João Carlos's Reviews > Stoner
Stoner
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Ilustração de Yann Kebbi
“Stoner� foi o terceiro romance escrito pelo norte-americano John Williams (1922 � 1994), autor, editor e professor universitário, e originalmente publicado em 1965.
Um livro que foi injustamente ignorado e esquecido no tempo da sua edição, sendo resgatado pela escritora e tradutora francesa Anna Gavalda, amplamente divulgado pela revista New York Review em 2003, com a introdução (o Posfácio da edição portuguesa) de John McGahern, e merecidamente valorizado por escritores como Julian Barnes, Ian McEwan ou Bret Easton Ellis com elogios que acentuam a aclamação de uma obra brilhante.
Neste agrupar de notas soltas sobre “Stoner� há duas questões que suscitaram particularmente a minha atenção: o que é mais fascinante neste livro � a escrita de John Williams? ou a personagem de William Stoner?
Verificamos pela biografia de John Williams que poderá existir ou existirá uma génese autobiográfica na construção da história e no desenvolvimento da narrativa de “Stoner�; um livro com uma escrita luminosa, profundamente comovente, quase sempre emocional, e com uma simplicidade primorosa e em que se vai construindo a personagem de William Stoner, filho de agricultores, nascido numa quinta rural, perto da pequena aldeia de Booneville, Missouri, em 1981, um jovem que consegue fugir ao seu destino de agricultor, de trabalho duro e árduo, e que ingressa na Universidade de Columbia, com o propósito de adquirir os conhecimentos na área agrícola que lhe permitissem desenvolver e melhorar a sua actividade e o seu futuro.
Mas é numa aula obrigatória de Literatura Inglesa com o professor Archer Sloane quando questionado sobre um soneto de William Shakespeare, que Stoner fica sem palavras, imóvel e de olhos fixos no vazio, e decide de imediato desistir das cadeiras de Ciências Agrárias e matricular-se em Filosofia, História e Literatura Inglesa.
É com este acontecimento determinante e emblemático que o futuro de Stoner se conjuga, optando por tornar-se num professor universitário, cujo nome é para os colegas mais velhos “um lembrete do fim que os espera a todos e, para os mais jovens, é um mero som que não evoca qualquer noção de passado nem qualquer sentimento de identificação quer em termos pessoais, quer em termos de carreira.�
A vida de Stoner vai sendo marcada por uma sucessão de acontecimentos, dominados por uma timidez física e emocional, que vão condicionar dramaticamente as suas decisões e os seus comportamentos, determinados pelas suas angústias pessoais e profissionais, numa sucessão de alegrias e tristezas, de decepções e desapontamentos que acabam invariavelmente na mágoa e no desgosto.
O destaque e a importância que John Williams concede às inúmeras personagens secundárias � os amigos Dave Masters (morto em França) e Gordon Finch, aos colegas Archer Sloane e Hollis Lomax, ao aluno Charles Walker, e ao relacionamento conturbado com a sua mulher Edith e a sua amante Katherine Driscoll, e por fim à relação com a sua filha Grace na infância e na idade adulta � são absolutamente magistrais, e a subtileza com que consegue conjugar determinados acontecimentos e situações, alguns deles absolutamente inesperados, que vão mudando admiravelmente o sentido da narrativa, e que oscilam entre um humor dissimulado e comportamentos comoventes, acabando muitas vezes silenciados pela conjugação de um amor e um ódio inexplicáveis.
Um livro perfeito e confesso que adorei a escrita fascinante de John Williams e a personagem inesquecível de William Stoner�
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Ilustração de Yann Kebbi
“Stoner� foi o terceiro romance escrito pelo norte-americano John Williams (1922 � 1994), autor, editor e professor universitário, e originalmente publicado em 1965.
Um livro que foi injustamente ignorado e esquecido no tempo da sua edição, sendo resgatado pela escritora e tradutora francesa Anna Gavalda, amplamente divulgado pela revista New York Review em 2003, com a introdução (o Posfácio da edição portuguesa) de John McGahern, e merecidamente valorizado por escritores como Julian Barnes, Ian McEwan ou Bret Easton Ellis com elogios que acentuam a aclamação de uma obra brilhante.
Neste agrupar de notas soltas sobre “Stoner� há duas questões que suscitaram particularmente a minha atenção: o que é mais fascinante neste livro � a escrita de John Williams? ou a personagem de William Stoner?
Verificamos pela biografia de John Williams que poderá existir ou existirá uma génese autobiográfica na construção da história e no desenvolvimento da narrativa de “Stoner�; um livro com uma escrita luminosa, profundamente comovente, quase sempre emocional, e com uma simplicidade primorosa e em que se vai construindo a personagem de William Stoner, filho de agricultores, nascido numa quinta rural, perto da pequena aldeia de Booneville, Missouri, em 1981, um jovem que consegue fugir ao seu destino de agricultor, de trabalho duro e árduo, e que ingressa na Universidade de Columbia, com o propósito de adquirir os conhecimentos na área agrícola que lhe permitissem desenvolver e melhorar a sua actividade e o seu futuro.
Mas é numa aula obrigatória de Literatura Inglesa com o professor Archer Sloane quando questionado sobre um soneto de William Shakespeare, que Stoner fica sem palavras, imóvel e de olhos fixos no vazio, e decide de imediato desistir das cadeiras de Ciências Agrárias e matricular-se em Filosofia, História e Literatura Inglesa.
É com este acontecimento determinante e emblemático que o futuro de Stoner se conjuga, optando por tornar-se num professor universitário, cujo nome é para os colegas mais velhos “um lembrete do fim que os espera a todos e, para os mais jovens, é um mero som que não evoca qualquer noção de passado nem qualquer sentimento de identificação quer em termos pessoais, quer em termos de carreira.�
A vida de Stoner vai sendo marcada por uma sucessão de acontecimentos, dominados por uma timidez física e emocional, que vão condicionar dramaticamente as suas decisões e os seus comportamentos, determinados pelas suas angústias pessoais e profissionais, numa sucessão de alegrias e tristezas, de decepções e desapontamentos que acabam invariavelmente na mágoa e no desgosto.
O destaque e a importância que John Williams concede às inúmeras personagens secundárias � os amigos Dave Masters (morto em França) e Gordon Finch, aos colegas Archer Sloane e Hollis Lomax, ao aluno Charles Walker, e ao relacionamento conturbado com a sua mulher Edith e a sua amante Katherine Driscoll, e por fim à relação com a sua filha Grace na infância e na idade adulta � são absolutamente magistrais, e a subtileza com que consegue conjugar determinados acontecimentos e situações, alguns deles absolutamente inesperados, que vão mudando admiravelmente o sentido da narrativa, e que oscilam entre um humor dissimulado e comportamentos comoventes, acabando muitas vezes silenciados pela conjugação de um amor e um ódio inexplicáveis.
Um livro perfeito e confesso que adorei a escrita fascinante de John Williams e a personagem inesquecível de William Stoner�
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September 1, 2014
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September 3, 2014
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November 11, 2014
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November 13, 2014
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""Esse amor à literatura, à língua, aos mistérios da mente e do coração que se revelavam nas ínfimas, estranhas e inesperadas combinações de letras e palavras, na tinta mais negra e fria... esse amor que escondera como se fosse ilícito e perigoso começou ele então a mostrar, hesitantemente a princípio e depois com ousadia e, por fim, com orgulho.""
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104
November 13, 2014
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November 24, 2014
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December 28, 2014
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João Carlos
(last edited Nov 14, 2014 03:05AM)
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rated it 5 stars
Nov 14, 2014 02:49AM

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Tenho lá "O Quinto..." para ler...