Teresa's Reviews > پá
پá
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پá foi o primeiro livro de contos escrito por Julio Cortázar. Lê-los exigiu-me um grande esforço de concentração para que não fosse uma leitura estéril. São histórias estranhas, com sentidos ocultos e sem finais claros, que apelam à imaginação e criatividade do leitor. Para falar sobre eles é-me irresistível não os acompanhar de imagens que ilustram, na minha visão, cada conto, ou partes.
Casa ocupada
Dois irmãos vivem numa casa grande e antiga, a qual, sala a sala, vai sendo ocupada, limitando-lhes o espaço, por "não sabemos quem".
Este é dos contos mais conhecidos de Cortázar e susceptível de variadas interpretações.
"Irene só se entretinha a bordar, exibia uma perícia maravilhosa e as horas voavam comigo a olhar para as suas mãos, que eram como ouriços prateados, as agulhas a ir e a vir e um ou dois cestos no chão, onde se agitavam constantemente os novelos. Era bonito.

(Grant Wood)
Carta a uma rapariga em Paris
Um homem escreve uma carta, enquanto vomita coelhos e tenta impedir que eles destruam a casa...
Um conto muito enigmático, com um final incómodo e surpreendente.
"...já não importa onde, se o quando é agora, se pode ser em qualquer agora dos que me restam."

(George Morland)
Distante
Uma mulher relata no seu diário as visões que tem do seu outro eu, ou da sua outra vida, ou...
"Quando abriu os olhos (talvez gritasse já), viu que se tinham separado. Agora sim gritou."

(Dora Maar)
Omnibus
Todos os passageiros do autocarro carregam flores, mas ela e ele não. São olhados com hostilidade, pelos outros, porque são diferentes...
"...e sobre o seu começo de sorriso poisavam, gelando-a, aqueles olhares atentos e contínuos, como se os ramos estivessem a olhar para ela."

(Frida Khalo)
Cefaleia
Um conto fantástico cujas personagens vivem numa quinta onde cuidam de mancúspias (seres criados por Cortázar) e sofrem de terríveis dores de cabeça.
"...voltamos à leitura como se tivéssemos a certeza de que está ali tudo, agora, onde alguma coisa viva caminha em círculos, uivando na direcção das janelas, nos nossos ouvidos, o uivar das mancúspias a morrer de fome."

(Stanley Spencer)
Circe
A viúva-negra mata o macho depois de acasalar. Delia antes...
"...baloiçando levemente o corpo ao arquejar, porque agora era quase um arquejo, quando Mario levou o bombom à boca, ia morder, baixava a mão e Delia gemia, como se a meio de um prazer infinito se sentisse de súbito frustrada."

(John William Waterhouse)
As portas do céu
Numa noite, entre casais entrelaçados que dançavam o tango, Mauro vê a sua amada regressar da morte, só por alguns instantes...
"Nada a limitava agora num céu só seu, entregava-se toda à felicidade e voltava a entrar na ordem em que Mauro a não poderia seguir."

(Frantisek Kupka)
پá
Uma casa onde habita um tigre que comanda os movimentos da família, enquanto duas crianças constroem um formigueiro cujo comportamento é similar ao da sociedade humana.
Um conto que exige muita atenção aos pormenores.
"...em plena escuridão, as formigas tinham estado a trabalhar. Viu-as de um lado para o outro, afadigadas, num silêncio tão visível, tão palpável. Trabalhavam lá dentro, como se ainda não tivessem perdido a esperança de sair."

(Salvador Dali)
پá é para ler...depressa...sem pressa...
Casa ocupada
Dois irmãos vivem numa casa grande e antiga, a qual, sala a sala, vai sendo ocupada, limitando-lhes o espaço, por "não sabemos quem".
Este é dos contos mais conhecidos de Cortázar e susceptível de variadas interpretações.
"Irene só se entretinha a bordar, exibia uma perícia maravilhosa e as horas voavam comigo a olhar para as suas mãos, que eram como ouriços prateados, as agulhas a ir e a vir e um ou dois cestos no chão, onde se agitavam constantemente os novelos. Era bonito.

(Grant Wood)
Carta a uma rapariga em Paris
Um homem escreve uma carta, enquanto vomita coelhos e tenta impedir que eles destruam a casa...
Um conto muito enigmático, com um final incómodo e surpreendente.
"...já não importa onde, se o quando é agora, se pode ser em qualquer agora dos que me restam."

(George Morland)
Distante
Uma mulher relata no seu diário as visões que tem do seu outro eu, ou da sua outra vida, ou...
"Quando abriu os olhos (talvez gritasse já), viu que se tinham separado. Agora sim gritou."

(Dora Maar)
Omnibus
Todos os passageiros do autocarro carregam flores, mas ela e ele não. São olhados com hostilidade, pelos outros, porque são diferentes...
"...e sobre o seu começo de sorriso poisavam, gelando-a, aqueles olhares atentos e contínuos, como se os ramos estivessem a olhar para ela."

(Frida Khalo)
Cefaleia
Um conto fantástico cujas personagens vivem numa quinta onde cuidam de mancúspias (seres criados por Cortázar) e sofrem de terríveis dores de cabeça.
"...voltamos à leitura como se tivéssemos a certeza de que está ali tudo, agora, onde alguma coisa viva caminha em círculos, uivando na direcção das janelas, nos nossos ouvidos, o uivar das mancúspias a morrer de fome."

(Stanley Spencer)
Circe
A viúva-negra mata o macho depois de acasalar. Delia antes...
"...baloiçando levemente o corpo ao arquejar, porque agora era quase um arquejo, quando Mario levou o bombom à boca, ia morder, baixava a mão e Delia gemia, como se a meio de um prazer infinito se sentisse de súbito frustrada."

(John William Waterhouse)
As portas do céu
Numa noite, entre casais entrelaçados que dançavam o tango, Mauro vê a sua amada regressar da morte, só por alguns instantes...
"Nada a limitava agora num céu só seu, entregava-se toda à felicidade e voltava a entrar na ordem em que Mauro a não poderia seguir."

(Frantisek Kupka)
پá
Uma casa onde habita um tigre que comanda os movimentos da família, enquanto duas crianças constroem um formigueiro cujo comportamento é similar ao da sociedade humana.
Um conto que exige muita atenção aos pormenores.
"...em plena escuridão, as formigas tinham estado a trabalhar. Viu-as de um lado para o outro, afadigadas, num silêncio tão visível, tão palpável. Trabalhavam lá dentro, como se ainda não tivessem perdido a esperança de sair."

(Salvador Dali)
پá é para ler...depressa...sem pressa...
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Entretanto, espreitei os teus livros e vi que não tens nenhum Cortázar. Acho que irias gostar, embora sejam contos e não leias muito disso. No entanto, gostei mais dos da colectânia "Todos Gostamos da Glenda". E há também "Rayuela" (uma das pedras no meu sapato...).

Mas como bem dizes, sou muito pouco de contos, não tenho paciência, apesar de ter comprado vários, de vários autores, sempre que vou escolher algo novo para começar, prefiro ir aos livros :) Acontece-me o mesmo no cinema, raramente vejo curtas e não vejo séries, deve ser algum desvio obsessivo :)

Tenho lá em casa este livrinho por ler numa edição de bolso antiga, mas o Cortázar traumatizou-me com a Rayuela... ;)



Ainda só li um Cortázar e reconheço a dificuldade que senti.Admiro quem o lê com frequência .



Cortazar cansou-me, não sei se algum dia lhe darei outra oportunidade...



O Ulisses foi a minha primeira aventura de leitura conjunta com a Carmo. Inesquecível...ambos.
E por falar nisso, Carmo: tenho a Montagem Mágica a ganhar bolor...

Mas não está esquecido...
Nem "A Queda", que já tinhamos programado e até é pequenito:)

Ulisses é uma experiência que fica para toda a vida!
O maior desafio de todos, quando se chega ao fim queremos-lhe como a um filho:)

Lá tenho eu de andar à pesca desse Winesburg, Ohio. Gosto de contos, mas é por fases da lua. Tchehkov é incontornável, li o primeiro volume dos seus contos publicados pela Relógio d'Água e gostei muito.
Nelson, posso aconselhar-te algo menos clássico, mas também muito bom? (a Teresa e a Carmo aprovam, quase de certeza) Lê os contos do Zivkovic do livro A Biblioteca. São contos relacionados com livros, e quase que aposto que vais gostar, mesmo sendo contos. ;)

Sandra obrigado pela dica já o tinha adicionado hás uns tempos, mas não sabia que era de contos :)

Sandra, eu ando em inquietação permanente: só hoje, já vi passar por aqui dois livros de que preciso muito! Um está esgotado, o outro por traduzir. Vida difícil a de um leitor obcecado...
Adorei!