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Um amor
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Sem o lado fantástico e absurdo de algumas das suas obras, o autor centrou-se desta vez num tema mais terreno e de inspiração inesgotável: o amor. Mas não o amor idealizado pelos românticos; perfeito, infinito, à prova de tudo.
É o amor de um homem na casa dos cinquenta que se apaixona por uma rapariga de vinte anos.
Laide: jovem prostituta, bailarina clássica no Scala, dançarina do inferno nas salas mal frequentadas das noites de Milão, modelo fotográfico não se sabe bem de quê.
Laide: o ar superior de quem sabe o dano que causa nos homens, a arrogância de quem sabe quando os têm na mão, o desdém de quem os despreza.
Para António é o renascer para a vida; uma vida que até ali era de solidão e tédio, sem sobressaltos, e que repentinamente sofre uma avalanche que o apanha desprevenido.
Em pouco tempo vê-se envolvido numa relação mirabolante pontilhada por mentiras e enganos, e é ver como um homem maduro se perde neste teia, incapaz de lidar com a realidade, preferindo abrigar-se em ilusões para não enfrentar a verdade.
A maneira como é enganado e explorado, a permanente suspeita sobre a conduta da amante e a forma desdenhosa como é tratado por ela, humilha-o, mas a dependência daquele amor doentio não permite ausências, e assim, engole o sofrimento e paga com dinheiro e orgulho por umas horas de atenção deficiente.
Mas o livro também nos mostra o outro lado da moeda; o das raparigas que se prostituem. Se se vendem é porque alguém as compra e se as compram é porque são jovens e bonitas. Se enganam e exploram os clientes é porque sabem que uma vez perdida a beleza serão esquecidas, afinal, nenhum deles as leva a conhecer a familia, ou lhes oferece um futuro digno.
O trunfo deste romance está precisamente em abordar um tema tão corriqueiro e transforma-lo numa passÃvel análise de sentimentos e comportamentos muitas vezes contraditórios.
É genial como Buzzati explora a fragilidade humana perante a solidão e a perda, a angústia com que se reconhecem as oportunidades perdidas, a impotência frente ao inevitável, e como tudo isto pode colocar-nos num patamar onde uma linha muito tenue separa o prazer da dor, a dignidade da humilhação, o amor do ódio.
De Buzzati só espero o melhor: escrita magnÃfica e histórias de arrebatar. Um Amor não desiludiu; só me apetece voltar atrás e lê-lo outra vez.
É o amor de um homem na casa dos cinquenta que se apaixona por uma rapariga de vinte anos.
Laide: jovem prostituta, bailarina clássica no Scala, dançarina do inferno nas salas mal frequentadas das noites de Milão, modelo fotográfico não se sabe bem de quê.
Laide: o ar superior de quem sabe o dano que causa nos homens, a arrogância de quem sabe quando os têm na mão, o desdém de quem os despreza.
Para António é o renascer para a vida; uma vida que até ali era de solidão e tédio, sem sobressaltos, e que repentinamente sofre uma avalanche que o apanha desprevenido.
Em pouco tempo vê-se envolvido numa relação mirabolante pontilhada por mentiras e enganos, e é ver como um homem maduro se perde neste teia, incapaz de lidar com a realidade, preferindo abrigar-se em ilusões para não enfrentar a verdade.
A maneira como é enganado e explorado, a permanente suspeita sobre a conduta da amante e a forma desdenhosa como é tratado por ela, humilha-o, mas a dependência daquele amor doentio não permite ausências, e assim, engole o sofrimento e paga com dinheiro e orgulho por umas horas de atenção deficiente.
Mas o livro também nos mostra o outro lado da moeda; o das raparigas que se prostituem. Se se vendem é porque alguém as compra e se as compram é porque são jovens e bonitas. Se enganam e exploram os clientes é porque sabem que uma vez perdida a beleza serão esquecidas, afinal, nenhum deles as leva a conhecer a familia, ou lhes oferece um futuro digno.
O trunfo deste romance está precisamente em abordar um tema tão corriqueiro e transforma-lo numa passÃvel análise de sentimentos e comportamentos muitas vezes contraditórios.
É genial como Buzzati explora a fragilidade humana perante a solidão e a perda, a angústia com que se reconhecem as oportunidades perdidas, a impotência frente ao inevitável, e como tudo isto pode colocar-nos num patamar onde uma linha muito tenue separa o prazer da dor, a dignidade da humilhação, o amor do ódio.
De Buzzati só espero o melhor: escrita magnÃfica e histórias de arrebatar. Um Amor não desiludiu; só me apetece voltar atrás e lê-lo outra vez.
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Um amor.
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December 16, 2014
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to-read
December 16, 2014
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December 16, 2014
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italia
April 1, 2015
–
Started Reading
April 4, 2015
–
38.89%
""...a verdadeira música está toda na saudade do passado e na esperança do amanhã(...) Depois vem o desespero do hoje, feito com um e com outro." Pág 97"
page
112
April 6, 2015
–
60.76%
""...quando alguém quer dar um ótimo presente a um amigo oferece-lhe um objeto de arte, um automóvel, um iate mas nunca lhe proporciona a oportunidade de possuir uma belÃssima pega, não a coisa que a todos mais agradaria...""
page
175
April 8, 2015
–
Finished Reading
November 2, 2017
– Shelved as:
bib-l
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message 1:
by
Hugo
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Apr 08, 2015 06:50AM

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Acabei encontrando numa das bibliotecas municipais e agora estou a morder-me por ter que o devolver:(

Acabei encontrando numa das bibliotecas municipais e agora estou a morder-me por ter que o devolver:("
Que sorte! Procurei-o pro todas as (incompletas e em pouco numero) bibliotecas da região onde vivo e naõ consegui encontrar em lado algum. Fico feliz que pelo menos alguém a encontrou e a apreciou tanto. Claro que fiquei com ainda mais vontade de ler o romance depois da tua critica...

Não encontrei edições da Ulisseia á venda, provavelmente só devem estar disponÃveis em algumas bibliotecas. Adoraria que a Cavalo de Ferro publicasse o romance, mas tenho dúvidas de que o venham a fazer uma vez que alguns dos livros do autor publicados pela editora estão actualmente esgotados ou indisponÃveis (o que me leva a crer que não vendem muito e por isso não serão muito boa opção financeira para a cavalo de ferro). Mas a esperança é a ultima a morrer e cá faço figas para que o venham a publicar.


Lamentavelmente, acontece-me com frequência andar atrás de edições de autores fantásticos que desapareceram do mercado. E depois olha-se para os escaparates e vê-se o que está em destaque...
Será assim tão difÃcil vender livros bons?!
Lembro-me da dificuldade que tenho tido em encontrar livros do Zola, por exemplo...

Lamentavelmente, acontece-me com frequência andar atrás de edições de autores fantásticos que desapar..."
A culpa infelizmente não é toda das editoras. O facto de a maioria dos leitores portugueses serem na sua maioria pouco aventureiros e seguirem quase exclusivamente como "bússola" de leitura a lista dos best-sellers internacionais e nacionais obrigam a que as editoras alterem os seus padrões e plano editorial para se manterem á tona. Não lhes censuro mas que é grande chatice, lá isso é...
Felizmente o Zola parece ser fácil de encontrar em bibliotecas, mas á venda só tenho encontrado edições em lÃngua inglesa e francesa - português nada feito...

Quanto às "culpas" podemos partilha-las, não vejo grande divulgação destes autores por parte das editoras; o Buzzati descobri-o aqui com vocês, e mais um punhado de magnificos pouco ou nada presentes nas prateleiras das livrarias.

Quanto às "culpas" podemos partilha-las, não vejo grande divulgação..."
Ainda não fui á biblioteca aqui da zona ver que edições do Zola têm, mas na base bibliográfica on-line indicam que têm varias das suas obras disponÃveis. Geralmente compro livros em vez de os requisitar, mas uma vez que não Encontro Zola á venda estou a pensar em ir buscá-los á biblioteca. Estas edições da Europa America são tramadas - não só as suas traduções deixam muito a desejar como também dão cabo dos globos oculares. Mas na falta de melhor, marcham :).
Não sei se o que as livrarias expõem é de algum modo determinado pelas tendências dos leitores, mas apostaria que sim. Mas poderiam realmente dedicar algumas secções da loja a autores de "melhor gabarito", por assim dizer. O facto é que, como tu, também fiquei a conhecer alguns dos meus autores favoritos através da internet e do pessoal aqui do Å·±¦ÓéÀÖ.