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°ä´Ç°ù°ù±ð²õ±è´Ç²Ô»åê²Ô³¦¾±²¹ by Camille Claudel
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bookshelves: lermaismulher

Camille Claudel, uma Mulher uma Artista #2

Ela era a coxa, a maldita, Camille, a negra, a cadela!
Anne Delbée, A Paixão de Camille Claudel

A correspondência de Camille Claudel é, talvez, o texto mais poderoso e doloroso que li nos últimos anos. E assim se justifica que aquilo que começou por ser uma curiosidade e um complemento da leitura de A paixão de Camille Claudel, rapidamente se tenha transformado numa obsessão para descobrir a voz desta mulher tão trágica, como fascinante; forte, orgulhosa, honesta e trabalhadora.
Felizmente e infelizmente, nada traduz tão bem o desespero que foi a vida de Camille Claudel como as cartas que vai escrevendo ao longo da vida - e nem o infeliz hábito de destruir a correspondência que lhe chega, fazendo com que este seja um relato praticamente a uma voz, impede o retrato tão pungente e fiel.

A Florence Jeans
[outubro, 1888]
Tolero todos meus defeitos mas nem um pouco os dos outros.


Começando em meados da década de oitenta, estas cartas retratam a relação com Rodin (e desfazem dúvidas acerca do poder que Camille teria sobre o escultor) que se apequena perante a jovem a quem se declara:

Rodin a Camille Claudel
[1886]
Beijo suas mãos, minha amiga, você que me dá prazeres tão intensos, tão ardentes. Perto de você minha alma existe com força e, no furor de amor de minha alma, o respeito por você está acima de tudo. O respeito que tenho pelo seu caráter, por você, minha Camille, é a causa de minha violenta paixão. Não me trate impiedosamente. Peço-lhe tão pouco.
[...]
Ah! Divina beleza, flor que fala, e que ama, flor inteligente, minha querida.
Minha muito amada, de joelhos, diante de seu belo corpo que enlaço.


E para quem, depois da fuga de Claudel - para junto de Jessy Lipscomb, em Inglaterra -, um Rodin desesperado elabora um "contrato" de fidelidade. Se dúvidas houvesse, percebe-se bem quem precisa de quem:

Rodin a Camille Claudel
[outubro 1886]
Doravante, a partir de hoje, 12 de outubro de 1886, só terei como minha aluna a Senhorita Camille Claudel e a protegerei sozinha por todos os meios que tiver à minha disposição, por meus amigos que serão os seus, sobretudo por meus amigos influentes. Não aceitarei mais outras alunas para que não aconteça, por acaso, talentos rivais, ainda que eu ache que não se encontra, com frequência, artistas tão naturalmente dotados. Na exposição, farei o melhor que puder para a colocação de suas obras e divulgação nos jornais. Não irei mais sob nenhum pretexto à casa da Senhora... a quem não ensinarei mais escultura. Após a exposição, no mês de maio, partiremos para a Itália e ficaremos lá por, pelo menos, seis meses. Será o começo de uma ligação indissolúvel após a qual a Senhorita Camille será minha mulher. Ficarei muito feliz em poder oferecer uma figura de mármore se a Senhorita Camille quiser aceitá-la. Daqui a quatro ou cinco meses, no mês de maio, não terei nenhuma mulher, sem o que as condições serão rompidas.


Mas o herói destas cartas está longe de ser o amante (mentiroso) Rodin - embora ele figure recorrentemente nestas epístolas. Nelas, Camille revela a jovem mulher trabalhadora que era - nem sempre de sua própria obra:

A Florence Jeans
[8 novembro 1886]
Estive tão ocupada que não tive tempo de escrever-lhe um único bilhete. Trabalho agora com minhas grandes figuras maiores que o tamanho natural e tenho dois modelos por dia: mulher de manhã e homem à noite. Você imagina como estou cansada; trabalho regularmente 12 horas por dia, de 7 horas da manhã às 7 horas da noite. Ao voltar para casa, é impossível ficar de pé.

À senhora Leon Lhermitte
[1891]
Continuo trabalhando muito, no ateliê do senhor Rodin, em Vitor Hugo, Balzac, Charles Lorrain. Pode imaginar como estou ocupada. Disseram-me que faço progresso, pelo menos isso me consola, já que não trabalho para mim.


Outro traço que a sua correspondência revela é o de uma artista de força, orgulhosa e muitas vezes indignada com o tratamento que recebe...

Camille Claudel a Gustave Geffroy
[5 de novembro de 1895]
Felizmente, Çacountala se vingou fazendo desmoronar a escada do Museu (sem contar que quase esmagou toda a comissão!). Só um único membro achou que o grupo não era tão indescente quanto os outros pretendiam. Foi um padre, capelão militar do liceu!... Enquanto os outros escondiam o rosto, olhou a peça tranquilamente e lhes expôs a legenda. Sem ele, seria expulsa de Châteauroux por imoralidade!


...uma mulher a mãos com dificuldades monetárias...

Camille Claudel a Gabriel Mourey
[1899 ou depois?]
Senhor,
Sinto-me muito lisonjeada com a oferta que me fez, assim como o sr. Charpentier, de fazer parte de um círculo de artistas do qual são membros. Infelizmente, terei que privar-me deste prazer, não tendo meios de pagar uma cota tão alta...

Camille Claudel a Eugène Blot
[outono de 1904?]
...se não puder me comprar alguma coisa, trate de levar-me a um cliente. Tenho uma grande necessidade de dinheiro para pagar meu aluguel de outubro, sem o que vou ser novamente acordada, numa destas manhãs, pelo amável Adonis Pruneaux, meu oficial de justiça ordinário, que virá para me prender com sua delicadeza habitual. Inútil dizer-lhe que só poderá embargar a própria artista...

Camille Claudel a Auguste Rodin
[1896?]
Não pude ir onde me disse porque não tenho chapéu nem sapatos e minhas botinas estão totalmente gastas.


...mas sobretudo, uma mulher lutadora, uma artista na senda de se desassociar da influência nefanda do mestre:

Camille Claudel a Leon Gauchez
10 de junho de 1898
...lamento que não goste muito de minhas outras obras. Imaginava que as que expus este ano “Hamadryade�, em mármore e bronze, e “Profonde Pensée� eram de um espírito bem meu e que eu começava a escapar da influência de Rodin (esforcei-me muito para isso)[...] quanta energia é necessária para escapar de uma primeira e nefasta influência!
Ah! O Senhor tem razão em dizer que esse homem me fez mal!... e me fará ainda. O que queria é que eu dependesse sempre dele, por toda minha vida!

Camille Claudel a Léon Gauchez
[maio de 1899]
Asseguro-lhe que me liberei completamente da influência de Rodin. Há oito anos que não o vejo e, ainda que ele faça o impossível para saber de tudo que se passa em meu ateliê, não lhe dou atenção.


Mas como começa tudo isto? De onde vem esta necessidade arreigada de se provar uma artista de pleno direito? E porquê as dificuldades?
A relação de longa data com Rodin, entretanto exposta ainda na década de noventa, fez soar alarmes. Data desta altura o afastamento familiar, e uma tentativa mal alinhavada de tentar esconder aquilo que viriam a chamar um escândalo (escândalo da parte de Claudel, note-se; Rodin não sofreu do estigma, claro):

Maio, 1892 Louise Claudel [mãe de Camille] a Camille
...Irei, então, amanhã, quinta-feira, vê-la. Vou sair daqui às 9 horas e estarei em sua casa por volta das 11 horas e meia. Almoçaremos juntas e voltarei à noite.
Dê um jeito de ficar livre, mais ou menos ao meio-dia, e em sua casa na Avenida de Bourdonnais

Camille Claudel a Auguste Rodin
[junho de 1892]
Senhor Rodin,
Não venha aqui pois recebi esta carta. Evitemos os comentários.
No mais, vou bem obrigada.


Mas, rapidamente, o idílio se transfigura. Onde outrora Camille se impunha conciliadora, procurando ocultar uma paixão que cria benquista, agora há uma tentativa de afastamento. O discurso, outrora apaixonado, degenera num tom de ameaça de uma parte e de manipulação da outra:

Camille Claudel a [Auguste Rodin?]
[1895?]
Estarei no restaurante ao meio-dia.
O que lhe disse é totalmente verdade.
Tenha cuidado, não se aproxime do meu ateliê.

Auguste Rodin a Camille Claudel
Junho 1895
[...]somente a verei o estritamente necessário. Vê-la, asseguro-lhe, me assusta e me faz sofrer enormemente. A distância não me fez esquecer e não busco mais nada. Atenuar um pouco meu erro era o que queria. Embora doente, fiz o que podia e tenho esperança de ver meus esforços coroados, provavelmente por uma encomenda que seria sua afirmação diante do mundo e que lhe firmariam os colecionadores � os já amigos.
[...]Assim, faça este sacrifício para seu futuro e logo estará forte e não terá mais necessidade de ajudante.
Envio-lhe meus votos, não por sua glória já alcançada, mas para que a segurança de seus pensamentos e de seu trabalho seja garantida.
Seu devotado servo
Rodin


Este jogo é o que perdurará. Rodin, apesar de algumas tentativas de auxílio menos ignóbeis ao longo dos anos, não irá facilitar a vida da sua outrora protegida:

Camille Claudel a Mathias Morhardt
[setembro de 1896?]
[...]O Sr. Rodin não ignora que muitas pessoas maldosas já disseram que era ele que fazia minha escultura. Por que, então, contribuir ainda mais para que acreditem nessa calúnia? Se o Sr. Rodin quer realmente o meu bem, poderá fazê-lo sem deixar crer, por outro lado, que devo o sucesso das obras que realizo, com tanto esforço, aos seus conselhos e inspiração.

Camille Claudel a Maurice Guillemot
[após 28 de maio de 1899]
Li, com surpresa, seu relatório sobre o Salão no qual me acusa de ter-me inspirado num desenho de Rodin para minha Clotho. Não teria dificuldade em provar que minha Clotho é uma obra absolutamente original mesmo porque não conheço os desenhos de Rodin. Eu lhe mostraria que só tiro minhas obras de mim mesma. Tenho até ideias demais. O Senhor Rodin, que acusa os outros de copiá-lo, faria bem em não publicar precisamente neste jornal...

Camille Claudel ao sub-secretário de Estado de Belas-Artes
[4 de abril de 1907]
Muitas pessoas vieram me dizer, com
efeito: �- Se for ver Rodin, você obterá sua encomenda imediatamente, mas se não quiser vê-lo, vai ter que esperar ainda muito�.
Parece que tudo depende dele. Aliás, por várias vezes, ele se vangloriou de governar o Estado como queria e de ser mais poderoso que um ministro.
Assim, não tenho nenhuma chance de levar a termo minhas iniciativas pois recusei, categoricamente, vê-lo sabendo bem do que se tratava e quais são as razões que levam esse senhor a querer ver-me.
Tendo tentado, por todos os meios, apoderar-se de minhas diferentes ideias, diferentes esboços que quis obter e tendo encontrado em mim uma resistência obstinada, queria, pela força, pelo sofrimento com o qual ele sabe me destruir, forçar-me a lhe entregar o que queria ter. É sua maneira habitual de agir. Eis a infame exploração a qual é obrigado a se entregar este grande gênio para conquistar as ideias que lhe faltam.


A comunicação com Rodin, continuamente interrompida e retomada no decorrer dos anos seguintes, continua a denunciar traços pouco admiráveis do mestre:

Auguste Rodin a Camille Claudel
2 de dezembro de 1897
Fico triste vendo-a nervosa e a tomar um caminho que conheço, infelizmente. Sei que você tem o talento da escultura. Tem determinação, você é uma honesta e brava mulher na luta que enfrenta, admiravelmente, e que faz com que seja conhecida e admirada por todos. Não se incomode com os rumores e sobretudo, não perca seus amigos por implicância e capricho. Todo mundo ficará sob suas ordens, se você quiser. Não fale muito e continue trabalhando. Está conseguindo seu sucesso. Mas que ironia quando não se é feliz, esta coisa ilusória.
[...]E acredite, minha amiga, abandone sua personalidade forte de mulher que afastou pessoas de bons costumes. Mostre suas obras admiráveis. Existe justiça, acredite. Somos punidos e recompensados. Um talento como o seu é raro.


No entrementes, a saúde de Camille, vivendo provações e privações várias, vai cedendo. Com raríssimas encomendas e rendimentos insuficientes, esgotada e cada vez mais obcecada com a sombra de Rodin, várias vezes protela o término das suas obras. A figura omnipotente de Rodin começa a pairar de forma ameaçadora na sua vida:

Camille Claudel a Paul Claudel
[antes de 7 de dezembro de 1909?]
Mas o que é mais engraçado é que ele se permitiu expor, no outro ano, na Itália, uma obra que não era minha, assinada por mim e a qual mandou dar uma medalha de ouro para levar a ironia até o fim [...]. O patife se apodera de todas as minhas esculturas por diferentes caminhos e as dá a seus colegas, os artistas chiques que, em troca, lhe dão condecorações, ovações etc.
[...]
Como minha suposta vocação lhe rendeu!


Perante as suas tentativas de afirmação, e embora as evidências de abuso de poder por parte de Rodin (e não só), embora todas as injustiças perpetradas, mas sem justiça à vista, Camille resvala na paranóia. Na sua cabeça, eventos verídicos e místicos alternam, a realidade esbate-se pouco a pouco, e o papel de destaque cabe sempre ao outrora professor:

Camille Claudel a Léon Gauchez
[1900]
...só tenho um meio de vingar-me do sr. Rodin: expor boa escultura. Mas é preciso ter meios e como este velhaco faz com que me eliminem de todo lugar, será muito difícil que eu continue. Não o vemos, mas está por trás de tudo e aqueles que o atrapalham devem desaparecer pois este velho Satanás é de uma ambição sem freio e não admite rivais. Todos os meus colegas de ateliê tiveram belas encomendas do Estado, só eu que não obtive nada e o que fazer sem nenhuma proteção e com um inimigo desse porte.

Camille Claudel a Paul Claudel
[1909?]
Tremo pela sorte de “L’Age Mûr�, o que vai lhe acontecer, é incrível!
Se julgar pelo que aconteceu com as Causeuses, expostas em 1890. Desde aquele momento, diversos indivíduos a utilizam para fazer dinheiro. [...]Depois disso, La Petite Chaminé. Naquele ano, em toda Paris, só se via Chaminés com mulher assentada, de pé, deitada etc.
Com “Age Mûr� será igual. Eles vão, todos, fazê-la, uns após os outros. Cada vez que coloco um modelo novo em circulação, são milhões que rolam, para os fundidores, os moldadores, os artistas e os donos de galeria e para mim... 0 + 0 = 0.
[...]No ano passado, meu vizinho, um tal Picard (amigo de Rodin), irmão de um inspetor de segurança, entrou em meu ateliê com uma falsa chave. Havia na parede uma mulher de amarelo. Desde então, começaram a fazer várias mulheres de amarelo no tamanho natural exatamente iguais à minha que ele expôs, rendimento por baixo = 100.000 francos. A partir daí, todos fazem mulheres de amarelo e quando eu quiser expor a minha, farão a contrapartida e vão proibi-la. No mesmo dia, o tal Picard viu em meu ateliê um monumento que estava fazendo e o passou a seus bons colegas escultores, dividem como irmãos, entre franco-maçons.
[Na margem] Sou eu a ladra.

Camille Claudel a Henri Thierry
[1910?]
Estou sempre doente pelo veneno que tenho no sangue. Meu corpo queima. É o huguenote Rodin que manda me dar a dose, pois espera herdar meu ateliê com a ajuda de sua boa amiga, a senhora de Massary. É por causa da ação combinada desses dois velhacos que você me vê em tal estado.Antigamente, fecharam um acordo nos bosques de Villeneuve onde ele se comprometeu a mandar desaparecer comigo, a livrá-la de mim enquanto ela se comprometia a ajudá-lo a passar a mão nos meus trabalhos, à medida que os fizesse. Selaram esse negócio com beijos na boca e juraram amizade recíproca...


O desespero de Camille é evidente e compreensível. Aos 49 anos, autora de obras como A Valsa, A Idade Madura, Cloto, As Conversadoras, Abandono etc, etc, a artista ainda se debate com questões de autoria, notoriedade, encomendas... Depois de vários anos no limbo, 1913 marca o fim da sua carreira e liberdade:

Camille Claudel a [?]
[1913]
Segunda-feira passada, dois furiosos entraram em meu ateliê, no Quai Bourbon, agarram-me pelos cotovelos e me lançaram pela janela de meu apartamento num automóvel que me conduziu a uma casa de loucos. Ignoro meu endereço, se puder encontrá-lo, diga-me. Foi o Rodin que está se vingando de mim e que quer apossar-se de meu ateliê.


Daqui em diante, Camille torna-se acídula, quebrantada. O seu internamento é compulsivo (por ordem familiar), não lhe sendo facultada qualquer justificação para o mesmo. No ar uma promessa: seria libertada após a guerra. Mas o ano de 1918 chegará,1920, 1927...

Camille Claudel a Paul Claudel
3 de março de 1927
Daria 100.000 f se os tivesse para sair daqui imediatamente. Aqui não é meu lugar, no meio de tudo isso. Têm que me tirar deste ambiente. Após 14 anos, hoje, de uma vida igual, exijo a liberdade aos berros.


...1930...

Camille Claudel a Paul Claudel
[1932-1933?]
Meu caro Paul,
Devo esconder-me para lhe escrever e não sei como farei para colocar esta carta no correio. A camareira que, habitualmente, me presta esse serviço (a troco de gorjeta) está doente. As outras me denunciariam como uma criminosa.
Pois, diga-me, Paul, sua irmã está na prisão. Na prisão e com loucas que urram o dia inteiro, fazem caretas, são incapazes de articular três palavras sensatas.
Eis o tratamento que, há quase vinte anos, infligem a uma inocente.


Mas Camille não esquece por que luta:

Camille Claudel a Paul Claudel
3 de março de 1930
Parece que o principal beneficiário do meu ateliê é o tal Hébrard, editor de arte, rua Royale. Foi lá que todos os meus esboços foram devorados (mais de 300).
Parece que alguns anos antes de minha partida de Paris, os esboços que fazia em Vileneuve acabavam em suas mãos (por qual milagre? Só Deus sabe).
Encontrei alguns com ele editados em bronze e assinados por outros artistas. É realmente muito forte!... E condenar-me à prisão perpétua para que não reclame!
Tudo isso, no fundo, sai do cérebro diabólico de Rodin. Ele tinha um único pensamento: que, estando morto, eu levantasse voo como artista e que me tornasse mais que ele. Era preciso que me segurasse em suas garras após sua morte e durante sua vida. Tinha que ser infeliz, estando ele morto ou vivo.


Aquela que granjeou a admiração do escultor Antoine Bourdelle, dos críticos Gustave Geffroy, Mathias Morhardt (1° biógrafo de Claudel), do barão Alphonse de Rothschild (que lhe encomenda obras) e de Debussy (que conservará sempre consigo uma cópia de A Valsa), acabou encarcerada, como vil criminosa, por 30 anos.

Camille Claudel a Eugène Blot
[1905]
Teria feito melhor comprando belos vestidos e belos chapéus, que fizessem sobressair minhas qualidades naturais, do que entregar-me a minha paixão pelos monumentos duvidosos e os grupos mais ou menos rebarbativos.
Esta arte infeliz é feita mais para os barbudos e os imbecis do que para uma mulher relativamente bem favorecida pela natureza.


A 19 de outubro de 1943, morre em Montfavet onde (segundo ato de notoriedade) "se encontrava momentaneamente". Não há justiça possível, jamais.

Camille Claudel a Paul Claudel
[24 de maio de 1935]
Caí no abismo. Vivo num mundo tão curioso, tão estranho. Do sonho que foi minha vida, isto é o pesadelo.[...]
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Reading Progress

February 4, 2025 – Started Reading
February 4, 2025 – Shelved
February 4, 2025 –
page 13
5.39% "Caro amigo,
Fiquei irritada ao saber que você está doente de novo.Tenho certeza de que exagera nos malditos jantares, com aquelas malditas pessoas que detesto, que tomam seu tempo e saúde, sem nada lhe dar em troca. [.]reclama que não escrevo cartas mais longas mas você só me envia algumas linhas banais e indiferentes que não me satisfazem.
[.]Até lá, peço-lhe, trabalhe e guarde todo o prazer para mim.
[A Rodin,1886]"
February 5, 2025 –
page 124
51.45% "A propósito desse grupo [L� Age Mûr], tive uma cruel decepção, pois, depois de ter trabalhado nele durante três anos, o inspetor das Belas-Artes veio, fez um bom relatório mas, no momento de me pagar, respondeu-me que o orçamento estava esgotado e que não me pagariam mais.
Como sei que tenho inimigos na Direção, não insisti e meu grupo está lá.

Camille Claudel a Leon Gauchez
[dezembro de 1898]"
February 7, 2025 – Finished Reading
February 9, 2025 – Shelved as: lermaismulher

Comments Showing 1-4 of 4 (4 new)

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message 1: by David (new)

David One can certainly learn a lot from correspondence, Katya. Thanks for posting these, it really gives a snapshot of the artist.


message 2: by Katya (new) - added it

Katya I find myself increasingly drawn to memoirs and letters, David. They are truly impactful reads.
I'm glad you enjoyed these excerpts from Camille.


message 3: by Ana (new)

Ana Parece ser uma figura fascinante Katya! Lembro-me que também há um filme sobre ela com a Isabel Adjani se não me engano


message 4: by Katya (new) - added it

Katya Ana wrote: "Parece ser uma figura fascinante Katya! Lembro-me que também há um filme sobre ela com a Isabel Adjani se não me engano"

Era uma mulher interessantíssima e uma artista brilhante e pioneira, Ana!
Esse filme é uma adaptação deste livro, sim. E também há um outro sobre os 30 anos de asilo, com a Juliet Binoche, que só fiquei a conhecer depois destas leituras.


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