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Despachos
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"Despachos" (1977) de Michael Herr é uma das obras sobre a guerra americana no Vietname mais citadas, o que dá conta do valor deste livro enquanto documento. O jornalista Michael Herr foi cobrir a guerra em 1967, com 27 anos, tendo passado lá 3 anos. Em 1977 publicou esta obra como testemunho direto do que lá passou. O mesmo testemunho que depois foi a base dos dois filmes mais importantes sobre o conflito � "Apocalypse Now" (1979) e "Full Metal Jacket" (1987) � nos quais participou na escrita dos guiões.
Dito isto, se como eu viveram o auge do cinema sobre o Vietname, nos anos 1980/90, e viram os dois filmes acima, e alguns dos filmes principais filmes dessa fase � "The Deer Hunter" (1978), "First Blood" (1982), "The Killing Fields" (1984), "Birdy" (1984), "Platoon" (1986), "Good Morning, Vietnam" (1987), "Hamburger Hill" (1987), "Casualties of War" (1989) "Born on the Fourth of July" (1989), "Jacob's Ladder" (1990), "Hearts of Darkness" (1991), Heaven & Earth (1993) � então dificilmente aqui encontrão algo que não tenham já conhecimento.
Naturalmente, isto devia ser visto ao contrário. Os filmes é que não trazem quase nada de novo face ao livro que precede todos estes filmes. Aliás, o único filme que precede o livro é o péssimo "The Green Berets" (1968) com John Wayne, que Herr muito bem aqui critica. Mas tenho de dizer que vivi muito de perto esta fase do cinema. Durante muitos anos "Apocalypse Now" foi o meu filme de sempre, tendo-o visto mais de 20 vezes. Por isso, ao ler apenas agora a obra de Herr, não consegui deixar de a contaminar com toda a minha experiência pessoal cinematográfica. O processo de leitura buscava recriar em mim algo que não conseguia deixar de repescar das memórias desses filmes.
Assim, a leitura acabou sendo bastante aborrecida, porque ausente de novidade, mas talvez pior, porque já não tenho 20 anos, tendo acabado a sentir todo o excesso de arrogância americana no discurso de Herr. Algo que era natural em todo esse cinema dos anos 80-90, mas que nessa altura eu aceitava bem. Hoje, e depois de ter lido obras como o belÃssimo "O Simpatizante" de Viet Thanh Nguyen ou a belÃssima novela gráfica "The Best We Could Do" de Thi Bui, em que nos é dado a ver o outro lado da guerra, não me consigo ligar mais a nada disto. O modo como Herr apresenta todo o descaramento e arrogância americana impressiona e afasta. Claro que sem todo esse sentimento, nunca teria sido possÃvel convencer o governo americano, e os seus contribuintes, a enterrar milhares de milhões de dólares naquela guerra, tal como estão agora a fazer na Ucrânia.
Mas como disse, este livro é um documento que vai continuar a ser lido por muitos e muitos anos sempre que alguém quiser tentar perceber o que se passou no terreno naquela guerra. Por isso a excelente tradução portuguesa do Paulo Faria, que veio tantos anos depois, apenas editado pela AntÃgona em 2019, continua a ser bastante relevante.
Publicado no VI:
Dito isto, se como eu viveram o auge do cinema sobre o Vietname, nos anos 1980/90, e viram os dois filmes acima, e alguns dos filmes principais filmes dessa fase � "The Deer Hunter" (1978), "First Blood" (1982), "The Killing Fields" (1984), "Birdy" (1984), "Platoon" (1986), "Good Morning, Vietnam" (1987), "Hamburger Hill" (1987), "Casualties of War" (1989) "Born on the Fourth of July" (1989), "Jacob's Ladder" (1990), "Hearts of Darkness" (1991), Heaven & Earth (1993) � então dificilmente aqui encontrão algo que não tenham já conhecimento.
Naturalmente, isto devia ser visto ao contrário. Os filmes é que não trazem quase nada de novo face ao livro que precede todos estes filmes. Aliás, o único filme que precede o livro é o péssimo "The Green Berets" (1968) com John Wayne, que Herr muito bem aqui critica. Mas tenho de dizer que vivi muito de perto esta fase do cinema. Durante muitos anos "Apocalypse Now" foi o meu filme de sempre, tendo-o visto mais de 20 vezes. Por isso, ao ler apenas agora a obra de Herr, não consegui deixar de a contaminar com toda a minha experiência pessoal cinematográfica. O processo de leitura buscava recriar em mim algo que não conseguia deixar de repescar das memórias desses filmes.
Assim, a leitura acabou sendo bastante aborrecida, porque ausente de novidade, mas talvez pior, porque já não tenho 20 anos, tendo acabado a sentir todo o excesso de arrogância americana no discurso de Herr. Algo que era natural em todo esse cinema dos anos 80-90, mas que nessa altura eu aceitava bem. Hoje, e depois de ter lido obras como o belÃssimo "O Simpatizante" de Viet Thanh Nguyen ou a belÃssima novela gráfica "The Best We Could Do" de Thi Bui, em que nos é dado a ver o outro lado da guerra, não me consigo ligar mais a nada disto. O modo como Herr apresenta todo o descaramento e arrogância americana impressiona e afasta. Claro que sem todo esse sentimento, nunca teria sido possÃvel convencer o governo americano, e os seus contribuintes, a enterrar milhares de milhões de dólares naquela guerra, tal como estão agora a fazer na Ucrânia.
Mas como disse, este livro é um documento que vai continuar a ser lido por muitos e muitos anos sempre que alguém quiser tentar perceber o que se passou no terreno naquela guerra. Por isso a excelente tradução portuguesa do Paulo Faria, que veio tantos anos depois, apenas editado pela AntÃgona em 2019, continua a ser bastante relevante.
Publicado no VI:
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Reading Progress
May 1, 2022
– Shelved
May 1, 2022
– Shelved as:
to-read
January 20, 2023
–
Started Reading
January 23, 2023
– Shelved as:
memoir
January 23, 2023
– Shelved as:
literary_canon
January 23, 2023
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Finished Reading
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Eu vi muito cinema ao longo da vida, durante anos quase não lia nem jogava, só via cinema. Mas na última década inverti um pouco o processo, e tenho dedicado mais tempo à leitura. São media próximas mas muito diferentes :)
Como agora vejo menos cinema, ainda não vi M3GAN, mas está na lista para ver :)

Hehehe yes, but these are only the ones I consider to have created some impression. In the final 1980s there were dozens of movies on Vietnam coming out every year.
Para mim, Birdy e O Caçador foram uma paulada na cabeça, mas não incluiria o "Killing Fields", que tem naturalmente outra sensibilidade, a europeia, e por ser sobre a guerra do Camboja, com outros contornos também,