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Direito de Propriedade
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Misturando-me com as restantes pessoas, pensei se me considerava uma personagem feminina de 60 anos ainda por escrever, à espera da chegada das filhas no ´Flying Cat�. Ou será que me considerava uma personagem feminina de 60 anos que estava permanentemente a rescrever todo o argumento? Era essas duas mulheres ao mesmo tempo.
Quando comecei a ler Deborah Levy, com “Hot Milk�, achei a escrita dela tão fresca e jovial, que nunca suspeitei que tivesse, nessa altura, 57 anos. A verdade é que, como separo quase sempre a arte do artista, raramente procuro os dados biográfico dos autores, no entanto, devido às memórias que Levy tem publicado, sei agora bastante sobre ela e agrada-me muito aquilo que tem optado por revelar sobre o seu passado e o seu presente.
Muito daquilo que valorizo está claramente patente neste livro.
Amizade e companheirismo entre mulheres, mesmo as mais jovens.
Ela parecia muito bela e triste, por isso, para a tornar ainda mais triste, falei-lhe da caneta, da tinta cor de alfarroba, dos 'marrons glacés', do sabonete em forma de cigarra e do postal. Rimo-nos as duas de os presentes dela terem acabado no caixote do lixo.
Citações que dão que pensar.
"A verdade liberta-nos, mas primeiro enfurece-nos". (Gloria Steinem)
"Contaríamos toda a nossa vida, se partilhássemos a história de todas as partes que fechámos, que abrimos, as portas que gostaríamos de reabrir". (Gaston Bachelard)
Factos sobre referências culturais comuns.
Quando Cohen já estava doente, tinha escrito uma bela carta a Marianne, que estava a morrer � sobre como lhe parecia que ele a seguiria em breve. Se ela estendesse a mão, escreveu, conseguiria tocar na dele; desejava-lhe uma boa viagem e amava-a eternamente. Cohen, de idade avançada, fizera a longa viagem até essa carta. Podia ser a melhor coisa que ele tinha escrito, dirigida ao seu passado pessoal e mítico.
Em “Direito de Propriedade�, Levy fala-nos do seu desejo de sedentarismo ao adquirir a casa dos seus sonhos, mas mostra-nos em simultâneo o seu lado nómada como escritora, viajando até à Índia, passando uma temporada numa ilha grega e usufruindo de uma bolsa de estudos em Paris.
O único plano era a minha vila com a sua romãzeira, as mimosas, a lareira em forma de ovo de avestruz e o rio com o barco a remos chamado 'Sister Rosetta'. Não tinha um plano B, mas na vida precisamos de alguns planos B.
No terceiro volume da “Autobiografia Viva�, esta escritora sul-africana, que faz hoje 61 anos e só há pouco tempo começou a ter algum reconhecimento, prova que é culta sem exibicionismo, sensível sem sentimentalismo, irónica sem azedume e até engraçada, porque apesar de se levar a sério como escritora, consegue ver o lado ridículo de muitas situações.
Quando comecei a ler Deborah Levy, com “Hot Milk�, achei a escrita dela tão fresca e jovial, que nunca suspeitei que tivesse, nessa altura, 57 anos. A verdade é que, como separo quase sempre a arte do artista, raramente procuro os dados biográfico dos autores, no entanto, devido às memórias que Levy tem publicado, sei agora bastante sobre ela e agrada-me muito aquilo que tem optado por revelar sobre o seu passado e o seu presente.
Muito daquilo que valorizo está claramente patente neste livro.
Amizade e companheirismo entre mulheres, mesmo as mais jovens.
Ela parecia muito bela e triste, por isso, para a tornar ainda mais triste, falei-lhe da caneta, da tinta cor de alfarroba, dos 'marrons glacés', do sabonete em forma de cigarra e do postal. Rimo-nos as duas de os presentes dela terem acabado no caixote do lixo.
Citações que dão que pensar.
"A verdade liberta-nos, mas primeiro enfurece-nos". (Gloria Steinem)
"Contaríamos toda a nossa vida, se partilhássemos a história de todas as partes que fechámos, que abrimos, as portas que gostaríamos de reabrir". (Gaston Bachelard)
Factos sobre referências culturais comuns.
Quando Cohen já estava doente, tinha escrito uma bela carta a Marianne, que estava a morrer � sobre como lhe parecia que ele a seguiria em breve. Se ela estendesse a mão, escreveu, conseguiria tocar na dele; desejava-lhe uma boa viagem e amava-a eternamente. Cohen, de idade avançada, fizera a longa viagem até essa carta. Podia ser a melhor coisa que ele tinha escrito, dirigida ao seu passado pessoal e mítico.
Em “Direito de Propriedade�, Levy fala-nos do seu desejo de sedentarismo ao adquirir a casa dos seus sonhos, mas mostra-nos em simultâneo o seu lado nómada como escritora, viajando até à Índia, passando uma temporada numa ilha grega e usufruindo de uma bolsa de estudos em Paris.
O único plano era a minha vila com a sua romãzeira, as mimosas, a lareira em forma de ovo de avestruz e o rio com o barco a remos chamado 'Sister Rosetta'. Não tinha um plano B, mas na vida precisamos de alguns planos B.
No terceiro volume da “Autobiografia Viva�, esta escritora sul-africana, que faz hoje 61 anos e só há pouco tempo começou a ter algum reconhecimento, prova que é culta sem exibicionismo, sensível sem sentimentalismo, irónica sem azedume e até engraçada, porque apesar de se levar a sério como escritora, consegue ver o lado ridículo de muitas situações.
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July 23, 2021
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Started Reading
July 23, 2021
– Shelved
July 23, 2021
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9.38%
""...nem sabia como obter uma casa tão espectacular com os meus rendimentos precários. Ainda assim, incluí-a na minha relação de bens imaginários, juntamente com duas ou três outras propriedades imaginárias mais pequenas. (...) Apesar da lareira em forma de ovo, a minha casa situava-se obviamente num clima quente, perto de um lago ou do mar. Uma vida sem nadar todos os dias não era uma vida que eu quisesse.""
page
15
July 23, 2021
–
21.25%
"As chaves têm sempre algo de secreto e misterioso. São o instrumento para penetrar e abandonar, abrir e fechar, trancar e destrancar vários domínios desejáveis e indesejáveis. (...)
"Em certos aspetos", disse ele, "és igual à minha mulher. Ela também é obcecada por chaves. Exceto que ela é feliz e finge ser infeliz, e tu és infeliz e finges que és feliz.""
page
34
"Em certos aspetos", disse ele, "és igual à minha mulher. Ela também é obcecada por chaves. Exceto que ela é feliz e finge ser infeliz, e tu és infeliz e finges que és feliz.""
July 30, 2021
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30.63%
"Ela disse: "Só não percebo por que notivo queres uma casa no meio do nada. És uma pessoa cosmopolita, gostas de te vestir bem e de ir a festas, gostas de (...) casacos com gola de reboço como Sister Rosetta, aliás até tens as tuas melhores ideias quando estás no meio de muita gente, por isso o que te deixou assim tão rural? Quer dizer, és uma diva sempre foste." Ainda não lhe tinha falado dos lençóis de seda."
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49
July 31, 2021
–
40.0%
""Tem de se casar comigo", disse ele. "Sim, tem de Vir Viver Comigo nas colinas de Nova Deli, podemos plantar árvores juntos e pode fumar bidis".
Porque não experimentas? Sim, faz as malas e vive nas colinas de Nova Deli com o encantador de árvores.
A minha casa estaria rodeada por figueiras sagradas e ele encantaria os figos, encorajando-os a amadurecer em meados de abril, com uma segunda colheita em outubro."
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64
Porque não experimentas? Sim, faz as malas e vive nas colinas de Nova Deli com o encantador de árvores.
A minha casa estaria rodeada por figueiras sagradas e ele encantaria os figos, encorajando-os a amadurecer em meados de abril, com uma segunda colheita em outubro."
August 2, 2021
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53.13%
""Pensava em tudo isto, quando fiz a peregrinação para prestar a minha homenagem a Simone de Beauvoir no seu túmulo do Cemitério de Montparnasse, onde foi sepultada com Sartre. Até na morte ficariam para sempre ligados. Era um túmulo muito simples em arenito, cuja lápide estava coberta de beijos com batom vermelho.""
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85
August 4, 2021
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81.25%
""Decidi que se houvesse alguém a verificar a lista de convidados à entrada, eu diria que me chamava Elena Ferrante. Ou talvez dissesse que era Lila, que tinha desaparecido na obscuridade, mas que regressava brevemente para salgadinhos e cocktails em Bloomsbury, Londres.""
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130
August 6, 2021
–
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message 1:
by
David
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Aug 06, 2021 07:14AM

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Obrigada, áܻ徱. Espero que gostes desta autora quando a leres.


Que bom que ficaste interessada, Esther! Eu sou fã dela, por isso, sou tendeciosa. :-)

Eu comecei pelo primeiro da trilogia, Coisas que Não Quero Saber, mas entusiasmei-me quando saiu este e saltei o 2º, que também parece excelente, Susana, se quiseres acompanhá-la cronologicamente.