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Memórias Quotes

Quotes tagged as "ó" Showing 1-21 of 21
Machado de Assis
“Mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das ó antigas”
Machado de Assis, Dom Casmurro

José Luís Peixoto
“Doía-me a vida, doía-me a vida que em ti se negava, a vida a gastar-te, ainda que a amasses, a vida a derrubar-te, ainda que a amasses.”
José Luís Peixoto, Morreste-me
tags: dor, ó

Ondjaki
“Acho que as 𳾲ç são cócegas invisíveis que ficam dentro das pessoas.”
Ondjaki, AvóDezanove e o Segredo do Soviético
tags: ó

Afonso Cruz
“As ãs são as fiéis depositárias da nossa ԴâԳ, dos primeiros anos. As tuas ó mais importantes, mais formadoras, não são tuas, são dela. E quando a tua ã morrer, levará consigo a tua ԴâԳ, perderás os primeiros anos da tua vida. Por isso, trata-a bem.”
Afonso Cruz, Flores
tags: ԴâԳ, ó, ã

Stephen        King
“A escrita é algo maravilhoso e terrível. Ela abre poços profundos da memória que antes estavam selados”
Stephen King, Revival

Ben Oliveira
“O fio da nostalgia. Narrativas servem como espelhos, que nos levam a mergulhar nas ó.”
Ben Oliveira

“Você sabe o que dizem sobre escavar uma cova? [...] Você nunca encontra o que procura. O tempo come tudo... Roupas, valores, devora inclusive a esperança de nos entendermos com o passado”
Cesar Bravo, Ultra Carnem

Nina George
“Memórias são como lobos. Não se pode encarcerá-las e esperar que deixem você em paz”
Nina George, The Little Paris Bookshop
tags: lobos, ó

Khaled Hosseini
“Nos dias e semanas que se seguiram, Laila lutou freneticamente por gravar na memória o que acontecera a seguir. Tal como um amante de arte em fuga de um museu a arder, agarrava o que podia - um olhar, um sussusurro, um gemido - para o impedir de ser destruído, para o preservar. mas o tempo é o mais inexorável dos incêndios e, no final, ela não conseguiu salvar tudo”
Khaled Hosseini, A Thousand Splendid Suns
tags: ó

“Como pode? Como só algumas palavrinhas podem me fazer sentir tão mal? É como se um emaranhado pesado de ó viesse rolando em minha direção, como uma bola de neve pronta para me derrubar.”
Suzana dos Anjos Pereira, Não É Fácil Ser Você

Ben Oliveira
“As pessoas acham que os escritores escrevem para os leitores. Elas não se dão conta de como é terapêutico vomitar as ó, sonhos e ideias fixadas em nossos subconscientes.”
Ben Oliveira, Escrita Maldita

Bruna Vieira
“NOVOS (VELHOS) HOBBIES

Visitar a casa dos meus pais
e abrir um álbum de fotos da ԴâԳ
listar todas as coisas que eu amava fazer
e que, seja pelo motivo que for,
foram ficando de lado.

Eu dançava,
eu pintava,
eu tirava fotos para ninguém mais ver.

Percorro o caminho de volta
com o sentimento de que,
sempre que eu esquecer o que me faz feliz,
a resposta estará guardada ali.”
Bruna Vieira, Meu corpo virou poesia

Bernardo E. Lopes
“Alguma coisa ali poderia dizer algo sobre ele mesmo. De onde vinha aquela chama? Aquele rancor e a facilidade para se ressentir, a facilidade para não só gostar, mas para amar como se de tudo dependesse sua vida? Precisava de uma História. Precisava de alguma certeza sobre os porquês de si mesmo, uma certeza que fosse. Entender de onde vinha talvez fizesse doer menos. Precisava saber de sua verdade.”
Bernardo E. Lopes, Dona: um conto freudiano

Ana Cláudia Dâmaso
“Até aqui, já tinha percebido, tal como vocês, que provavelmente, a sua cabeça só apagava ou substituía ó demasiado difíceis de lidar. Cenas que a poderiam traumatizar ainda mais ou enfiá-la nesse buraco profundo que é a ã... Só que nunca tinha sequer pensado que as ó se alterassem tão rápido ou fossem trocadas por falsas recordações.”
Ana Cláudia Dâmaso, Não Vales Nada

Marques Rebelo
“1914. A grande ambição carnavalesca era usar lança-perfume. Havia tubos para crianças, finos como dedos. Bisnagava-se até cachorro!

Na terça-feira gorda, o chão da Avenida tinha um palmo de confetes, os préstitos eram o delírio do ouropel � clarins, marchas triunfais, fogos-de-bengala, caracolantes ginetes abrindo os cortejos � gato, baeta, carapicu! � bamboleantes sóis, planetas, constelações, Vulcano, Júpiter, Netuno, mitológicos deuses paralisados em gestos de sarrafo e papelão, giratórias esferas rutilantes que se abriam em gomos para desvendar, por instantes deslumbrados, deidades semi-nuas, atirando beijos, para a multidão comprimida, com a ponta dos dedos inatingíveis.

Saímos de tardinha, providos de farnel � sanduíches, pastéis, coxinhas de galinha � levávamos horas no bonde se arrastando aos arrancos, íamos postar-nos numa esquina propícia, sobre caixotes, para esperar o desfile de proverbial atraso.

Mas se a chama foliona se extinguia na cidade, entre missas, sinos e beatas, na manhã de quarta-feira, prolongava-se em nossa casa por muitos dias além com restos de serpentinas pendentes dos gradis, saldos de confetes tapizando sala de jantar, trono, capitel, concha ou nenúfar, donde Madalena reclinada, soberana, envolta em rotos filós de antigos cortinados, com as faces tingidas por carmim, os cabelos coroados por um desperdício de fitas, atirava em gestos longos cachoeiras de beijos para uma suposta multitude de súditos e adoradores. E a mim, dormido ou acordado, me perseguia incessante, priapística, a luxuriosa visão daquelas deidades apoteóticas, floração de um horto inacessível, habitantes olímpicas, deusas! deusas! pois como poder entrosá-las na fauna feminil que eu conhecia, mesmo a esterlina mulher de doutor Vítor, que era estrangeira e fumava?”
Marques Rebelo, O Trapicheiro

Marques Rebelo
“25 de dezembro [1940]

As luzes tão débeis das velinhas coloridas derretem a escura neve que a fieira dos dias acumula nos corações. Vera e Lúcio são como retratos do passado � o mesmo espanto, os mesmo gritos! E os olhos sentem que foram criados para o êxtase das bolas multicores, das estrelas brilhantes, dos brinquedos ricos ou pobres. O verde da Árvore é o verde da esperança. Invisíveis pássaros de paz fazem ninho nos ramos enfeitados. Poderemos ouvir os seus cantos de paz.

Perdão para os nossos inimigos, perdão para os nossos amigos, perdão para nós próprios. Gosto de amor na boca. Boca � espelho do coração”
Marques Rebelo, A Mudança
tags: 1940, ó, natal

Marques Rebelo
“21 de fevereiro [1939]

Hoje, terça-feira gorda, é o dia dos préstitos das grandes sociedades e, pelos anúncios de página inteira com evoés e versalhada, haverá muita alegoria estadonovista com subvencionados ouropeis, que os míopes poderão tomar como realidades estadonovistas. Que saiam! A estas horas já devem estar na rua, enguiçando nas curvas mais fechadas, com suas fanfarras, com suas encarapitadas deidades seminuas, que Aldina tão doidamente invejava, com seus fogos-de-bengala deixando acessos de tosse na esteira. Aqui permanecerei distante de tanta beleza. Um toque de incubada melancolia acordou comigo, comigo esteve o dia inteiro como uma dormência � refuguei a leitura, refuguei o rádio, a vitrola, a conversa, a visita dos amigos, dormitei quanto pude, entreguei-me sem resistência ao devaneio, algo doce, algo de prisioneiro, pescador à beira do escuro mar com cantos de sereias.

Luísa não compreende a súbita névoa, que a convivência é caixa perene de surpresas:

� Que é que você tem, filhotinho?

� Também não sei, querida. Também não sei.

E certamente estaria falando a verdade. Há verdades que se falam.”
Marques Rebelo, A Mudança

Marques Rebelo
“24 de fevereiro [1941]

Se o Carnaval vem desaparecendo das ruas,com mais curiosos do que mascarados, e às vezes sem nenhum dos dois, vai crescendo nos salões, onde impera uma certa licenciosidade que tende a aumentar uma certa brutalidade, ou talvez melhor dito, um certo estabanamento, que antes não se registrava nos ambientes fechados � é que o zé-povinho está vindo para eles.

Adonis insistiu, saímos para uma voltinha na Cinelândia, peruamos a entrada do Municipal, cujo baile de gala vem dando uma nota de elegância, e Gérson Macário entrava faustosamente fantasiado de odalisca, fomos até o Largo do Carioca, retornamos. Luísa ficara com as crianças na irrevogável ausência de Felicidade.

� Já voltaram?!

� Deu para cansar.

� Muito animado?

� Bastante chué.

� Aqui não passou nada. É como se não fosse carnaval”
Marques Rebelo, A Mudança

Marques Rebelo
“27 de dezembro [1936]

O presente mais lindo não é o mais caro, é o mais frágil � a caixa de cubos com os quais as mãozinhas inexpertas poderão formar um prado florido, dois cachorrinhos brincando, a galinha branca, orgulhosa dos pintainhos.

Há ainda a bola de sete cores como um arco-íris de borracha, a piorra cantadeira e o pelotão de chumbo pregado no papelão.

Paro um instante comovido � ah, a roda da vida, roda da vida rangente ou azeitada! Quando acordei, acordei general � trinta e seis soldadinhos me esperavam ao pé da cama, túnica azul, calça vermelha, baionetas em riste. As trincheiras foram abertas debaixo das begônias, as roseiras deixavam cair as pétalas sobre os heróis, todo o jardim sofreu com as batalhas delirantes, enquanto Madalena fazia comidinhas para a nova boneca e Emanuel folheava, no alpendre, o livro de gravuras de Rabier.

Deposito o último brinquedo com cuidado, não fosse despertá-las. Porejadas de suor, as crianças dormem. Na parede, como prego, dorme também o pernilongo, pesado de sangue que também é um pouco meu, apesar da incredulidade rancorosa de Mariquinhas.”
Marques Rebelo, O Trapicheiro

Marques Rebelo
“24 de dezembro [1941]

A áǰ, embora atarracada, não ocupa muito espaço � um canto de sala, o canto menos acessível, do qual foi removido o musgoso vaso com espadas-de-são-jorge, que alem de decorativas, segundo Felicidade, nos protegem do mau-olhado. O chacareiro queria um dinheirão por um pinheirinho de seis palmos, Luísa descalçou a bota na loja de novidades. Trouxe-a embrulhada em papel pardo como volumosa sombrinha, e armá-la foi uma operação fácil e divertida.

� Veja! � e Luísa exibiu-a, eriçada como um imenso paliteiro.

Meus olhos se anuviaram � as invenções deviam ter limites. A imitação infunde desprezo, mudo desprezo, a quem amou as áǰs do Trapicheiro, ardentemente esperou por elas e substituiu o amor e a espera pela saudade. É duma substância assim como o celulóide, lustrosa como escama de cobra, dum verde horripilante, com frutinhos vermelhos, na ponta dos galhos, que lembravam os olhinhos dos ratos-brancos, que Pinga-Fogo criava e trazia ao ombro, sob o nojo e a reprovação de Mariquinhas, tão artificial quanto o mito que propaga.

Não pus na sua ornamentação, bastante carregada, com um odioso cometa no cimo, os meus dedos descrentes, tão hábeis para respingar pela ramaria antiga as velinhas multicores, as lanterninhas, o algodão como se fosse neve. Deixei a tarefa para as mãos de Luísa e das crianças, neófitas aranhas, que alegremente se emaranhavam na teia de fios prateados que espalhavam pela galharia dura e simétrica.

Quando ficou pronta, e ao pé dela as crianças plantavam os ávidos sapatinhos, Luísa perguntou radiante:

� Não ficou linda?

(Não destruamos as ilusões dos amadores. Pelo menos algumas. Que culpa têm de que o tempo prático e mercantil ofereça um material tão reles e sem seiva?):

� Sim, está muito bonita.

� E serve para muito tempo!

(Ó desalentadora durabilidade!):

� É ótimo.

E a sensação me invade, não sei se de tédio ou de derrota.”
Marques Rebelo, A Mudança

Marques Rebelo
“24 de dezembro

A estrela da tarde está subindo no céu com o seu brilho mais puro. Um momento de ٰéܲs na crueza de nossas vidas!”
Marques Rebelo, O Trapicheiro