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Trem Quotes

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“Inferi que os demais passageiros perguntavam a si mesmos se aquilo de fato havia sido dito ou se imaginavam, se eram seus próprios demônios que também tinham fome dentro de suas cabeças ruidosas. E era como se pregássemos uma peça, nós dois, e fôssemos mais espertos do que o resto das pessoas naquele ±¹²¹²µÃ£´Ç, mais vívidos que seus rostos compenetrados de tédio, difusos, mal trabalhados. Depois me senti burro e inerte, porque estávamos todos juntos, afinal, no mesmo trem, indo para o mesmo lugar.

Ofereci o isqueiro para acender o cigarro que ela tirava do maço; me ocorreu que queria minha atenção. Falei que poderíamos cultivar uma horta, aonde iríamos, mas ela tratou como um devaneio, mais um. E riu com a ideia de me ver sujo, metido num macacão. Provoquei assegurando que dali em diante iríamos subir em árvores, sentar nas colinas ao pôr do sol, que andaríamos nus de galochas e que se calhasse, meu amor, ficaríamos loucos, discutindo pela janela e quebrando pratos, móveis, com estardalhaço para que todos escutassem e exclamassem baixinho, com medo de que a gente ouvisse: “Os loucos chegaram na cidadeâ€�, como se fôssemos vikings invadindo uma aldeia murada; ou “Os loucos da cidade chegaramâ€�, como se toda cidade precisasse de loucos e os encomendasse, e nós estivéssemos a caminho empacotados no ±¹²¹²µÃ£´Ç; ou então “Os loucos chegaramâ€�, como se fosse um detalhe que alguém diz só por dizer; ou apenas “Loucosâ€�, não mais que um resmungo, como se a cidade fosse louca também.”
Henrique Barreto, A horta