha outra opção se não adorar....more
A minha estreia nas obras da Mafalda Santos não podia ser mais auspiciosa! Costumo hesitar muito em dar cinco estrelas a um livro, mas a viagem que esA minha estreia nas obras da Mafalda Santos não podia ser mais auspiciosa! Costumo hesitar muito em dar cinco estrelas a um livro, mas a viagem que este me proporcionou foi tão incrível que mas arrancou.
Sei que a Mafalda Santos está ligada ao teatro, ao mundo para lá das cortinas do palco. Neste romance, leva-nos pelos bastidores, mas também pela plateia, e direitos à secretária dos criadores.
A sinopse promete-nos uma investigação, mas depressa esse mote deixa de ser o fio condutor do livro. O que nos orienta ao longo desta narrativa é a profunda reflexão que oscila entre o criador e o produto da sua imaginação, aqui questionada uma e outra vez, em jogos de espelhos, truques de ilusionista, cortinas que se fecham e voltam a fechar sobre o palco. A autora tira-nos várias vezes o chão, e o final é tão satisfatório, tão imprevisível e, ainda assim, em linha com a história, que não me perdoei por não o ter antecipado: o que apenas significa que a autora soube escondê-lo convenientemente do leitor, até ao twist final.
Para mim, isto é a nova literatura portuguesa. Sem fórmula. Sem português inalcançável. Escrita com fluidez, com naturalidade, diálogos credíveis, vivências e rotinas com as quais conseguimos facilmente identificar-nos. Um texto limpo, sem floreados desnecessários, que ainda assim convida à reflexão e nos inquieta e destabiliza. Li-o como escritora que também sou, e adorei a premissa principal. Adorei, acima de tudo, a conclusão que a autora deu a esta obra tão peculiar.
Aconselho vivamente a quem gosta de ler, e mais ainda a quem duvida da qualidade das autoras nacionais!...more
Há algo de muito terno e genuíno nos livros desta autora. À semelhança de “Pequenas Coisas como Estas� a autora tece uma obra pequena, apenas com as pHá algo de muito terno e genuíno nos livros desta autora. À semelhança de “Pequenas Coisas como Estas� a autora tece uma obra pequena, apenas com as personagens e os momentos necessários, sem se perder em divagações. Depois, traça a sua rotina, geralmente numa Irlanda pobre onde o povo labuta arduamente por alimento enquanto é fortemente influenciado pela igreja e está sujeito à intempérie.
Neste “Acolher�, nunca chegamos a saber o nome da personagem principal (ou passou-me completamente ao lado), é uma criança, e isso é tudo o que importa saber. Uma criança que, durante as curtas 65 páginas do livro vai conhecer uma rotina diferente da sua, vai ver o mar, vai comer com abundância, vai andar limpa e bem vestida e, acima de tudo, vai experimentar afeto. É comovente essa estranheza da criança carente e negligenciada para com o afeto. A autora até nisso foi sublime, porque é difícil não chorarmos na cena final.
Podia escrever um ensaio de 300 páginas sobre estas 65 da autora, mas basta-me pedir-vos que lhe deem uma, duas horas, e que me digam se este equilíbrio entre rudeza e ternura não é perfeito....more
Há imenso tempo que não lia um livro do início ao fim sem ser “na diagonal�, e só faço isso com livros cor-de-rosa em que há partes que só servem paraHá imenso tempo que não lia um livro do início ao fim sem ser “na diagonal�, e só faço isso com livros cor-de-rosa em que há partes que só servem para encher chouriços.
Também há muito tempo que não lia um livro deste tamanho - o Kobo ajuda a minimizar essa questão - e também nunca liguei muito a romance contemporâneo� isto é, sem estrebarias nem espartilhos.
Posto isto, gostei muito deste segundo volume desta trilogia em torno de um parque temático chamado Disn� cof cof Dreamland.
Tive de desistir do primeiro porque a autora entrou a pés juntos com a atração física. Eu nunca senti isso de olhar para um homem e só porque é alto ou está perfumado ou usa um fato Tom Ford já querer subir ao castelo com ele. Por isso irritou-me que o Rowan ficasse doido pela Zahra assim que a vê, e vice-versa. Acho mais difícil que nasça amor sobre atração do que amor sobre amizade. That’s just me.
Neste caso, as personagens já se conheciam e eram mais do que um naco de bife da vazia um para o outro. A Iris é a assistente ultra competente do Declan, e o Declan é o chefe mais exigente do planeta, mas valoriza o contributo da Iris nos seus projetos.
Achei a relação laboral tóxica, havia ali várias coisas intoleráveis da parte de um workaholic para com o seu braço direito. A própria relação amorosa tem ali uns sinais de aviso, mas tentei despir-me dos melindres dos últimos anos e concluí que não há relações perfeitas. Ainda está para surgir o livro cor-de-rosa em que a protagonista deixa o idiota presunçoso pendurado. A mulher tudo suporta, e tudo perdoa. Mas os dois foram fofinhos juntos, percebia-se a atração e a afeição, viu-se o sentimento a nascer e as fundações para uma relação estavam lá, só por isso valeu a pena.
Só lamento que a autora tenha optado por colocar três homens como protagonistas da trilogia, o que faz com que a relação de poder seja sempre a mesma. Seria interessante que o terceiro volume fosse sobre uma herdeira, por sua vez. Uma novidade, vá. Porque também há mulheres em posições de poder que têm um ascendente sobre os homens ao seu redor.
Mas parece que o terceiro é sobre o irmão mais novo e o Kane mais simpático dos três. Aproveito para fugir deste cenário da Disn� Dreamland, logo eu que não gosto de parques temáticos lo devido ao preço dos hambúrgueres nos seus restaurantes e às filas para cada 2 minutos e meio de atração.
O fantástico disto tudo é que me sinto mais próxima de ler um livro “a sério�. Este tipo de obra é um excelente calço de suporte a outras maiores. Não se deve subestimar essa função....more
Sejamos sinceros: li-o ontem, mas na diagonal. Estava com insónias, dor de cabeça e fazia imenso calor. Não ia dormir, por isso ab4 Estrelas 3 Estrelas
Sejamos sinceros: li-o ontem, mas na diagonal. Estava com insónias, dor de cabeça e fazia imenso calor. Não ia dormir, por isso abri o Kobo e escolhi este livro, o primeiro volume da série Bevelstoke. Só quando o classifiquei é que vi que já tinha lido o segundo volume, O que acontece em Londres, embora não tenha tido nenhuma lembrança desta família.
Este primeiro volume conta a história do irmão mais velho (dos Bevelstoke? não me lembro). Chama-se Nigel, mas prefere que o tratem pelo sobrenome - Turner.
Enquanto lia o livro, pensava: Este livro foi escrito enquanto a autora andava a pensar noutras coisas, talvez a preparar os guiões do Bridgerton ou algo do género. Enganei-me: o livro é de 2007, pelo que concluo que foi uma boa ideia e um bom esforço - com momentos muito interessantes, tanto que não parei de o ler (na diagonal) até ao ponto final. Tem umas cenas de feminismo histérico - um debate que, à época, seria bastante precipitado - que me pareceu muito moderno, daí pensar que seria mais atual. A Julia não costuma entrar propriamente por esses terrenos. Se fosse a Madeline Hunter eu nem pestanejava. Quase todas as suas personagens querem/têm uma ocupação e procuram ser independentes.
Mas destaco as falhas, que foram muitas e que me impediram de gostar da história:
1. A Miranda não tem espinha dorsal - em criança, manda umas quantas respostas tortas a uma menina que a chama de feia, mas depois de crescer (bem, ela tem 20 anos), torna-se um pãozinho sem sal. Tirando alguns momentos em que deixa transparecer a sua vontade, em que se arrisca a ser sincera - como quando se declara ao Turner, limita-se a dar a outra face. E a perdoar. Muito perdoa esta jovem.
2. O Turner tem falhas de caráter imperdoáveis. Um homem que cede a todos os impulsos da carne, mesmo sabendo que pode estar a destruir a reputação de uma querida amiga de infância, 10 anos mais jovem... Um homem que sabe que ganhou raiva às mulheres por conta de um casamento azedo com uma adúltera, entretanto falecida, e que despeja essas frustrações em cima dessa jovem...
3. A história, em si. Houve momentos bons, como quando a Olivia e o Winston (os irmãos mais novos de Turner) estão presentes, e por isso deu para rir. Por outro lado, houve muitos clichés - o ritmo foi rápido e às vezes eu já entendia onde é que aquele capítulo ia dar. Por ex., quando as duas personagens principais ficam juntas num jogo de caça ao tesouro, e suspeitam que a pista seguinte esteja numa cabana na floresta, e há nuvens no céu... enfim. Eu sei, vocês sabem.
4. A relação dos dois: a meio do livro, o Turner já tinha feito disparates suficientes para eu considerar que o melhor que a Miranda fazia era esquecê-lo. (view spoiler)[Como assim, sabe que pode ter acabado de engravidar A AMIGA DE INFÂNCIA, 10 ANOS MAIS NOVA, e desaparece durante 7 (SETE) SEMANAS sem água-vai nem água-vem, depois de lhe dizer "se estiveres mesmo grávida manda-me uma mensagem que eu venho logo"??? E, como assim, a Miranda perde essa primeira criança com a maior naturalidade do mundo? Sem uma lágrima, como se tivesse sido um mero inconveniente? Sem sequer lhe cobrar ou ele se sentir culpado por não ter estado lá para uma situação na qual ele também PARTICIPOU? (hide spoiler)]
5. A dada altura, o romance tinha tudo para estar encerrado. Cá está, o Felizes Para Sempre, só que não. A história sofre uma viragem e passa a resumir-se a: os dois estão super felizes, mas enquanto ele não conseguir dizer que a ama, nada feito. O livro não acaba. E, claro, o rapaz sofre o relâmpago de uma revelação por portas e travessas rebuscadas. E ela, que não se chateia com nada, fica super chateada por o homem que a trata como uma rainha (enfim, tem muito de que se redimir), e que lhe oferece livros raros, não conseguir dizer que a ama. Okay.
Desci de 4 para 3 estrelas, porque foi uma leitura "mais ou menos" para a Julia Quinn (mais para o menos) mas, ainda assim, boa e divertida dentro do género....more
Lido no kobo, não esperei gostar tanto deste «Leme».
Por um lado, até cerca de um terço do livro, senti que a questão da violência doméstica, por vezesLido no kobo, não esperei gostar tanto deste «Leme».
Por um lado, até cerca de um terço do livro, senti que a questão da violência doméstica, por vezes subtil e até passiva, exigia uma estrutura mais densa, outro peso na narrativa que nunca mais vinha. O livro parece, em certa medida, escrito por uma mulher muito jovem, à qual falta uma certa profundidade. Parece uma voz mais juvenil, sobretudo porque antevemos o seu presente, sabemos que é adulta, mas talvez o livro só funcionasse com esse tom mais pueril.
No entanto, na segunda parte da leitura, que me agarrou pelo colarinho e que li de um fôlego, percebi que isto não é um retrato da vida da personagem, e que era essa tridimensionalidade da vida da personagem que estava em falta, e que eu continuava a procurar. Refiro-me a relatos do quotidiano em que o tal Paulo, o padrasto agressivo, não fosse a personagem principal. Foi então que me mentalizei de que o livro é sim um relato da vida com um padrasto abusivo, e vi-me obrigada a repescar o meu próprio lema, segundo o qual menos é mais. Portanto, a autora contornou a palha e levou-nos direitos ao padrasto tóxico.
Somos conduzidos pela sua infância, pelo casamento doloroso da mãe, pelas marcas que essa relação abusiva deixou nela enquanto criança e jovem. Apesar de, a tempos, o sentir um pouco superficial, houve momentos que me arrebataram por me identificar e/ou conhecer pessoas próximas que conviveram com este tipo de violência. Comoveu-me várias vezes, essa violência dos gestos bruscos, das portas a bater, dos estalidos de língua, dos objetos a voar e dos pontapés nas coisas. Toca ainda o tema da molestação de menores que, embora muito sucinto, é muito representativo dos casos reais.
Aquilo que lhe valeu as quatro estrelas foi, acima de tudo, o desprensiosismo ao contar a história, mas também os capítulos curtos que me iam catapultando de uma reflexão para a seguinte. A narrativa não tem exatamente um fio condutor - isto é, não está organizada cronologicamente, por exemplo -, mas isso também não faria sentido. Viajamos de evento marcante em evento marcante, em que por vezes o que dói é apenas a rotina numa casa que não é refúgio.
Houve dois ou três episódios que me atingiram realmente, (view spoiler)[como quando a mãe lhe abre a porta de óculos de sol e com o rosto todo magoado e lhe pede que não se assuste (hide spoiler)], e acho que foi nesses momentos que senti a história como real, em que me recordei de que não estava simplesmente perante uma obra de ficção.
Não diria que é um portento da literatura, mas é uma boa estreia de uma autora portuguesa: uma voz sem floreados, episódios palpáveis, um enredo contemporâneo com o qual é fácil identificar-nos. Vale muito a pena pela abordagem que faz a esta questão de amarmos e odiarmos aqueles que nos são próximos, e a como isso nos rasga a alma....more
"(...) É cada vez mais difícil lidar com um corpo que falha. Mais comprimidos, mais uma operação, um coração mecânico, uma válvula aqui, uma p
"(...) É cada vez mais difícil lidar com um corpo que falha. Mais comprimidos, mais uma operação, um coração mecânico, uma válvula aqui, uma placa de titânio ali, a carne macerada, os ossos em franca erosão, tudo preso pela ciência da longevidade e por peças impressas em máquinas 3D, como se a morte não fosse parte da vida, mas, antes, uma sentença adiável, até se atingir o limite do conhecimento humano, que, como se sabe, é impossível, visto que este é como o universo e a estupidez..."
Depois de um longo jejum de leitura - só tenho lido o que estou a traduzir -, decidi apostar no último livro da Filipa Fonseca Silva, porque a sinopse promete uma viagem a lugares que nunca tinha explorado na literatura: a sexualidade geriátrica.
Ultrapassada uma certa resistência inicial, e auxiliada pelo tacto da autora, que nos conduz por esse mundo em que nunca me tinha permitido pensar com sensibilidade e um toque de humor, aventurei-me na viuvez da Helena.
A Helena é uma octogenária que, apenas depois da morte do marido, começou a saciar a sua curiosidade quanto ao mundo do sexo. Na exploração da sua sexualidade, tem o seu primeiro orgasmo aos 70 anos, e essa descoberta desperta-a para tudo aquilo que nunca fez e que não quer morrer sem fazer. E se eu morrer amanhã? torna-se o seu lema e, na sua jornada de descoberta, acaba por ter ainda algumas coisinhas a ensinar aos filhos e à neta. Gostei acima de tudo da relação da Helena com a neta, mas também da abordagem ao sexo como um ato de companheirismo, de confiança, de exploração e de partilha sem preconceitos. Gostava tanto que a Helena fosse minha avó <3
Acabei este livro abraçada a um presente inesperado: a minha vida não vai acabar aos 50, nem aos 60. Se calhar, nem aos 90. Aconselho vivamente este livro para refletirmos com leveza - mas pertinência - em assuntos que nunca nos ocorreram, e que agora vão lançar um novo prisma sobre a vida e as suas infinitas possibilidades....more
Li de enfiada e gostei muito. Uma personagem principal que não é o que parece, um "herói" que não é tolo mas também não se lança a grandes assunções iLi de enfiada e gostei muito. Uma personagem principal que não é o que parece, um "herói" que não é tolo mas também não se lança a grandes assunções incorretas. Gosto muito quando as personagens principais se dão ao trabalho de conversar. Além disso, a parte da atração está muito bem conseguida. Dois cínicos que aprendem a ser melhor juntos....more
Tenho um carinho especial por livros pequenos com histórias fortes. Este livro acaba de repente, virei a página e tinha terminado. Fez imenso sentido,Tenho um carinho especial por livros pequenos com histórias fortes. Este livro acaba de repente, virei a página e tinha terminado. Fez imenso sentido, e não há qualquer necessidade de adiantar mais explicações ao leitor.
Furlong é filho de mãe solteira e cresceu à sombra de uma senhora influente numa pequena povoação de Waterford, na Irlanda católica. Nessa povoação existe um convento que acolhe jovens caídas em circunstâncias misteriosas. São jovens de fora que, na prática, nada têm que ver com a pequena povoação onde se situa a congregação.
Ao longo das suas poucas (mas intensas) páginas, acompanhamos uma espécie de despertar que vai tomando este homem casado e pai de quatro filhas nos dias que antecedem o Natal. Durante quarenta anos, a grande mágoa de Furlong tem sido não saber quem é o seu pai. Agora, diante da possível realidade que se passa para lá dos portões do convento de St. Margaret's, a angústia de Furlong é pensar que a sua mãe poderia ter sido uma daquelas mulheres - e que nenhum dos autoproclamados cristãos da povoação lhe teria estendido a mão. Perante essa reflexão, Furlong deve decidir se as coisas devem permanecer como sempre foram ou se um simples distribuidor de lenha e carvão pode fazer algo de útil por alguém numa disputa contra uma instituição aparentemente invencível.
Um despertar moral de um homem multidimensional descrito por Keegan na paisagem inóspita de uma Irlanda onde sempre houve fricções religiosas, e onde a Igreja Católica teve um efeito tantas vezes mais nefasto do que conciliador.
Foi a primeira vez que li um livro da autora Ana Teresa Pereira, uma das favoritas da DGLAB para atribuição de bolsas e prémios. A história é intriganFoi a primeira vez que li um livro da autora Ana Teresa Pereira, uma das favoritas da DGLAB para atribuição de bolsas e prémios. A história é intrigante, bastante interessante - julgo que com laivos de Rebecca, ou daquilo que julgo que será essa obra de Daphne du Maurier.
Trata-se da história de uma pintora que de repente desperta numa casa no interior de Inglaterra, longe de Londres, do seu apartamento e das galerias que costumava frequentar. É-lhe atribuído outro nome e outro passado, e descobre que já não sabe dançar nem consegue pintar, como se fosse outra pessoa apesar de se recordar desse outro passado na capital. Está rodeada de estranhos e é informada de que sofreu um acidente relacionado com uma cascata local.
A linguagem é simples, a escrita fluida, o mistério vai-nos mantendo presos às páginas. Tem passagens realmente belas, tais como:
(...) e as gotas de orvalho de manhã cedo em todas as folhas e todos os ramos de um bosque onde ninguém passa, e o som da água é o som do universo, o som que também está no fundo de nós, misturado com o vazio e a escuridão.
De salientar um ponto de que não gostei e que me parece ser bastante recorrente num certo círculo de autores portugueses: o pedantismo de despejar referências artísticas, musicais e literárias umas atrás das outras, a cada página uma nova exibição da sua formação cultural. É desnecessário e diria até pouco credível escrever-se sobre pessoas comuns que vivem em águas-furtadas com grande simplicidade, mas estão sempre prontas a citar os "grandes".
(...) como as ruazinhas, as pontes, os canais, do filme de Luchino Visconti, como o mosteiro e o vale profundo do filme de Michael Powell e Emeric Pressburger). Uma rapariga casada que vinha a Londres uma vez por semana, ver um filme ou uma peça de teatro, e trocar um livro na biblioteca, livros de Dorothy Whipple, Richmal Crompton, D.E. Stevenson, Winifred Watson. E Francis Burnett.
Não me parece também que o retrato psicológico da personagem principal, esta Karen prestes a completar 25 anos, faça sentido perante estas referências. Uma jovem de 24 anos que vive sozinha em Londres, bebe vinho e ouve música antiga, pinta a óleo e visita galerias e faz caminhadas na natureza e vai ao teatro. Acho que é uma idealização de pessoas de outro tempo, sem raízes na realidade atual....more
O grande feito deste livro foi fazer com que uma ex-estudante de Humanidades, que tinha uma vaga ideia de Física, se sentisse apta a responder a um quO grande feito deste livro foi fazer com que uma ex-estudante de Humanidades, que tinha uma vaga ideia de Física, se sentisse apta a responder a um questionário a esse respeito.
Os mistérios do universo - a maravilha do espaço infinito, inexplorado - e do espaço conhecido, que não deixa de fascinar quem se dedica a estudá-lo.
Foi fácil perder-me e sentir-me a flutuar no espaço enquanto trabalhava. Em suma: consegui traduzir e, ainda assim, aprender e maravilhar-me.
A banda sonora do Interstellar ajudou muito a criar o ambiente perfeito para explorar estes temas.